LINGUAGEM
 
DISTÚRBIOS ESPECÍFICOS E PERVASIVOS DE LINGUAGEM: MARCADORES LINGÜÍSTICOS, PSICOLINGÜÍSTICOS E PRAGMÁTICOS NO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Apresentação: Debora Maria Befi-Lopes


Os Distúrbios Específicos de Linguagem (DEL) são quadros diagnosticados pela manifestação exclusivamente lingüística, ou seja, a criança deve ter como principal característica o distúrbio de linguagem na ausência de qualquer outra manifestação que possa desencadeá-lo. Essa população é bastante heterogênea, as classificações em subtipos, tentam agrupar aqueles com manifestações semelhantes, baseadas em performance em testes de linguagem. A classificação mais difundida na literatura agrupa as crianças com DEL em seis subtipos – distúrbio da programação fonológica, dispraxia verbal, fonológico sintático, agnosia auditivo verbal, léxico sintático e semântico pragmático, caracterizando também, em cada um deles, se há comprometimento apenas de expressão ou de compreensão e expressão. As marcas lingüísticas mais comumente encontradas afetam os subsistemas fonético/fonológico, semântico e morfossintático, obviamente dependendo do subtipo de DEL apresentado.
A classificação em subtipos favorece a compreensão do quadro, mas nem sempre se pode garantir que será possível sua realização, uma vez que tais crianças, muitas vezes, não têm sequer oralidade para que se possa realizar a classificação na ocasião da avaliação da linguagem.
De toda forma, os fatores desencadeantes de tais quadros, tão heterogêneos, mas pertencentes ao mesmo espectro, ainda não estão claros, trabalhos recentes apresentam dados importantes na análise desses fatores, principalmente no que se refere aos aspectos do desenvolvimento cerebral, uma vez que as crianças com DEL não apresentam lesões cerebrais focais e a partir de ampla revisão sobre influências ambientais no desenvolvimento da linguagem, variações significativas no in put lingüístico têm poucos efeitos tanto na taxa de aprendizagem como na eventual competência de linguagem em crianças. Assim, é difícil encontrar quaisquer fatores ambientais que poderiam ser responsáveis pelo DEL, mas também não há qualquer base neurológica adquirida evidente.
De alguns anos para cá, muitos estudos em neuroimagem e outros sobre ativação cerebral foram realizados tanto em crianças com DEL como em seus pais, os achados caminham no sentido de demonstrar que o DEL está associado a desenvolvimento neurológico atípico em duas áreas fundamentais para a linguagem – Wernicke e Brocca. Os achados após avaliação tanto por neuroimagem como de linguagem nos pais, apontam para déficits residuais de linguagem em grande proporção deles, o que parece confirmar a natureza familial do quadro.
Entretanto, mesmo esses achados, estão distantes da perfeição, uma vez que muitas crianças com DEL não apresentam atipias cerebrais e muitas crianças normais sim. Parece então, que tais atipias devem ser consideradas como fatores de risco para o desenvolvimento do distúrbio, mas sua natureza, severidade e persistência, dependem, provavelmente, de fatores não biológicos, o que reforça a importância da descrição fenotípica, nesse sentido, a memória operacional fonológica, é considerada atualmente o melhor marcador psicolingüístico desses quadros, uma vez que a competência nesse aspecto não deriva de fatores ambientais que interferem diretamente no desenvolvimento da linguagem.
Em relação a uso funcional da comunicação, os estudos têm demonstrado que este tipo de alteração é uma constante nos casos de DEL, principalmente os mais graves, mas vem sendo considerada como decorrência das alterações de linguagem manifestadas.


Dados de publicação
Página(s) : p.212
URL (endereço digital) : http://www.sbfa.org.br/portal/suplementorsbfa