Código: PDL1680
MUDANÇAS FONOLÓGICAS EM SUJEITOS COM DIFERENTES GRAUS DE SEVERIDADE DO DEVIO FONOLÓGICO TRATADOS PELO MODELO DE OPOSIÇÕES MÁXMAS MODIFICADO
 
Autores: Tatiana Bagetti, Helena Bolli Mota, Márcia Keske-soares
Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
 
A terapia com base fonológica têm contribuído para um tratamento mais adequado do desvio fonológico (DF), pois sua aplicação tem favorecido a reorganização do sistema fonológico da criança por meio de mudanças fonológicas visando à generalização.
O Modelo de Oposições Máximas (Gierut, 1992) é uma abordagem de tratamento para o DF com base fonológica e tem como procedimento básico o contraste de duas palavras que diferem em apenas um fonema, os quais se diferenciam por vários traços distintivos. Bagetti, Mota & Keske-Soares (2005), modificaram este modelo ao introduzirem procedimentos fonológicos, recomendados na aplicação de modelos fonológicos, e comprovaram sua efetividade em um estudo de caso.
Diferentes variáveis já foram estudas em relação à escolha dos segmentos-alvo no Modelo de Oposições Máximas a serem contrastados no pares mínimos e sua efetividade na promoção de mudanças fonológicas. Uma variável importante levantada por Bagetti (2003) é o fato que os segmentos contrastantes em um par mínimo podem “contrastar” os valores dos traços que a criança tem dificuldade ou podem “reforçar” esses valores. Como não existem estudos que abordem esta questão, e que enfoquem as mudanças fonológicas ocorridas nos diferentes graus de severidade do DF após a aplicação do Modelo de Oposições Máximas, a presente pesquisa se propõe a realizar estas investigações. Este estudo teve como objetivo analisar e comparar as mudanças fonológicas ocorridas em crianças com diferentes graus de severidade do DF tratadas pelo Modelo de Oposições Máximas Modificado e verificar qual a maneira de abordagem dos traços distintivos nos segmentos-alvo (“contraste” ou “reforço”) conduz a maiores mudanças fonológicas.
O diagnóstico de DF foi realizado através de avaliações fonoaudiológicas e complementares. Os dados da fala dos sujeitos foram analisados através da aplicação da Avaliação Fonológica da Criança-AFC (Yavas, Hernandorena & Lamprecht, 1991). Após, foi calculado o Percentual de Consoantes Corretas-PCC (Shriberg & Kwiatkowsky, 1982) e os sujeitos foram classificados nos graus de severidade do DF: desvio severo (DS), moderado-severo (DMS), médio-moderado (DMM) e médio (DM). O grupo pesquisado foi constituído por sete sujeitos, quatro do sexo masculino e três do feminino (idades entre 3:10 e 6:9). Para o tratamento foi utilizado o Modelo de Oposições Máximas Modificado.
Após 20 sessões terapêuticas, aplicou-se novamente a AFC, calculou-se o PCC e analisou-se as mudanças fonológicas, referentes ao PCC, número de segmentos adquiridos e generalizações (a itens não-utilizados no tratamento, para outra posição da palavra, dentro de uma classe de sons e para outras classes de sons). Foram analisadas as mudanças fonológicas, pré e pós-tratamento, sem considerar a forma de apresentação do estímulo e considerando-se a forma de apresentação do estímulo (“contraste” e “reforço”) e analisado se houve diferença estatisticamente significante (Teste Não Paramétrico Wilcoxon, p<0,05). Foi realizada uma comparação das mudanças fonológicas entre os diferentes graus de severidade do DF sem considerar a forma de apresentação do estímulo e considerando-se a forma de apresentação do mesmo. Em seguida, foram analisadas as mudanças fonológicas dentro de cada grau de severidade do DF, sendo um sujeito tratado pelo “contraste” e outro pelo “reforço”. Também foram analisadas as mudanças fonológicas entre o grupo de sujeitos tratados pelo “contraste” e o grupo tratado pelo “reforço”, e observado se houve diferença estatisticamente significante (Teste Kruskal-Wallis, p<0,05) entre eles.
Verificou-se que, após a terapia, no grupo total pesquisado, todos os sujeitos apresentaram mudanças em seus sistemas fonológicos, e estas foram estatisticamente significante (PCC e número de segmentos adquiridos: p=0,017; generalizações a itens não-utilizados no tratamento: p=0,005; para outra posição da palavra: p=0,007; dentro de uma classe de sons:p=0,006 e para outras classes de sons:p=0,0009). O modelo de Oposições Máximas Modificado foi efetivo no tratamento de sujeitos estudados. Comparando-se as mudanças fonológicas entre os grupos, observou-se que houve um maior aumento do PCC e do número de sons adquiridos no grupo com DMS e todas as generalizações foram mais expressivas nos grupos com DMM e DMS, ou seja, as maiores mudanças fonológicas ocorreram nos graus de severidade intermediários. Os sujeitos com DS foram estimulados através de formatos de tratamento que, segundo a hierarquia de mudança fonológica, (Gierut, 1992), levam a maiores mudanças fonológicas, enquanto que os demais sujeitos foram tratados através de formatos que levam a mudanças fonológicas intermediárias. No entanto, os sujeitos que apresentaram maior generalização não foram os com DS e sim os sujeitos com DF intermediário. Este resultado pode ter ocorrido porque os sujeitos com DS podem ter menor conhecimento fonológico, enquanto que os sujeitos com DMM e DMS podem ter maior conhecimento fonológico e conseqüentemente, maiores as possibilidades de realizar mudanças fonológicas, com a terapia.
Em relação a análise das mudanças fonológicas, nos diferentes graus de severidade do DF, tratados pelo “contraste”, observou-se que houve aumento no PCC e no número de sons adquiridos, mas este aumento não foi estatisticamente significante (p=0,067). Apresentaram evolução estatisticamente significante em relação às generalizações a itens não-utilizados no tratamento (p=0,027), para outra posição da palavra (p=0,042), dentro e para outras classes de sons (p=0,017). Realizando-se uma comparação entre os grupos, observou-se que as maiores mudanças fonológicas (aumento do número de fonemas adquiridos, generalização a itens não-utilizados no tratamento, para outra posição da palavra e dentro de uma classe de sons) ocorreram nos grupos com graus de severidade intermediários (DMS e DMM). Estes sujeitos foram estimulados através de alvos de menor mudança fonológica, de acordo com a hierarquia proposta por Gierut (1992).
Quanto as mudanças fonológicas, nos diferentes graus de severidade do DF nos sujeitos tratados pelo “reforço”, observou-se que houve evolução com a terapia, sendo que esta foi estatisticamente significante em relação a generalização para outras classes de sons. Este grupo também apresentou evolução em relação ao PCC (p=0,108), número de segmentos adquiridos (p=0,108) e generalizações a itens não-utilizados no tratamento (p=0,67), para outra posição da palavra (p=0,67), dentro de uma classe de sons (p=0,126), mas esta não foi estatisticamente significante. Comparando-se os grupos, verifica-se que as mudanças fonológicas foram um pouco maiores para o sujeito com DS (maior aumento do PCC e generalização para outras classes de sons), em comparação com os sujeitos com DMM e DM. O sujeito com DMM foi tratado com alvos através do nível de mudanças fonológicas intermediárias (Gierut, 1992), enquanto que o sujeito com DS foi tratado através do nível de maior mudança fonológica. Este achado está de acordo com as previsões de mudanças fonológicas propostas por Gierut (1992).
Comparando-se as mudanças fonológicas no grau severo, observa-se que, para o sujeito tratado pelo “reforço”, estas foram maiores (número de segmentos adquiridos, generalização para outra posição da palavra e para outras classes de sons). Ambos os sujeitos foram tratados através de alvos do nível de maior mudança fonológica, de acordo com a hierarquia de Gierut (2001) e ambos apresentaram mudanças locais (generalizações para outras palavras e para outras posições da palavra) e globais em seus sistemas (generalização dentro e para outras classes de sons), no entanto as mudanças fonológicas, foram um pouco maiores para o sujeito tratado pelo “reforço”.
Comparando-se as mudanças fonológicas no grau médio-moderado, observa-se que o sujeito tratado pelo “contraste” apresentou maiores mudanças fonológicas (aumento do PCC, generalização a itens não-utilizados no tratamento e dentro de uma classe de sons). Em relação aos níveis de mudanças fonológicas previstas na hierarquia de Gierut (1992), ambos os sujeitos foram tratados através do nível de mudanças fonológicas intermediárias.
Comparando-se os resultados dos sujeitos com DM, observa-se que o sujeito tratado pelo “reforço” apresentou maiores mudanças fonológicas (PCC e número de segmentos adquiridos).
Em relação as mudanças fonológicas entre os grupos, os sujeitos tratados pelo “contraste” e os sujeitos tratados pelo “reforço” apresentaram evoluções praticamente semelhantes em relação ao aumento do PCC e ao número de segmentos adquiridos. No entanto, os sujeitos tratados pelo “contraste” apresentaram maior generalização a itens não-utilizados no tratamento e dentro de uma classe de sons, mas esta diferença não foi estatisticamente significante. Enquanto que, os sujeitos tratados pelo “reforço” apresentaram maior generalização para outra posição da palavra e para outras classes de sons, mas esta diferença também não foi estatisticamente significante. Este resultado indica que, tanto a abordagem pelo “contraste”, quanto a abordagem pelo “reforço” foram efetivas no tratamento do DF, pois ambas têm como princípio fundamental enfocar em terapia os traços distintivos que a criança tem dificuldade. Também sugere, que talvez algumas generalizações possam ser mais significativas utilizando uma ou outra abordagem dos traços distintivos.

Com esta pesquisa, pôde-se concluir que:
- o grupo total pesquisado obteve mudanças fonológicas após a aplicação do Modelo de Oposições Máximas Modificado;
- as mudanças fonológicas nos sujeitos com diferentes graus de severidade do DF foram maiores nos grupos intermediários (DMS e DMM);
- as mudanças fonológicas nos sujeitos com diferentes graus de severidade do DF tratados pelo “contraste” foram maiores nos grupos intermediários e nos sujeitos tratados pelo “reforço” no grupo severo.
- as mudanças fonológicas no grau severo e médio foram maiores para o sujeito tratado pelo “reforço” e no grau médio-moderado, para o sujeito tratado pelo “contraste”;
- comparando-se o grupo de sujeitos tratado pelo “contraste” e o grupo tratado pelo “reforço”, verificou-se que, ambos apresentaram mudanças fonológicas, não havendo diferenças entre eles.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAGETTI, T. Estudo da generalização em sujeitos com desvio fonológico médio-moderado submetidos ao modelo terapêutico de Oposições Máximas. 2003. 141f. Monografia (Especialização em Fonoaudiologia) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2003.

BAGETTI, T., MOTA, H. B.; KESKE-SOARES, M. Modelo de Oposições Máximas Modificado: uma proposta de tratamento para o desvio fonológico. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, v. 10 n. 1, p- 36-42, 2005.


GIERUT, J. A. The conditions and course of clinically-induced phonological change. Journal of Speech and Hearing Research. Bloomington, v. 35, p.1049-1063, 1992.


HERNANDORENA, C. L. B.; LAMPRECHT, R. R. A aquisição das consoantes líquidas no Português. In: Revista Letras de Hoje. Porto Alegre, v. 32, n. 4, 1997.

SHRIBERG, L. D.; KWIATKOWSKI, J. Phonological disorders I: A diagnostic classification system. Journal of Speech and Hearing Disorders. v. 47, p. 226-241, 1982.


YAVAS, M. ; HERNANDORENA, C.L. M.; LAMPRECHT, R. R. Avaliação fonológica da criança: reeducação e terapia. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. 148p.
 
Contato: helena@infoway.com.br
 

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