A EMISSÃO DO LAUDO AUDIOLÓGICO: CONTROVÉRSIAS |
Teresa M. Momenshon Santos
Palestrante |
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O propósito de um laudo audiológico é a interpretação, não a mera repetição dos resultados dos testes auditivos. Mais especificamente, os objetivos de um bom relatório são interpretar para quem encmainhou ou solicitou o exame, os resultados dos testes; fazer recomendações baseadas nos resultados dos testes e prover registros claros e apurados no prontuário do paciente. A forma e a natureza exatas de um relatório variará de acordo com as circunstâncias: se o examinador – fonoaudiólogo, está apenas realizando uma avaliação, ou, se, assumiu a responsabilidade pela orientação ao paciente. Independentemente da forma como o registro é apresentado, existem alguns requisitos para se obter um bom relatório: os resultados devem ser interpretados brevemente, claramente e apuradamente. A terminologia deve ser em um nível que seja compreensível para quem solicitou o exame. Recomendações apropriadas devem ser incluídas.
Em um laudo ou relatório audiológico, as seguintes informações devem ser contempladas: informações sobre a identificação do paciente; fonte e motivo do encaminhamento; história; comportamento do paciente durante o teste; descrição da audição baseado na bateria de testes auditivos; descriçãod e testes especiais; recomendações.
A interpretação da bateria de testes audiométricos requer a compreensão dos propósitos dos testes envolvidos, como são administrados e o que significam. Requer o conhecimento sobre os asepctos auditivos e não-auditivos que se combinam para determinar a quantidade de handicap resultante da perda auditiva e os meios que são viáveis para reduzir este handicap. É necessário saber como classificar o tipo de perda auditiva segundo o tipo, a magnitude e a configuração.
A estimativas dos problemas e da potencialidade da reabilitação associada com o deficit de discriminação deve tambémser analisada. A análise dos resultados deve ser feita de forma a mostrar ainter-relação entre os resultados dos testes, de forma a assegurar a validade da avaliação e o que toda a informação obtida seignifica em termos das necessidades e potenciais do paciente.
Para Cronbach (1996) um teste é um procedimento sistemático para observar o comportamento e descrevê-lo com a ajuda de escalas numéricas ou categorias fixas. Um teste é considerado padronizado quando as palavras e os atos do examinador, o aparelho, e as regras de avaliação e de interpretação forem fixados, de modo que os resultados coletados em momentos e lugares diferentes são inteiramente comparáveis.
Na audiologia, diversas instituições internacionais recomendam o uso de critérios uniformes para interpretar a curva audiométrica determinando o grau e o tipo da perda auditiva, e a configuração audiométrica. O uso de uma terminologia comum permite aos profissionais analisarem os resultados de exames a partir dos mesmos princípios e fundamentos.
A análise do grau da perda auditiva nos permite uma previsão das dificuldades que um paciente apresenta em relação aos estímulos de fala, portanto o grau da perda auditiva não pode ser fruto de respostas isoladas de freqüência.
A grande discussão que ococrre na fonoaudiologia brasileira diz respeito ao uso do termo “perda auditiva”. Quando e como deve ser usado? No meu entender, é muito estranho e acredito até que deturpado, descrever com perda auditiva quando o exame audiométrico mostra que a pessoa tem audição de grau normal. A literatura tem sido pródiga quanto ao conceito que os leigos tem a respeito da audição, Martin e Clark (1996) já diziam que para as pessoas em geral, ou você ouve ou você é surdo! Isto pode significar que quando descrevo uma avaliação audiológica e classifico-a como : perda auditiva de grau......, do tipo condutiva/neurossensorial ou mista, e de configuração .............; estou afirmando que esta pessoa está apresentando um quadro audiológico que a faz ter dificuldades de comunicação, ou seja, algum grau de handicap.
No meu entender, analisar ou descrever a audiometria tonal, deve obedecer aos dados encontrados no exame, sem que sejam permitidas interpretações, mal feitas.
A classificação do tipo de perda auditiva encontrada deve ser feita, observando- se os valores de via óssea, e de via aérea. Quando uma perda auditiva está presente os testes de condução aérea indicam redução na sensibilidade auditiva. Os limiares de via óssea são obtidos quando os testes de condução aérea indicam redução da sensibilidade já que este procedimento permite uma medida direta da sensibilidade da orelha interna. A comparação entre os limiares de condução aérea e condução óssea estabelece a localização, no sistema nervoso periférico, do problema que está causando o problema auditivo. É importante lembrar que existem transtornos auditivos que não se caracterizam por alteração da sensibilidade auditiva,e, que devem ser também valorizados no momento da emissão do laudo audiológico. Em outras palavras, o tipo de perda auditiva pode ser estabelecido.
Segundo (Silman ; Silverman ,1997) a análise dos limiares obtidos na viaáerea e na via óssea de cada orelha, poderão indicar em que local o problema está ocorrendo, e dessa forma poderão ser classificados como: condutivo, quando a via óssea apresentar limiares tonais ≤15 dB NA e de via aérea ≥26 dB NA; misto, quando a via óssea apresentar limiares tonais ≥ 15 dB NA e de via aérea ≥26 dB NA com gap ≥ 15; neurossensorial quando a via óssea apresentar limiares tonais ≥ 15 dB NA e de via aérea ≥26 dB NA com gap ≥ 10).
A classificação da magnitude da perda auditiva, necessita obedecer algum parâmetro para dessa forma representar o grau de influência sobre a comunicação que a alteração de sensibilidade auditiva produz. Devido à grande quantidade de informação que é perdida neste processo de abstração, torna-se difícil generalizar com grande fidelidade quais os prováveis efeitos de uma perda auditiva de um determinado grau ou, mesmo, sobre os efeitos de uma perda auditiva unilateral ou de limiares alterados em freqüências altas. O procedimento mais usado ,na clínica audiológica, nacional e internacional, diz respeito à classificação do grau de perda a partir da média dos limiares aéreos das freqüências de 500, 1000 e 2000 Hz (média tritonal). IO uso deste procedimento permite a classificação da magnitude do problema em cada orelha isolada e também o impacto geral que esta alteração de sensibilidae provoca no indivíduo. Diversas são as propostas de classificação do grau ou magnitude do problema auditivo de um paciente. É importante enfatizar, que o parâmetro mais usado no Brasil é o proposto por Lloyd e Kaplan em 1978, que estabelece os seguintes graus: Normal – média tritonal até 25 dBNA; Leve – média tritornal entree 26 e 40 dB NA; Moderada – média tritonal entre 41 e 55 dB NA; moderadamente severa – média tritonal entre 56 e 70 dB NA; severa- média tritonal entre 71 e 90 dB NA e profunda – média tritonal acima de 90 dB NA. O examinador precisa informar em seu relatório ou laudo qual o critério de classificação está usando, pois não há unanimidade nesta questão.
A análise da configuração audiométrica é feita a partir do traçado da via aérea e permite descrever o audiograma de forma que possamos visualizar este traçado: ascendente, descendente leve, descendente abrupta, descendente em ski, horizontal, entalhe, em U, em U invertido, são alguns dos nomes que usamos para padronizar esta descrição.
Ao padronizarmos a nomenclatura e os critérios de classificação ganharemos em credibilidade e confiabilidade junto a todos os profissionais que utilizam os nossos serviços.É importante lembrar que a eficiência da comunicação depende do domínio dos códigos utilizados.
Cronbach,L.C. – Fundamentos da testagem psicológica. 5a. ed. Porto Alegre, Art MED, 1996
Martin,FN; Clark,JG - Hearing Care for Children. Boston,USA. Allyn and Bacon, 1996
Momensohn-Santos, TM ; Russo, ICP – A prática da audiologia clínica. 5ª. ed. São Paulo, Editora Cortez, 2005
Silman,S; Silverman,CA Auditory diagnosis: principles and applications. SanDiego, Singular Publishing Group, 1997
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