PROCESSAMENTO AUDITIVO: ASPECTOS ATUAIS |
Eliane Schochat
Palestrante |
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Processamento auditivo temporal pode ser definido como a percepção do som ou de alterações do som dentro de um determinado espaço de tempo, ou seja, refere-se à habilidade de perceber ou diferenciar estímulos que são apresentados numa rápida sucessão. Alguns pesquisadores acreditam que o processamento temporal é a base de quase todos os processos de audição (Musiek et al, 2002; Shinn, 2003).
Existem várias evidências que confirmam esta afirmação que vão desde sensibilidade neuronal aos efeitos do tempo, até o processamento cortical da informação auditiva, como por exemplo o processamento da fala e outros fatores relacionados como traços suprasegmentais.
A identificação de sílabas consoante-vogal, por exemplo, está relacionada com o intervalo entre a liberação do ar e a vibração das pregas vocais (/ba/ versus /pa/); com a duração da transição de freqüência (/ba/ versus /wa/); e com o tempo de silêncio entre as consoantes e as vogais (/sa/ versus /sta/) (Wright et al, 1997). Portanto, habilidades relacionadas à percepção do tempo.
O processamento auditivo temporal pode ser dividido em quatro categorias, sendo todas importantes para as habilidades de processamento auditivo. São elas (Shinn, 2003):
1. Ordenação ou seqüencialização temporal;
2. Integração ou somação temporal;
3. Mascaramento temporal;
4. Resolução, discriminação ou acuidade temporal.
Estes mecanismos são aplicáveis para sinais verbais e nãoverbais
A habilidade auditiva de ordenação temporal refere-se ao processamento de
múltiplos estímulos auditivos na sua ordem de ocorrência. Graças a esta habilidade, um indivíduo é capaz de discriminar a correta ordem de ocorrência dos sons (Moore, 1993; Shinn, 2003). Hirsh (1959) encontrou que, para pares de tons de diferentes freqüências, os sujeitos necessitavam de aproximadamente 17 ms de separação entre eles para identificar a ordem correta de cada seqüência.
Na prática clínica, a ordenação temporal pode ser avaliada por meio dos testes de padrão de freqüência e testes de padrão de duração, nos quais os pacientes devem verbalizar ou imitar ou ainda apontar a ordem da seqüência de três tons ouvida (Shinn, 2003).
Integração temporal é a habilidade de se detectar sinais menos intensos em um ruído de fundo ou no silêncio. O limiar deste sinal é medido em função de sua duração.
Geralmente, a detecção do sinal é a mesma se o produto da duração e da intensidade do sinal se mantiver constante (energia constante) em pelo menos algumas escalas de duração. Para durações excedendo 500 ms, aproximadamente, a intensidade do som no limiar é independente da duração. Contudo, para durações menores que 200 ms, aproximadamente, a intensidade necessária para detecção aumenta com a diminuição da duração. A habilidade de integração temporal decorre da somação da atividade neuronal, resultante de uma adicional duração da energia sonora. Shinn (2003) afirmou que o limiar de detecção melhora com o aumento da duração do sinal entre 200 e 300 ms, em indivíduos normais.
O mascaramento temporal é caracterizado pela mudança do limiar de um som na presença de outro estímulo subsequente. Isto ocorre quando um estímulo é apresentado com duração e intensidade suficientes para reduzir a sensibilidade de outro estímulo apresentado antes ou depois do estímulo inicial (Shinn, 2003).
Moore (1996) descreveu os dois tipos de mascaramento temporal como sendo mascaramento retrógrado (backward masking) e mascaramento anterógrado (forward
masking), sendo que se o sinal preceder o mascarador, a tarefa é chamada de mascaramento retrógrado e quando o sinal seguir o mascarador, o processo é o mascaramento anterógrado.
A habilidade auditiva de resolução temporal refere-se ao mínimo tempo
requerido para segregar ou resolver eventos acústicos. O limiar para resolução
temporal é conhecido como acuidade auditiva ou tempo mínimo de integração
temporal (Shinn, 2003). Para sinais breves, este tempo é normalmente em torno de 2 a 3 mseg. No que se refere à localização do mecanismo fisiológico da resolução temporal, alguns autores sugeriram que as fibras do nervo auditivo teriam uma grande participação no processo. Ainda, esta habilidade depende da segregação de diferentes estímulos auditivos e o papel do início do estímulo e da precisão de codificação desta resposta é crucial. Supostamente, os neurônios do córtex auditivo são sensíveis a estes estímulos iniciais transitórios, incluindo o início de eventos periódicos e a modulação incidente de outros sinais periódicos (Phillips, 1993).
Os neurônios do córtex auditivo primário respondem brevemente e transitoriamente ao início dos sons, independente da duração do sinal. Estes neurônios são sensíveis à freqüência do som, bem como ao seu tempo de surgimento (ataque), o qual contribui significantemente para o espectro de curto-termo do início do sinal. A
brevidade da resposta ao início do som é delineada pela resposta inibitória pós-início e pela adaptação neural (Phillips, 1993).
Embora existam várias formas de se medir a resolução temporal, na prática clínica, os testes mais utilizados são a percepção de gap ou detecção de gap, que consiste em perceber a existência de um intervalo de silêncio entre dois sons consecutivos.
Embora os mecanismos que se referem ao processamento temporal não sejam totalmente conhecidos ainda, sabe-se que eles são fundamentais para o processamento da audição.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Hirsh IJ. Auditory perception of temporal order. The Journal of the Acoustical
Society of America. v. 31, n. 6, p. 759-67, 1959.
Moore BCJ. Temporal analysis in normal and impaired hearing. Annals of the New
York Academy of Sciences. v. 682, p. 119-36, 1993.
Moore BCJ. An introduction to the psychology of hearing. 4a ed. San Diego:
Academic Press, 1996. Chapters 2, 3 e 4.
Musiek FE, Shinn J, Hare C. Plasticity, auditory training, and auditory processing
disorders. Seminars in Hearing. v. 23, n. 4, p. 263-75, 2002.
Phillips DP. (1993a) Neural representation of stimulus times in the primary auditory
cortex. Annals of the New York Academy of Sciences. v. 682, p. 104-18, 1993.
Shinn JB. Temporal processing: the basics. Hear J. v. 56, n. 7, p. 52, 2003.
Wright BA, Buonomano DV, Mahncke HW, Merzenich MM. (1997a) Learning and
generalization of auditory temporal-interval discrimination in humans. The Journal
of Neuroscience. v. 17, n. 10, p. 3956-63, 1997.
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