NEUROPATIA AUDITIVA: DIAGNÓSTICO AUDIOLÓGICO |
Katia de Freitas Alvarenga
Comentador(a) de Caso |
|
Dentre os diversos tipos de alteração auditiva, ressalta-se a Neuropatia Auditiva (NA) recentemente diagnosticada, devido ao avanço tecnológico que introduziu a pesquisa das emissões otoacústicas na prática clínica audiológica. Desde então, inúmeras pesquisas nacionais e internacionais têm sido desenvolvidas a fim de se conhecer mais sobre esta desordem, envolvendo a prevalência, diagnóstico e reabilitação.
A NA é definida quando se observa função normal de células ciliadas externas do órgão de Córti com associado comprometimento da função neural (nervo acústico) e/ou células ciliadas internas. É importante ressaltar que a NA pode ser adquirida ou congênita.
Caracteristicamente, os achados clínicos são a ausência do reflexo acústico, presença de emissões otoacústicas evocadas e/ou microfonismo coclear (MC), potenciais evocados auditivos de tronco encefálico ausentes (Sininger et al., 1995;Hood, 1998; Miyamoto et al., 2000;Simmons et al., 2000; Berlin et al 2002; Buss, et al., 2002; Hood et al., 2002; Madden et al., 2002; Tlumak, 2002).
Considerando a sensibilidade dos procedimentos da avaliação audiológica convencional, a audiometria tonal liminar fornece poucas informações para a definição do diagnóstico, visto que a configuração da curva audiométrica é variada, podendo observar audição normal à perda auditiva neurossensorial de grau profundo. Entretanto, geralmente a perda auditiva é acentuada, com grau variando entre severo e profundo.
A Progressão e flutuação da perda auditiva é observada em alguns pacientes com NA adquirida, enquanto outros apresentam limiar auditivo estável por mais de anos, fato que pode estar relacionado a etiologia (Mesquista et al, 2001; Spinelli et al,2001).
Na logoaudiometria, para os casos de NA adquirida, observa-se escore de reconhecimento de fala incompatível com os limiares auditivos encontrados (Miyamoto et al., 2000;Simmons et al., 2000; Buss et al., 2002; Madden et al., 2002 Sininger et al., 2002), principalmente na presença de ruído (Starr et al., 1996; Berlin et al., 2002). Nas NA congênita geralmente há um atraso significativo na aquisição e desenvolvimento de linguagem.
A maioria dos casos é bilateral, podendo ser assimétrica (Hood, 1998), porém, os indivíduos com NA unilateral apresentam características comportamentais semelhantes a indivíduos com outros tipos de perdas auditivas unilaterais.
No programa de implante coclear, a solicitação de ressonância magnética para a realização do diagnóstico diferencial permitiu-se determinar dois tipos de Neuropatia Auditiva: hipoplasia de nervo auditivo e Dessincronia auditiva, assim como a Agenesia de nervo auditivo, com o mesmo quadro clínico audiológico.
Considerando especificamente a Dessincronia Auditiva, o termo utilizado baseou-se na dificuldade em determinar o local da alteração, podendo ser no inicio das sinapses entre as células ciliadas internas e os dendritos do nervo auditivo, o gânglio espiral, ou os axônios do nervo ou alguma combinação entre estes lugares ( Sininger et al, 1995; Starr et al, 1996; Miyamoto et al., 2000; Buss et al., 2002; Hood et al., 2002). Embora não seja possível delimitar a área da lesão com precisão, muitos pacientes com DA apontam para a porção periférica do nervo (Sininger, 2002).
Na prática clínica a Dessincronia Auditiva demonstra algumas particularidades na avaliação audiológica. Nestes casos, a amplitude das emissões otoacústicas evocadas transientes podem progressivamente diminuir com o passar do tempo (Deltenre et al, 1999), sendo que a razão para isto não é clara, especialmente porque o MC pode ainda ser mensurado (Simmons et al., 2000). Na avaliação do comportamento auditivo das crianças com DA, é possível observar que a maioria apresenta comportamento semelhante ao de crianças com perda auditiva neurossensorial coclear severa ou profunda, reagindo com mais freqüência com respostas de detecção de sons de fala mais graves (as vogais e o som nasal) (Miranda, Alvarenga & Costa, 2004).
Assim, para o diagnóstico da NA é necessário a realização de uma bateria específica de testes. Geralmente é um processo mais longo do que o normalmente necessário para diagnosticar uma criança com perda auditiva neurossensorial coclear ou condutiva. Desta forma, os pais acabam experienciando emoções negativas e, muitas vezes, dificuldades para compreender o distúrbio. Com relação á intervenção por meio do dispositivo eletrônico, a literatura reflete diferentes opiniões considerando o aparelho auditivo e o implante coclear.
A mesa redonda em questão irá discutir o caso de Neuropatia auditiva sob o aspecto médico e fonoaudiológico. O enfoque desta apresentação será o de caracterizar o caso apresentado diante da literatura científica pertinente, salientando aspectos atuais do processo diagnóstico com a utilização de procedimentos comportamentais e eletrofisiológicos, além da reabilitação.
Bibliografia
BERLIN,C.I.; LI,L.; HOOD,L.J; MORLET,T.; ROSE,K.; BRASHEARS,S.- Auditory Neuropathy/Dys-Synchrony: After the Diagnosis, then What?-Seminars in Hearing/vol23, n3, 2002.
DELTENRE, P.; MANSBACH, A.L.; BOZET,C.; CHRISTIAENS,F.; BARTHELEMY,P.; PAULISSEN,D.; RENGLET,T.- Auditory Neurophathy with Preserved Cochlear Microphonics and Secondary Loss of Otoacoustic Emissions- Audiology 1999; 38:187-195.
BUSS,E.; LABADIE,R.F.;BROWN,C.J; GROSS,A.J.; GROSE,J.H; PILLSBURY, H.C.- Outcome of Cochlear implantation in Pediatric Auditory Neuropathy- Otolology & Neurology 23:328-332, 2002.
CONE-WESSON B; VOHR BR; SININGER, YS. Identification of neonatal hearing impairment:infants with hearing loss. Ear Hear, 21:488-507,2000.
HOOD,L.J.-Auditory Neuropathy: What is it and what can we do about it?- Hearing Journal/vol51, n8, august, 1998.
HOOD,L.J.; BERLIN,C.I.; MORLET,T.; BRASHEARS,S.; ROSE,K.;TEDESCO,S.-Considerations in the Clinical Evaluation of Auditory Neuropathy/Auditory Dys-Synchrony- Seminars in Hearing/vol23, n3, 2002.
LEE,J.S.M.; McPHERSON,B.; YUEN,K.C.P.; WONG,L.L.N.- Screening for Auditory Neuropathy in a school for Hearing Impaired Children- International Journal of Pediatric Otorhinolaryngology 61 (2001) 30-46.
MADDEN,C.; HILBERT,L.; RUTTER,M.; GREINWALD,J.; CHOO,D.- Pediatric Cochlear Implatation in Auditory Neuropathy- Otolology & Neurology 23:163-168, 2002.
MIRANDA,AM; ALVARENGA,KF; COSTA,AO. NEUROPATIA AUDITIVA: características clínicas e a avaliação audiológica. PIBIC – 2004.
MIYAMOTO,R.T.; KIRK,K.I.; RENSHAW,J. HUSSAINS,D.; SEGHAL,S.T.- cochlear Implantation in Auditory Neuropathy- Advances in Otorhinolaryngology/vol57,160-161, 2000.
MESQUITA,O;REDONDO,MC; CARLOS,RC;FIGUEIREDO,MS;LOPES FILHO,OC. Neuropatia auditiva: aspectos relevantes na investigação clínica. Rev. Bras.Otorrinolaringol. vol.67 no.5 São Paulo Sept. 2001.
SHALLOP,J.K.- Auditory Neuropathy/Dys-Synchrony in Adults and Children- Seminars in Hearing/vol23, n3, 2002.
SHAPIRO,S.M.; NAKAMURA,H.- Bilirrubin and the Auditory System- Journal ofr Perinatology, 2001, 21:S52-S55.
SIMMONS,J.L.; BEAUCHAINE,K.L.-Auditiry Neuropathy: Case Stud with Hyperbilirubinemia- Jounal of the Academy of Adiology/vol11, n6, June 2000.
SININGER,Y.S.; HOOD,L.J.; STARR,A.; BERLIN,C.I.; PICTON,T., W- Hearing Loss Due to Auditory Neuropathy- Audiology Today, March/April-1995.
SININGER,Y.S.- Identifation of Auditory Neuropathy in Infants and Children- Seminars in Hearing/vol23, n3, 2002.
SININGER,Y.S.; TRAUTWEIN,P.- Eletrical Stimulation of the Auditory Nerve Via Cochlear Implants in Patients with Auditory Neuropathy- Ann Otorhinilaryngology 111:2002.
SPINELLI,M;FÁVERO-BREUEL, MF;SILVA,CMS. Neuropatia auditiva: aspectos clínicos, diagnósticos e terapêuticos. Rev. Bras. Otorrinolaringol. v.67 n.6 São Paulo nov. 2001.
STARR,A.; PICTON,T.W.; SININGER,Y.; HOOD,L.J.; BERLIN,C.I.- Auditory Neuropathy- Brain, 1996, 119, 741-753.
TLUMAK,A.I.- Eletrofisiological Responses in Individuals with Auditory Neuropathy- Seminars in Hearing/vol23, n3, 2002. |
|
Contato: katialv@fob.usp.br |
|

Imprimir Palestra |
|