EXPRESSIVIDADE DO CORPO
Claudia Cotes
Comentador(a) de Caso
Instituição: PUC/SP
 
Ter que ser expressivo é uma exigência rotineira em muitas profissões, principalmente para aqueles que trabalham em televisão. Por isso é comum a preocupação com o conteúdo e com a forma de se comunicar. O conteúdo implica em se ter o que dizer e a forma em saber como dizer. Muitas vezes o conteúdo nem é tão interessante, mas a forma de dizê-lo é tão expressiva que a comunicação torna-se mais interessante. Por que isto acontece? Como transmitir a mensagem com credibilidade? Será que as pessoas já nascem carismáticas ou podem ser treinadas para se comunicarem melhor? Como se tornar mais interessante quanto aos movimentos do corpo sem ser cansativo? O que faz uma pessoa ser mais ou menos expressiva? Como avaliar e treinar o corpo de um profissional? A Fonoaudiologia, durante muito tempo preocupou-se em aprofundar os seus estudos nos recursos vocais, direcionando seu enfoque para a anatomia e fisiologia da fonação, as alterações laríngeas e seus respectivos tratamentos, o estudo acústico do som, e atualmente, programas computadorizados dirigem o nosso olhar para a análise espectrográfica. Os avanços científicos foram muito importantes e únicos principalmente durante os últimos dez anos, transformando o fonoaudiólogo, em um profissional cada vez mais especializado para atender as exigências do mercado de trabalho. Em telejornalismo, por exemplo, é cada vez maior o número de fonoaudiólogos que prestam serviço junto as emissoras de televisão mas, para atuarmos de maneira eficaz junto a estes profissionais devemos ter consciência de que a televisão possui uma linguagem única, imagem e voz fundem-se e inter-atuam e preocupar-se com a performance e aumentar a credibilidade são estudos constantes de todo jornalista de televisão. Portanto, é fundamental o fonoaudiólogo que trabalha nesta área, possuir uma visão ampla sobre os aspectos que norteiam o profissional de televisão, que não se limitam somente a utilização dos recursos vocais durante as narrações das notícias, mas também atingem a área corporal, ou seja, quais são os gestos, expressões faciais e posturas que os repórteres devem utilizar com o intuito de produzirem comunicação. Os movimentos do corpo são considerados não-verbais, produzem comunicação e podem repetir, contradizer, substituir, complementar, acentuar ou regular o comportamento verbal. Cabe ao fonoaudiólogo analisar se o corpo combina com a mensagem expressa e transmite credibilidade. A avaliação corporal do profissional de televisão deve ser minuciosa. Se o repórter parecer “estranho” no vídeo durante sua narração, devemos então desmembrar seus movimentos corporais, analisando separadamente os movimentos de cabeça, olhos, boca, ombros, tronco, braços, mãos, dedos e vermos onde está o problema, para propormos as mudanças necessárias. As atitudes corporais inadequadas do repórter poderão estar desconexas com o conteúdo, ou seja, aleatórias, não tendo nenhuma relação com a palavra dita. Também podem estar excessivas e/ou repetitivas, cansando quem assiste. Ao contrário, os movimentos corporais também podem estar ausentes, transmitindo rigidez e falta de envolvimento com o assunto. Tanto o excesso quanto a falta de movimentos “sujam” a imagem do repórter em sua apresentação, deslocando a atenção do telespectador para longe da notícia. O movimento corporal adequado no telejornalismo é aquele que combina com a palavra, é sóbrio, discreto e preciso para o momento da narração. Pode ser um movimento único como um meneio de cabeça para baixo ou um gesto com as mãos, mas o mais importante é que esteja associado à palavra enfatizada; voz e corpo devem falar a mesma coisa, complementando-se. Os gestos, assim como as palavras, podem aparecer em uma variedade de contextos e conforme mudem as situações ou as pessoas, podem surgir novos significados para os mesmos movimentos gestuais. O gesto deverá coincidir com a ênfase na voz por meio da mudança do tom (pitch), ou da força (loudness) vocal, ou mesmo do ritmo de emissão (prolongamento da vogal). Nas passagens, realizar de 2 a 4 gestos é o ideal. Não há necessidade de um gesto para cada palavra importante da frase e nem a ausência de gestos. Importante é saber que os gestos não devem ser repetitivos e nem aleatórios. Quando o repórter realizar um gesto, demonstrando uma idéia, logo após deve vir uma posição neutra para depois vir um novo gesto, diferente daquele realizado anteriormente. Em um telejornal, as expressões faciais também devem estar relacionadas ao conteúdo da notícia e não aos sentimentos do repórter naquele momento. O importante é o repórter ter consciência de seus movimentos corporais sabendo que eles comunicam e que não devem comunicar mais do que a notícia. Tanto o excesso quanto a ausência de movimentos chamará a atenção do telespectador e a credibilidade será reduzida nestes casos. Portanto, a soma ÊNFASE DE VOZ + MOVIMENTO DE CORPO deve ser seguida e praticada pelo profissional de TV. É importante ressaltar que o corpo não precisa ficar mexendo-se a todo momento. Os movimentos corporais devem ser discretos para não poluírem a imagem do repórter. Alguns critérios de avaliação podem auxiliar os fonoaudiólogos em uma atuação mais eficaz. Os critérios apresentados agora são para apresentação, link, passagem e entrevista. Devemos estar atentos ao comportamento do corpo como um todo em um primeiro momento e depois analisarmos parte por parte, procurando sempre aliar a voz ao movimento. É importante ressaltar que o corpo não precisa ficar mexendo-se a todo momento. Os movimentos corporais devem ser discretos para não poluírem a imagem do repórter. A avaliação dessas características deve ser treinado pelo fonoaudiólogo junto ao repórter e/ou apresentador, por meio da observação dirigida de fitas com reportagens da apresentação dos telejornais. Para melhor direcionamento da avaliação corporal do profissional de telejornais, sugiro os seguintes itens: Adequados – são os gestos, meneios de cabeça, postura e expressões faciais que se modificam harmoniosamente a cada marcação de ênfase da palavra; Aleatórios – são movimentos corporais que não têm nenhum significado com a palavra e geralmente tornam-se repetitivos; Excessivos – é o corpo que não pára de se mexer. Podemos prestar mais atenção no corpo do que nas palavras. Isto pode ocorrer com meneios de cabeça, movimentos das sobrancelhas, mãos, enfim, qualquer parte do corpo durante a narração; Repetitivos – quando um único movimento de corpo for realizado várias vezes; Rígidos– deve ser considerado rígido o corpo que permanece praticamente imóvel durante a narração, demonstrando ausência de movimentos. Cabe analisar se nas passagens, links ou apresentações, o repórter está utilizando estes recursos em sincronia. Caso não esteja, deverá haver o treino de cada recurso corporal, separadamente. A análise de fitas das reportagens e a observação das mudanças dos comportamentos corporais podem auxiliar em uma performance mais natural no vídeo. Todos estes recursos teóricos não devem “atormentar” os pensamentos do repórter gerando ansiedade ou insegurança. A consciência do corpo e o controle das mudanças na voz virão com treinos em sessões de fonoterapia. Após o domínio dos recursos vocais, torna-se mais fácil o treino do corpo e seus movimentos mais expressivos durante a fala.
 
Contato: claudiacotes@uol.com.br
 

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