DIAGNÓSTICO E REABILITAÇÃO VESTIBULAR |
Carlos Kazuo Taguchi
Palestrante |
Instituição: FCMSCSP - UNIBAN |
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O equilíbrio é o resultado harmônico da integração das informações que nossos órgãos sensoriais e receptores periféricos proprioceptivos enviam ao Sistema Nervoso Central (SNC), permitindo a manutenção de nossa postura e locomoção no espaço. Qualquer falha no processo de integração dessas informações no SNC resulta em desequilíbrio que muitas vezes se manifesta sob a forma de tontura. A tontura é tida como a terceira maior queixa em consultórios médicos, acarretando conseqüências bastante sérias para a vida social e emocional, impossibilitando seu portador de desenvolver suas atividades de vida diária ou interferindo na qualidade de sua vida. Existem três tipos de tratamentos para as alterações do Sistema Vestibular: o medicamentoso; cirúrgico e a reabilitação vestibular (RV). A RV que pode ser definida como um tratamento funcional que visa restaurar a função de equilíbrio global, tem sido utilizada com maior freqüência devido à ação fisiológica que estimula o processo de plasticidade neuronal e não desencadeia efeitos colaterais promovendo a diminuição ou anulação dos sintomas; restauração do equilíbrio corporal e, além disso, melhora a qualidade de vida do paciente. (Norré ,1990; Cesarani e Alpini, 1992; Barbosa et al, 1995; Jauhar, 2001)
As alterações de equilíbrio corporal ou vestibulopatias comprometem o cotidiano do paciente. Vários estudos enfocando a relação qualidade de vida e alterações vestibulares foram realizadas desde os anos 1990. GANS (1999) apontou que a tontura seria a terceira queixa mais comum em consultórios médicos e hoje existe uma preocupação intensa com a terceira idade frente às correlações entre longevidade, vestibulopatias e eventos de quedas.
Para determinar a integridade do funcionamento vestibular recorremos à vestibulometria é um conjunto de procedimentos que avalia a integridade do sistema vestibular e as suas conexões com os tratos vestíbulo-espinal, vestíbulo-cerebelar e vestíbulo-oculomotor. Somando-se à avaliação audiológica, exame ORL e neurológico compõe a bateria de testes otoneurológicos.
Em Vestibulometria é importante ter o conhecimento anatomofisiológico do sistema vestibular e integrá-lo com os dados de anamnese. Hoje, nossa atuação compreende o trabalho multidisciplinar, pretendendo que consigamos encontrar o caminho para compreender o processo de instalação e desenvolvimento das várias afecções vestibulares, os nossos esforços para determinar a etiologia dos agentes causadores da alteração do equilíbrio corporal e atuar na reabilitação vestibular (RV), reconhecida como um novo campo de atuação profissional.
O diagnóstico clínico de alteração do equilíbrio tem sido tradicionalmente efetivado por meio da eletronistagmografia (ENG). Embora possamos contar com equipamentos mais sofisticados e modernos, como a estabilometria, videonistagmografia, nistagmografia infravermelha, auto-rotação cefálica, a ENG segundo BAKR & SALEH (2000), ainda nos permite:
a. o planejamento cirúrgicos de casos em que há necessidade do diagnóstico diferencial do grau de lesão periférica versus central,
b. a documentação da compensação otovestibular em pacientes expostos ao ruído, tóxicos e traumas,
c. o registro da evolução dos casos crônicos que não respondem às terapias medicamentosas ou reabilitação vestibular,
d. a avaliação contínua e conjunta nos casos de tratamento com agentes ototóxicos ou em acompanhamentos pós-cirúrgicos.
Cabe ressaltar que o domínio técnico deve estar aliado ao conhecimento teórico, e como o examinador está susceptível a erros, HOGDSON (1980), já havia indicado a existência de três níveis de competência: 1. o profissional que não erra; 2. o que reconhece e corrige os erros e, 3. o que não reconhece o erro (p.57) Sempre é recomendável estar na segunda categoria, porque ele é capaz de reconhecer os erros que possam ocorrer durante o exame podendo refazê-lo ou rever suas técnicas.
Na clínica Otoneurológica, os pacientes que apresentam queixas são, geralmente, as de sexo feminino e com idade na faixa de 40 a 65 anos. O desequilíbrio corporal afeta este sexo numa proporção de 3:1. A sensação de tontura pode ser explicada quando ocorre uma integração anormal das informações vestibulares com as informações visuais e proprioceptivas. Quando o paciente entra em crise vestibular, tende a piorar o restabelecimento do reflexo vestíbulo-ocular e vestíbulo-espinal, porque para diminuir o conflito vestíbulo-visual tende a manter os olhos fechados e restringir a movimentação, tanto cefálica quanto corporal. A estabilização dessas estratégias restringe o movimento corporal e/ou cefálico, tornando a manutenção do equilíbrio corpóreo uma atividade consciente.
Para que o desequilíbrio corporal ou a vertigem seja eliminado, todo o sistema vestibular, tanto o periférico quanto o central, tenta adequar as respostas à movimentação cefálica ou corporal. Se existe uma lesão periférica extensa, o núcleo vestibular ipsilateral deve ser capaz de retomar as funções do lado contralateral. (SHEPARD & TELIAN, 1995)
O processo de ajuste no caso do Aparelho Vestibular ocorre de maneira progressiva logo após o acometimento vertiginoso, e segue etapas bem distintas que devem ser superadas até que o equilíbrio perdido seja alcançado. Este é o processo que denominamos compensação vestibular, e corresponde a uma seqüência de fenômenos periféricos e centrais que se ocorrem após uma lesão vestibular.
A compensação vestibular central deve promover então a recuperação do reflexo vestíbulo ocular e ao mesmo tempo, promover as funções de estabilização da marcha e da movimentação corporal (reflexo vestíbulo-espinal).
A tendência a manter o corpo rígido com aumento do tônus muscular frente aos movimentos cefálicos e/ou cervicais quando o paciente é crônico, provoca o atraso no processo de compensação, estabilizando o quadro crônico permanente que muitas vezes leva à invalidez e à dependência conforme referiram BITTAR e PEDALINI (1999).
Para que o paciente atinja o processo de compensação vestibular existe uma forma de tratamento denominada reabilitação vestibular (RV) que pode ser definida como o conjunto de exercícios que promovem a recuperação do equilíbrio corporal e que não constituem fatores de risco para os pacientes porque não causam efeitos colaterais (MOR et al., 2001).
VAZ GARCIA (2000) referiu que a reabilitação vestibular deve ser utilizada como atendimento complementar ou alternativo à terapêutica medicamentosa sendo indicadas primeiramente para a vertigem posicional paroxística benigna (VPPB) e os déficits unilaterais de instalação súbita. Portadores de vertigem por otoxicidade; déficits multissensoriais no idoso; vertigens psicogênicas; síndromes centrais e vertigens posicionais crônicas, também, podem ser beneficiados pela RV. Para a RV é importante que a seleção seja criteriosa, devendo-se eliminar ou minimizar fatores que possam perturbar o sucesso do processo, assim como: diabetes; déficits visuais; doenças incapacitantes; obesidade e medicamentos vestíbulo depressores.
Além de ser prescrito e orientado por um profissional capacitado, tem-se valorizado, atualmente, a adequação dos exercícios para as necessidades particulares de cada indivíduo, utilizando-se, o termo reabilitação vestibular personalizada (GANANÇA et al., 1997). Baseados na anamnese detalhada, onde investigamos quais posições de cabeça e/ou corpo, atividades e movimentos desencadeiam ou exacerbam a sintomatologia vestibular é que poderíamos determinar os exercícios específicos para as necessidades de cada indivíduo, considerando a integridade do sistema músculo-esquelético para adaptar os exercícios, tanto na forma quanto no tempo de execução a fim de garantir, com sucesso, o restabelecimento do equilíbrio corporal.
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Contato: ctaguchi@cediau.com.br |
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