Código: PPL1666
A LINGUAGEM EXPRESSIVA DE CRIANÇAS NASCIDAS PRÉ-TERMO E TERMO NO TERCEIRO ANO DE VIDA
 
Autores: Selma Mie Isotani, Márcia Regina Marcondes Pedromônico, Jacy Perissinoto
Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO - ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA
 
Introdução:

O parto prematuro (OMS, 1997) vem sendo descrito nos últimos anos como de alto risco para outros acometimentos como baixo peso ao nascer, asfixia, tempo prolongado de internação, infecções, entre outros, também consideradas de risco para o desenvolvimento infantil. Desta forma, a criança nascida pré-termo encontra-se em condição de risco múltiplo para manifestar alterações no seu desenvolvimento, comprometendo a qualidade de vida futura.

A Linguagem é considerada uma componente importante no desenvolvimento humano e está intimamente relacionada à capacidade do indivíduo de sociabilização e sucesso acadêmico e profissional.

Os estudos sobre o desenvolvimento da Linguagem de crianças em condições de risco, como os prematuros (Isotani e cols., 2001; Vazquez, 2002) , vem suscitando preocupação, uma vez que apontam para uma defasagem neste processo, desde a infância até a idade adulta (Hack e cols., 2002).

Alterações na linguagem expressiva vêm sendo comumente relatadas, permitindo observar o desenvolvimento da linguagem por meio do vocabulário e da extensão frasal. Tais parâmetros têm se mostrado eficazes na detecção de atrasos e distúrbios.

Assim, é de fundamental importância medidas de intervenção que promovam o adequado desenvolvimento da Linguagem, a fim de minimizar prejuízos no decorrer de sua evolução.

Objetivo:

Comparar o desenvolvimento da Linguagem expressiva considerando a extensão frasal utilizada por crianças, nascidas pré-termo e termo, no terceiro ano de vida. Foi de interesse verificar a incidência de atrasos e comparar o desempenho de prematuros e nascidos a termo no que se refere à extensão frasal, verificando a associação de condições adversas ao nascimento, além de condições circunstanciais da criança.

Métodos:

Participaram do estudo: O grupo pré-termo (GPT) constituído por 58 crianças nascidas pré-termo com peso inferior a 2000 gramas no Hospital São Paulo e Vila Maria e acompanhadas em consultas periódicas por equipe multiprofissional na Casa do Prematuro – UNIFESP. O grupo termo (GT) constituído por 60 crianças nascidas termo e atendidas no serviço de Puericultura do Centro de Saúde Vila Mariana e na Escola Paulistinha de educação Infantil. Os grupos foram divididos quanto à idade em 2 faixas etárias: F1 de 24 a 30 meses e F2 de 31 a 36 meses.

As informações do GPT quanto às condições de nascimento foram coletadas dos prontuários médicos das crianças, enquanto que do GT foram coletadas diretamente em entrevista com os pais/cuidadores.

Para avaliação da Linguagem expressiva foi utilizada a LAVE – Lista de Vocabulário Expressivo (Capovilla e Capovilla, 1997), uma adaptação para o português da LDS – Language Development Survey (Recorla, 1989). O objetivo da LAVE é detectar alterações da Linguagem por meio da avaliação da emissão oral. É composta por uma lista de 307 palavras divididas em 14 categorias semânticas, escolhidas com base no estudo do desenvolvimento lexical e consideradas de alta freqüência; e de opções de marcação da realização de frases e da extensão máxima das frases. Desta forma, os pais/cuidadores devem assinalar as palavras que a criança fala no seu cotidiano além de informar se a criança é capaz de produzir frases e de quantas palavras. Rescorla (1989) propôs como critério para classificação de atraso de Linguagem, a produção de menos de 50 das 307 palavras apresentadas na LAVE e a não realização de justaposição de palavras aos 2 anos de idade. Este mesmo critério vem sendo apontado em estudos
brasileiros realizados com crianças normais e de risco, utilizando o mesmo instrumento (Dutra e cols., 2001; Pedromônico e cols., 2002).

Foi solicitado aos pais/cuidadores das crianças de ambos os grupos que assinalassem as palavras faladas por estas dentre as apresentadas na LAVE, e o número de palavras faladas por frase. Este procedimento foi realizado após breve entrevista e esclarecimento sobre os fins da pesquisa e mediante a autorização por meio do termo de consentimento.

Para a análise dos resultados primeiramente foram consideradas as informações do protocolo da criança no que se referiu ao sexo, idade da criança na época da avaliação, idade e escolaridade materna e renda familiar. No GPT ainda, foi considerado a idade gestacional, o peso ao nascimento e a classificação do neonato. Em seguida foram computados o número de palavras assinaladas como de emissão da criança, bem como o número de palavras por frase. Desta forma foi possível comparar os resultados dos 2 grupos considerados.

Neste estudo o enfoque escolhido para a análise foi da extensão frasal, uma vez que estudos anteriores já analisaram e descreveram o desenvolvimento do vocabulário de crianças em condições equivalentes a desta amostra, encontrando defasagens no desenvolvimento das crianças nascidas pré-termo (Isotani e cols., 2004).

A análise estatística inicial foi realizada por meio do cálculo das medidas descritivas de média e desvio padrão e mediana. Para o tratamento das variáveis numéricas foram utilizados o teste T e ANOVA, e para as variáveis categóricas o qui-quadrado, fixando-se o nível de significância em 5% ou 0,05, assinalado com um asterisco (*).

Resultados:

A amostra foi composta por 63 meninos e 55 meninas. No GPT 55,17% eram meninos e no GT 51,67%. A idade média das crianças na época da avaliação no GPT foi 28,55 meses (DP= 4,77) e no GT 28,83 meses (DP= 3,94). Os grupos estiveram balanceados por sexo e por idade (p= 0,727), mesmo quando consideradas a proporção por faixa etária.

A idade materna média no GPT foi 31,05 anos (DP= 7,37) e no GT 30,02 anos (DP= 7,05), não sendo evidenciada diferença estatisticamente significante entre os grupos (p=0,441). A escolaridade materna do GPT, 7,34 anos (DP= 3,55) foi significantemente (p= 0,005*) menor que no GT, 9,28 anos (DP=3,66). O mesmo ocorreu na análise da renda familiar, sendo R$566,25 (DP=369,52) no GPT, significantemente menor (p< 0,001*) que o GT R$1502,91 (DP= 1895,56).

Foi verificada diferença estatisticamente significante (p=0,008*) quando comparados os grupos quanto à classificação na LAVE, sendo que a proporção de atraso no GPT foi de 29,3% e no GT de 10%.

Ao se comparar a extensão de palavras por frase, verificamos no GPT média de 3,77 (DP= 2,06) palavras, e no GT 4,43 (DP= 1,99) palavras, não sendo evidenciada diferença estatisticamente significante (p=0,080). Quando considerada a faixa etária foi verificado um acréscimo significante (p<0,001*) no número de palavras utilizadas por frase das crianças na F2 em relação às na F1. A análise realizada por grupo, considerando-se as faixas etárias, demonstrou o mesmo perfil, sendo que no GPT o acréscimo foi em média de 1,7 palavras por frase entre o F1 e F2 (p=0,002*), enquanto no GT foi de 2,1 (p<0,001*). Porém, a diferença encontrada no acréscimo médio de palavras por frase entre os grupos, GPT e GT, não foi estatisticamente significante (p=0,737).

Ainda considerando a faixa etária, ao se comparar o número de palavras por frase entre GPT e GT não foram encontradas diferenças significantes nem na F1(p=0,237) nem na F2 (p=0,115).

Não foram observadas diferenças na produção de frases quando considerado o sexo (p=0,787) tanto na amostra total, como em cada grupo GPT (p=0,868) e GT (p=0,659), indicando que o sexo não influencia na extensão frasal desta amostra.

Na análise do GPT, verificou-se que não há associações entre o número de palavras utilizados por frase, a idade materna (p=0,861) e a escolaridade materna (p=0,563). Mas quando considerada a renda, observou-se uma associação positiva (p=0,008*) de modo que quanto maior a renda familiar, maior a extensão frasal utilizada pela criança. Quando considerada a influência das condições de nascimento, verificou-se que tanto o peso ao nascer (p=0,019*) como a idade gestacional (p=0,016*) estão associadas à extensão frasal das crianças deste grupo, de forma que quanto menor o peso ao nascer e a idade gestacional, pior é o desempenho da criança. A classificação do neonato não esteve associado à produção de palavras por frase (p=0,797).

Conclusões:

As crianças nascidas pré-termo e de baixo peso no terceiro ano de vida apresentam maior incidência de atraso na Linguagem expressiva, quando considerada a emissão oral em relação às crianças nascidas a termo.

A extensão das frases emitidas pelas crianças nascidas pré-termo e de baixo peso foi semelhante ao das crianças nascidas termo não sendo evidenciadas diferenças significantes, embora haja uma tendência a uma menor produção por parte destas e apesar da maior incidência de classificações atraso.

A extensão das frases, tanto no GPT quanto no GT aumentou conforme a idade da criança, tendendo a um ritmo mais acelerado nas crianças do GT.

O sexo, a idade materna, a escolaridade materna e a classificação do neonato não influenciaram a extensão frasal no GPT, porém a renda familiar, e as condições de nascimento, idade gestacional e peso ao nascer, demonstraram associação positiva à extensão frasal, indicando o efeito destas condições adversas ainda no terceiro ano de vida.

Crianças nascidas pré-termo e de baixo peso estão em risco para o desenvolvimento, principalmente da Linguagem expressiva, o que aponta para a necessidade de Programas de intervenção e acompanhamento fonoaudiológico, no intuito de prevenir e minimizar os efeitos do nascimento prematuro, visando a inserção social e sucesso acadêmico e profissional futuros destas crianças.
 
Referências Bibliográficas:
CAPOVILLA, F.C.; CAPOVILLA, A.G.S. Desenvolvimento lingüístico na criança dos dois aos seis anos: tradução e estandardização do Peabody Picture VocabularyTest de Dunn e Dunn e da Language Development Survey de Rescorla. Ciência cognitiva: teoria, pesquisa e aplicação. 1(1):353-380,1997.
DUTRA, M.D.S.; ONODA, R.M.; ALMEIDA, L.M.S.; DAN, I.B.; MENEZES, C.G.L.;
PEDROMÔNICO, M.R.M. Lista de vocabulário expressivo: estudo exploratório sobre sua aplicabilidade na vigilância do desenvolvimento infantil. Anais do 9 º Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia. Guarapari, 2001.
HACK, M.; FLANNERY, D.; SCHLUCHTER, M.; CATAR, L.; BORAWSKI, E.; KLEIN, N. Outcomes in young adulthood for very-low-birth-weight infants. New England Journal of Medicine 2002; 346 (3): 149157
ISOTANI, S.M.; PEDROMÔNICO, M.R.M.; PERISSINOTO,J.; KOPELMAN, B.I. O desenvolvimento de crianças nascidas pré-termo no terceiro ano de vida. Folha Médica 2002; 121(2): 85-92
ISOTANI, S.M.; PEDROMÔNICO, M.R.M.; AFFONSO, L.A.; VAZQUEZ, M.C.; PERISSINOTO, J.; O vocabulário expressivo de crianças aos dois anos de idade nascidas pré-termo e termo. Anais do 12 º Congresso Brasileiro 2o Congresso Sul Brasileiro de Fonoaudiologia. Foz do Iguaçu, 2004.
PEDROMÔNICO, M.R.M; AFFONSO, L.A.; SAÑUDO, A. Vocabulário expressivo de crianças entre 22 e 36 meses: estudo exploratório. Ver. Brás. Crês. Desenv. Hum. 2002; 12(2):13-22
RESCORLA, L. The language development survey: a screening tool for delayed language in toddlers. J Speech Hear Disord 1989; 54:587-599
VAZQUEZ, M.C. Estudo comparativo do vocabulário de crianças nascidas pré-termo e a termo no terceiro ano de vida. São Paulo, Universidade Federal de São Paulo [monografia] 2002.
 
Contato: isotanimie.dped@epm.br
 

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