Código: PIC0650
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO ORAL MAIS UTILIZADAS POR LARINGECTOMIZADOS TOTAIS |
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Autores: Sabrina Schützenhofer Lasch |
Instituição: CENTRO EDUCACIONAL SÃO CAMILO - SUL |
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A laringe, bem como os olhos e os ouvidos, permite que o homem interaja com o mundo. A laringectomia, ou seja, a remoção cirúrgica da laringe, exige que o paciente respire definitivamente pelo traqueostoma e implica na perda de uma função especialmente humana: a fonação.
Com a comunicação oral prejudicada, comprometido física e emocionalmente, o paciente laringectomizado total questiona-se como irá desempenhar seus papéis social, profissional e familiar. A Fonoaudiologia pode compensar esse déficit, proporcionando uma reintegração por meio de métodos alaríngeos de reeducação vocal.
Ainda que existam meios alaríngeos de reabilitação oral, deve-se levar em consideração que o paciente laringectomizado total está incapacitado de utilizar a sua voz, está desprovido de sua identidade e para adquirir um novo método de comunicação oral, o apoio do corpo clínico envolvido e dos familiares torna-se imprescindível, pois a reabilitação vocal envolverá desanimo, tropeços e fracassos e necessitará de muita persistência.
Com a finalidade de buscar uma nova voz para comunicar-se, a pessoa laringectomizada tem três opções: laringe artificial, a fala esofágica ou uma variação desta, a fala traqueoesofágica. Antes, porém, é comum observarmos situações em que o paciente lança mão da voz bucal ou consonantal, utilizando o sussurro para comunicar-se. Com um desses métodos, o paciente poderá novamente exteriorizar seu pensamento através da palavra falada.
Em face do exposto, o estudo teve como objetivo geral verificar a estratégia de emissão vocal mais utilizada pelos pacientes laringectomizados totais que tiveram acesso a fonoterapia no pós-operatório.
O estudo foi realizado nas dependências de um grande hospital de Porto Alegre/RS, no Serviço de Otorrionolaringologia e Fonoaudiologia, mediante termo de Consentimento da Instituição e do paciente, respeitando os aspectos éticos determinados por lei.
A população alvo constou de pacientes de ambos os sexos, sem limite de idade, que foram submetidos a laringectomia total e que tiveram acesso à fonoterapia para reabilitação vocal no pós-operatório.
A coleta de dados foi realizada por meio de formulário de entrevista composto por perguntas abertas e fechadas. O instrumento foi aplicado pelo autor na ocasião do encontro do grupo de laringectomizados, que acontece uma vez por semana na instituição. A entrevista visou obter informações referentes ao tipo de comunicação oral alaríngea utilizada pelo paciente atualmente, além de dados como perfil do paciente; tempo de pós-operatório; tipo, tempo e local da fonoterapia; qual profissional que orientou sobre os meios de comunicação alaríngeos existentes e importância da fonoterapia junto ao processo terapêutico da laringectomia total.
Foram entrevistados no período de março a maio de 2004, 15 indivíduos laringectomizados totais, dos quais 73% eram do sexo masculino e 27% do feminino, com idade mínima de 57 anos e máxima de 73 anos, com média de 64,86 anos. Quanto ao estado civil, 80% dos entrevistados eram casados. Quanto à origem, 73% eram naturais do interior do Estado do Rio Grande do Sul, 20% eram naturais da capital Porto Alegre e 7% provenientes de outro estado brasileiro. Em relação à naturalidade dos entrevistados, os achados permitem inferir que a afluência de pessoas do interior do Estado deu-se pela falta de assistência ao paciente oncológico nas suas cidades de origem. Os pacientes procuraram sanar suas necessidades em grandes hospitais que dispõe dos serviços de cirurgia e fonoterapia. Nesse percentual também haviam pacientes já operados que foram encaminhados a fonoterapia em grupo da instituição pesquisada e, pacientes que apenas nasceram no interior do Estado, mas moravam em Porto Alegre / RS.
Entre os indivíduos entrevistados, o tempo decorrente da laringectomia total variou de 4 meses a 16 anos.
Em relação ao tempo de pós-operatório, percebeu-se que os pacientes operados há mais de um ano participavam do grupo de fonoterapia para cultivar amizades, trocar informações e prestar apoio aos novatos, encorajando-os e instruindo-os sobre os métodos facilitadores de aprendizagem da comunicação alaríngea que eles utilizaram. Já os que participavam do grupo há menos de um ano aprendiam e praticavam, optando pelo método mais satisfatório e, além disso, também prestavam apoio aos novos integrantes.
O fonoaudiólogo, com 54% das citações foi o profissional que mais orientou os pacientes sobre as estratégias de comunicação possíveis para indivíduos laringectomizados. O médico otorrionaringologista responsável pelo caso orientou 20% dos entrevistados sobre os métodos alaríngeos de comunicação existentes. 13% dos pacientes relataram que ambos os profissionais - o médico ORL responsável pelo caso e o fonoaudiólogo - realizaram as orientações. Já os demais, apontaram familiares de pacientes laringectomizados e amigos, como responsáveis em divulgar os meios de comunicação possíveis após a cirurgia.
Com relação ao tipo de fonoterapia, 93% dos entrevistados realizaram e ainda realizam fonoterapia em grupo. 7% procuraram ambos atendimentos: individual e em grupo. 40% tiveram a oportunidade de participar da fonoterapia em grupo uma vez antes da laringectomia e, logo após a recuperação continuaram a reabilitação. Enquanto que 60% começaram a reabilitação vocal após a cirurgia.
Quanto ao local da fonoterapia, 86% dos laringectomizados foram atendidos exclusivamente na instituição hospitalar onde a pesquisa foi realizada; 7% foram atendidos por fonoaudiólogo particular e na instituição pesquisada e 7% em dois hospitais que dispõe de fonoterapia em grupo aos laringectomizados totais.
Todos os pacientes relataram que a fonoterapia foi e continua sendo importante para a reabilitação e reintegração social; melhora na comunicação e melhora no aspecto emocional. Por alguns entrevistados foram citados outros motivos: amizade, troca de experiências, coragem, apoio. Entendem-se as colocações extras, pois ainda freqüentam as reuniões do grupo de laringectomizados. Esse grupo de reabilitação fonoaudiológica transformou-se também em um grupo de convivência, aberto aos antigos participantes e, aos novos que estão na iminência cirúrgica.
Em resposta ao objetivo geral do estudo, 46% dos entrevistados utilizam a voz esofágica como estratégia de comunicação oral alaríngea. A laringe artificial é utilizada por 26% dos respondentes. Verificou-se alguns casos onde os pacientes aliam as estratégias de comunicação alaríngeas a outras formas de comunicação como a escrita e os gestos.
Destaca-se a importância da Fonoaudiologia no sentido de promover não apenas uma estratégia, mas a melhor forma de comunicação possível, suprindo a necessidade humana de integração social e proporcionando qualidade de vida ao laringectomizado total. |
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