Código: PID1686
HIGIENIZAÇÃO ORAL NO ATENDIMENTO A PACIENTES IDOSOS DISFÁGICOS HOSPITALIZADOS
 
Autores: Maria Raquel Antunes Shiguematsu, Andrea Gregory, Vicente José Assêncio Ferreira, Carla Rubio Giordan, Ana Maria Hernandez
Instituição: CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA – CEFAC
 
HIGIENIZAÇÃO ORAL NO ATENDIMENTO A PACIENTES IDOSOS DISFÁGICOS HOSPITALIZADOS

ORAL HYGIENE AT ATENDENT TO DYSPHAGICS ELDERLY PACIENTS IN HOSPITAL

Introdução – Os indicadores recentes do censo têm apontado o aumento da sobrevida no Brasil. Temos tido como conseqüência deste envelhecimento populacional um incremento no registro de ocorrência de doenças crônicas e incapacitantes, com elevados índices de internações hospitalares e gastos com tratamentos de saúde 1 2.
A maior causa de morbidade e mortalidade em pacientes geriátricos hospitalizados ou em atendimento domiciliar especializado é a pneumonia. Os fatores de risco incluem rebaixamento da consciência, desordens da deglutição, mau estado de conservação dos dentes, condição inadequada da saúde geral, entre outros 3 4.
Em pacientes geriátricos com pneumonia a hipótese de disfagia deve ser considerada, podendo haver alteração em todas as fases da deglutição: preparatória, oral, faríngea e esofágica, tendo como conseqüência a desnutrição, a desidratação, o baixo peso, a pneumonia aspirativa e obstrução das vias aéreas. É marcante a ocorrência de disfagia em doenças de base como acidente vascular encefálico, doença de Parkinson, câncer de cabeça e pescoço, doenças neuromusculares, entre outras enfermidades 3 4 5 6.
A porta de entrada de microorganismos no corpo humano é a cavidade oral.
Pacientes idosos hospitalizados freqüentemente apresentam qualidade insatisfatória de saúde oral, com alta incidência de cáries, placas bacterianas, doenças periorais e conseqüentemente maior probabilidade para desenvolver colonização da orofaringe por bacilos Gram-negativos. Na presença de distúrbio de deglutição pode haver aspiração desses patogênicos. 3 7 11 12 13.
e maior suscetibilidade a infecções antes ou após a internação aumentando a freqüência de pneumonia nesta população. 7 8 9 10 11
O estado de conservação dos dentes, o uso de próteses dentárias bem adaptadas, a quantidade de saliva na cavidade oral, o uso de medicamentos e a higienização oral influenciam diretamente no processo de mastigação e deglutição 3 4 5 6 10.
Pode-se, portanto, deduzir que a higienização oral efetiva seja importante auxílio na redução do risco para a saúde pulmonar mesmo que a dieta por via oral esteja indeferida, pois estudos indicam que os achados de pneumonia são mais freqüentes em pacientes que não recebem alimentação por via oral. O uso de tubos de alimentação nem sempre reduz o risco de aspiração, podendo ocorrer microaspirações de saliva contaminada por bactérias. Antissépticos bucais influenciam na diminuição da quantidade de microorganismos assim como a escovação efetuada de maneira adequada implica na remoção da placa bacteriana e dos resíduos alimentares presentes na cavidade oral; que podem estar associados à pneumonia. 3 5 8 11 12 13
O objetivo desse trabalho é enfatizar a higienização oral no atendimento à pacientes idosos disfágicos hospitalizados como medida preventiva para diminuir a frequência de pneumonia nessa população.
Metodologia - Foi realizado um estudo retrospectivo constando de 15 pacientes idosos disfágicos, em uso de sonda nasoenteral para alimentação, com etiologias similares, internados no A.C.S.C. Hospital Santa Catarina – SP, durante os meses de agosto, setembro e outubro no período de 1977 à 2001; distribuídos em 3 grupos. Optou-se por limitar o estudo a um mesmo período do ano para que esta variável não interferisse nos resultados. O grupo I composto por 5 sujeitos, sendo 3 do sexo feminino e 2 do sexo masculino, com faixa etária entre 72 e 87 anos; idade média de 78.8 anos; foi selecionado através da análise de prontuário, com hospitalização anterior à implantação do atendimento fonoaudiológico nesta entidade. O grupo II composto por 5 sujeitos, sendo 3 do sexo feminino e 2 do sexo masculino, com faixa etária entre 66 e 81 anos; idade média de 74.8 anos; foi selecionado através da análise de prontuário, tendo como critério, além dos já citados, haverem recebido atendimento fonoaudiológico. O grupo III composto por 5 sujeitos, sendo 3 do sexo feminino e 2 do sexo masculino, com faixa etária entre 70 e 88 anos; idade média de 78.2 anos; recebeu atendimento fonoaudiológico e foi submetido a um protocolo de higienização oral específico que constou de escovação com colutório do vestíbulo bucal, língua, palato, próteses dentárias e dentes quando presentes; sendo oferecida ou não alimentação por via oral.
Resultados – A análise dos dados da população estudada mostra que no Grupo I 3 sujeitos com idade média de 79.3 anos, com hipótese diagnóstica de Acidente Vascular Encefálico adquiriram pneumonia durante o período de hospitalização comprovada através de diagnóstico médico registrado nas evoluções clínicas dos pacientes e foram submetidos a higienização oral pela equipe de enfermagem; como rotina. No Grupo II, 2 sujeitos com idade média de 75 anos, com hipótese diagnóstica de Acidente Vascular Encefálico adquiriram pneumonia durante o período de hospitalização comprovada através do diagnóstico médico registrado nas evoluções clínicas dos pacientes, anteriormente ao atendimento fonoaudiológico, mantendo condição pulmonar estável após a intervenção fonoaudiológica. Foram submetidos a higienização oral tanto pela equipe de enfermagem como rotina quanto pela equipe de fonoaudiologia durante o atendimento. No Grupo III, 3 sujeitos com idade média de 80.3 anos, com hipótese diagnóstica de Acidente Vascular Encefálico adquiriram pneumonia durante o período de hospitalização, comprovada através do diagnóstico médico registrado nas evoluções clínicas dos pacientes, anteriormente ao atendimento fonoaudiólogo, e foram submetidos a higienização oral tanto pela equipe de enfermagem como rotina quanto pela equipe de fonoaudiologia durante o atendimento sendo utilizado o protocolo de higienização oral específico, mantendo condição pulmonar estável após intervenção.
Discussão - No presente estudo, a higienização oral foi avaliada como fator preventivo da pneumonia em pacientes idosos disfágicos hospitalizados. A análise dos dados coletados revelou que não houve diferença significativa entre os três grupos estudados, mas sugere o impacto positivo da intervenção fonoaudiológica na prevenção de pneumonia uma vez que com a introdução da fonoterapia os sujeitos dos grupos II e III não apresentaram mais sintomas da mesma.
A utilização do protocolo específico de higienização oral parece não ter influenciado na diminuição da ocorrência de pneumonia na população estudada. Devemos considerar que nossa amostragem é pequena e que outras condições de risco tais como nível cognitivo, diminuição ou ausência dos reflexos de proteção, distúrbios da deglutição, podem se constituir em fatores etiológicos da pneumonia (8,9). Assim, maiores pesquisas serão necessária para a determinação real do efeito da higiene oral sobre a ocorrência de pneumonia,
o que não implica necessariamente que a limpeza da cavidade bucal não seja importante.
Uma das hipótese possíveis que justifique os resultados de não diferenciação entre os grupos, no que concerne à higienização oral, é o fato de que nos pacientes hospitalizados, os cuidados com a higiene oral fazem parte da rotina da equipe de enfermagem, bem como o uso freqüente da antibioticoterapia que provavelmente influencia diretamente nos resultados. Talvez o uso do protocolo de higienização oral em grupos de idosos não hospitalizados tenha maior impacto e valor preventivo sobre a saúde pulmonar dessa população 7 10 11.
A alimentação enteral geralmente é mais indicada para pacientes que necessitam de melhor nutrição e hidratação e não são capazes de obter aporte calórico suficiente por via oral. Essa via de alimentação não é extremamente segura para evitar aspirações levando em consideração que possa ocorrer microaspirações de salivas e/ou secreções. Em nosso estudo, todos os sujeitos que fizeram pneumonia estavam recebendo dieta via sonda; o que sugere que este fator isolado também não previne pneumonia (3,5).
Conclusão – Pneumonia é infecção comum em idosos hospitalizados e sua prevenção está associada a fatores de risco que incluem estado de saúde geral, conservação dos dentes, higiene oral, dependência de alimentação e desordens da deglutição.
A higienização oral é importante, mas isoladamente não é suficiente para prevenir pneumonia. É necessário um maior número de pesquisas para determinar o impacto da higienização oral no antendimento `a pacientes idosos disfágicos hospitalizados.
Um dado significativo é a diminuição da ocorrência de pneumonia na população estudada com a introdução de atendimento fonoaudiólogo associado aos demais cuidados no ambiente hospitalar. Cabe ressaltar aqui a importância do trabalho em equipe na obtenção de melhores resultados.
 
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Contato: shiguematsu@aol.com
 

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