FATOS E MITOS EM AMPLIFICAÇÃO
Kátia de Almeida
Coordenador(a)
Instituição: FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA SANTA CASA DE SÃO PAULO
 
Quando se trata de adultos, os objetivos do uso de próteses auditivas não se restringem apenas a corrigir ou minorar a perda da sensibilidade auditiva, garantindo a audibilidade dos sinais menos intensos e o conforto daqueles de moderada e forte intensidade; mas também reduzir ou eliminar as limitações causadas pela perda auditiva; e restaurar ou expandir o envolvimento social do indivíduo. O portador de uma perda auditiva neurossensorial não ouve apenas menos do que o normal; ouve pior e com alterações importantes na qualidade do sinal acústico. Isso porque além da elevação dos limiares de audibilidade, outros déficits perceptuais estão associados como seletividade de freqüência reduzida; redução da resolução temporal; alteração do processamento binaural da informação e redução da área dinâmica da audição. Quando selecionamos próteses auditivas para determinado indivíduo temos como meta escolher um conjunto de características eletroacústicas que torne os sinais acústicos audíveis, confortáveis, com boa qualidade sonora e que permita melhor reconhecimento de fala. Mesmo com toda a tecnologia disponível, apenas a elevação do limiar é satisfatoriamente corrigida com a amplificação. Assim sendo, se a tecnologia não é capaz de solucionar todos os déficits resultantes da perda auditiva neurossensorial, nossos esforços devem ser concentrados para selecionar e adaptar a melhor prótese auditiva, a fim de minorar as dificuldades de audição enfrentadas pelo indivíduo. Estatísticas americanas demonstram que aproximadamente 10 a 16% da população adulta possuem uma perda de audição e que muitos desses indivíduos não fazem uso de próteses auditivas. E por qual motivo? Será que todos os portadores de perdas auditivas seriam bons candidatos ao uso da amplificação caso conseguíssemos convencê-los a tentar? Duas questões importantes emergem quando o fonoaudiólogo deve traçar um prognóstico para o futuro usuário no que se refere ao benefício a ser obtido com o uso da amplificação: será que este indivíduo é suficientemente surdo para se beneficiar do uso de próteses auditivas ou ao contrário, será que ele é muito surdo e, portanto, próteses auditivas não serão eficazes? Aqui reside um dos muitos mitos relacionados ao uso das próteses auditivas: perdas auditivas de grau leve e de grau profundo não se beneficiam do uso da amplificação. O fato é que, não é o grau de perda de audição que irá distinguir aqueles indivíduos que experimentarão benefício daqueles que não irão se beneficiar. Tomando-se como base apenas os limiares audiométricos parece claro que quanto maior o grau de perda auditiva maior o benefício obtido com o uso da amplificação, sendo também verdadeiro o inverso. Mas na prática não é isso que ocorre. O grau de perda auditiva não é o único fator determinante do benefício. As habilidades de reconhecimento de fala; a auto percepção do handicap e das incapacidades auditivas; as necessidades de audição e expectativas do indivíduo, bem como as preocupações estéticas, a idade e personalidade do usuário influenciarão e determinarão o benefício obtido com o uso da amplificação. Independentemente do grau de perda auditiva, a expectativa do futuro usuário relacionada ao uso da amplificação pode tanto ser elevada quanto rebaixada. Alguns indivíduos têm a falsa noção de que a prótese irá restaurar integralmente a função auditiva e, como conseqüência, solucionar todos os problemas de comunicação enfrentados por ele. O futuro usuário deve ser orientado no sentido de que as próteses auditivas fornecem maior benefício em determinados ambientes do que em outros. O fonoaudiólogo deve procurar dar ao indivíduo uma estimativa do aproveitamento auditivo e do benefício esperado (face ao grau de perda auditiva) com o uso da amplificação nas situações de vida diária, além de salientar em que ambientes é esperado o melhor desempenho. Isto significa mostrar tanto as vantagens quanto às limitações da prótese, tornando as expectativas do futuro usuário mais realistas, motivando-o para o uso, além de fortalecer a confiança do indivíduo no trabalho desenvolvido. O usuário deve estar ciente de que o seu desempenho com prótese auditiva no silêncio deverá ser melhor do que sem amplificação e, portanto, não deve esperar ter o mesmo desempenho com a prótese no silêncio e no ruído. O profissional deve assegurar ao deficiente auditivo que a prótese auditiva tornará a fala em fraca intensidade, audível; em média intensidade, confortável e quando intensa, não deverá ser desconfortável; que o conjunto molde auricular /aparelho não deverá provocar qualquer desconforto físico e o que som amplificado não provocará autofonia ou realimentação acústica. Outra questão importante refere-se à seleção do tipo de prótese auditiva mais adequado a cada caso, associada freqüentemente a muitos mitos. O avanço considerável no desenho, miniaturização, construção e controle de qualidade das próteses auditivas, especialmente nas intra-aurais (intrauriculares, intracanais e as microcanais), fez crescer a comercialização deste tipo de aparelho. E para adultos a escolha do tipo de prótese auditiva recai basicamente entre as intra-aurais em suas diferentes versões. Muitos são os fatores que devem ser considerados quando selecionamos o estilo do aparelho mais adequado a cada caso, mas para a população adulta o fator estético tem um forte apelo. A aparência cosmética é tão importante, que cada vez mais as próteses menos perceptíveis são as mais procuradas, como as próteses auditivas microcanais. Mas será que essas próteses auditivas podem ser usadas por todos os portadores de perdas auditivas dos mais variados graus? Certamente que não, fatores audiológicos como o grau e a configuração da perda auditiva devem ser considerados na escolha do tipo mais adequado de aparelho. E com relação à idade existe alguma restrição em termos da indicação de aparelhos intra-aurais? Durante muito tempo acreditava-se que para idosos seria melhor o uso de próteses retroauriculares, em virtude do tamanho do aparelho e de seus controles bem como da maior facilidade de manipulação. Entretanto, o advento da tecnologia digital fez desaparecer a maioria os controles externos das próteses auditivas, o que facilitou ao usuário a sua manipulação. O fato é que as próteses auditivas intra-aurais são mais fáceis de serem inseridas e removidas do meato acústico externo do que as retroauriculares. Pode ser que para o usuário seja mais difícil a troca da pilha, mas mesmo assim muitos idosos irão preferir esse tipo de prótese auditiva. E a questão estética não deve ser considerada? Vale ressaltar que muitas pessoas negam-se até mesmo a experimentar uma prótese, por achar que ela irá causar uma imagem negativa nos outros, mexendo com a sua vaidade e sua auto-imagem, chegando a ser um símbolo de velhice e degeneração. Quando estivermos avaliando o candidato ao uso da amplificação, que possua problemas de aceitação estética da prótese auditiva, deve existir uma estreita relação entre as características eletroacústicas necessárias para compensação da perda de audição e o tamanho do aparelho que será utilizado. O objetivo é satisfazer, sempre que possível, as necessidades estéticas do paciente, porém priorizando as necessidades acústicas. O futuro usurário deverá ser bem orientado quanto as diferentes características em relação ao tamanho das próteses auditivas, pois ele nunca ficará satisfeito com uma prótese de tamanho maior, se julgar que uma menor lhe proporcionaria audição semelhante. Há prós e contras em cada tipo de prótese auditiva. Por essa razão, cada caso deve ser avaliado cuidadosamente, levando-se em consideração as necessidades de ganho acústico e saída máxima; a tecnologia; a versatilidade de características eletroacústicas; a facilidade de manipulação, inserção e remoção; a compatibilidade de uso ao telefone; o custo; e, sempre que possível, as necessidades estéticas do futuro usuário. A existência da deficiência auditiva implica na existência de alterações no sistema auditivo ou em sua função. Apesar de todos os avanços tecnológicos as próteses auditivas ainda apresentam inúmeras limitações no que se refere à normalização da sensação de intensidade, qualidade do som amplificado, desempenho satisfatório na presença de ruído, efeito de oclusão ocasionado pela inserção do molde auricular ou prótese auditiva no meato acústico externo e realimentação acústica. A tecnologia é o caminho para minimizar as dificuldades de audição e de comunicação do portador de deficiência auditiva. Cabe ao fonoaudiólogo discernir o que mito do que é fato buscando com isso aprimorar seus conhecimentos e buscar as melhores opções para o seu paciente.
 
Contato: kalmeida@terra.com.br
 

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