AÇÕES INCLUSIVAS NA FONOAUDIOLOGIA
Débora Deliberato
Palestrante
Instituição: FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS - UNESP/MARÍLIA
 
Recursos e procedimentos de comunicação suplementar e alternativa no contexto escolar Débora Deliberato Docente do Departamento de Educação Especial e do Programa de Pós-graduação em Educação da Unesp de Marilia. Grupo de Pesquisa Deficiências Físicas e Sensorias. Pensar a respeito da comunicação suplementar e alternativa no contexto escolar tem sido minha preocupação nestes últimos quinze anos. Trabalho no Departamento de Educação Especial com formação de professores e, também com alunos do curso de Fonoaudiologia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional e com o Programa de Pós-graduação em Educação. Trabalhar na Educação Especial como fonoaudióloga é um desafio. É um desafio à medida que muitos dos objetivos estabelecidos estão vinculados a um conjunto de políticas públicas. A política de inclusão de alunos que apresentam necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino e nas diferentes situações sociais não consiste apenas na permanência física desses alunos junto com os demais educandos, mas representa a ousadia de rever concepções e paradigmas, bem como desenvolver o potencial dessas pessoas, respeitando suas diferenças e atendendo a necessidades de cada um (ARANHA, 2000, 2003, 2004). Acredito que a atuação do fonoaudiólogo no contexto educacional do aluno com deficiência, principalmente os alunos com severo distúrbio de comunicação, tem três direções conjuntas: o professor, o aluno e a família. Fonoaudiólogo na formação de professores No Brasil quando discutimos a respeito de formação de professores quer seja para o ensino especial ou para um ensino numa perspectiva inclusiva, podemos identificar alguns desafios: como ensinar um aluno não-falante? Quais os conteúdos que devem ser selecionados para os alunos não-falantes? Quais são as estruturas curriculares? Quais são os recursos e estratégias de comunicação suplementar e alternativa que devem ser utilizados? Qual é a melhor formação para nossos professores: especializada ou na perspectiva inclusiva? Quais as formas de avaliar a aprendizagem dos alunos não-falantes? Como inserir a família no processo educacional? Na formação de professor, o fonoaudiólogo deve atuar de forma sistemática, principalmente nos conteúdos relacionados aos processos de aquisição e desenvolvimento da linguagem, assim como nos recursos e procedimentos que viabilizem os processos comunicativos, favorecendo a aprendizagem escolar. A participação do fonoaudiólogo na construção do planejamento pedagógico e no acompanhamento das atividades poderá auxiliar o professor na atuação dos alunos com necessidades educacionais especiais, principalmente em relação aos aspectos da comunicação do aluno deficiente. Na minha experiência na educação especial e no processo inclusivo, o professor não consegue utilizar a comunicação suplementar com seus alunos quer seja na seleção, implementação ou acompanhamento do material. A presença do fonoaudiólogo na escola, não é apenas de realizar triagens e levantar problemas ou mesmo de propor encaminhamentos, mas deve atuar no processo de construção do planejamento escolar e dos procedimentos relacionados com os processos comunicativos (DELIBERATO, 2003; DELIBERATO & MANZINI, 1997). O fonoaudiólogo deve ter ciência da importância da relação interacional que será feita com a escola, com os professores e demais pessoas atuantes com os alunos não-falantes. Neste sentido, seria importante o momento de reflexão e escuta com o professor. Identificar as dificuldades e angustias dos professores é um procedimento importante para propostas de formação de cursos e de orientações sistemáticas. Os exemplos, a seguir, ilustram algumas das principais queixas apontadas pelos professores: “...não tenho conhecimento de como se dá o seu desenvolvimento e, portanto, não sei como posso desempenhar diante destas crianças” (P1); “....apresentam distúrbios na fala e não conseguimos entendê-los” (P2); “...o relacionamento é difícil, as demais crianças tinham dificuldade em aceitá-la” (P3); “...ele tenta uma comunicação, mas não consigo entender...” (P4). O conteúdo da fala destes professores pode e deve direcionar as orientações sistemáticas e a organização de propostas de conteúdos para os cursos de formação de professores e para o planejamento pedagógico com os alunos. Fonoaudiologia na adaptação curricular Adaptação curricular é um conjunto de modificações nos elementos físicos e materiais de ensino, bem como aos recursos pessoais do professor quanto ao seu preparo para trabalhar com os alunos deficientes (BRASIL, 1997, 2001). Nas atividades práticas com os alunos é necessário avaliar suas habilidades comunicativas em situações interacionais, de forma que possamos iniciar um trabalho de identificação de vocabulário funcional nas diferentes situações: escolar, familiar e individual (DELIBERATO & MANZINI, 1997, 2000; DELIBERATO, MANZINI, SAMESHIMA, 2003). A sistematicidade de informação a respeito das habilidades comunicativas utilizadas pelo aluno nas situações familiares é importante para a construção do planejamento pedagógico. A família deve estar ciente e consciente das diferentes possibilidades de manifestação da linguagem que viabilizam os processos de interação e, assim, favorecem a interação social e escolar. A partir do momento em que a família está consciente dos recursos comunicativos já utilizados pelos filhos e do potencial a incorporar outros procedimentos facilitadores de interação, o professor poderá utilizar esses recursos nas suas atividades pedagógicas, garantindo, desta forma, a possibilidade do aluno participar efetivamente do processo de ensino e aprendizagem. Neste sentido, o fonoaudiólogo pode ser o mediador entre escola – família – aluno no processo de construção da linguagem e, com isto, favorecer as possibilidades de inclusão nas atividades pedagógicas. Na prática, o fonoaudiólogo deve elaborar um programa de atuação em conjunto com a escola, professor e demais profissionais envolvidos com os alunos. Neste programa, algumas propostas são fundamentais: 1. Observação dos alunos nas atividades escolares: sala de aula, intervalos e outras atividades; Observação dos alunos nas atividades pedagógicas. Para isto, é importante a utilização de um protocolo de registro ou um diário de campo. Com este material, o fonoaudiólogo registra as formas de expressão dos alunos e a efetividade das interações com diferentes interlocutores e identifica o vocabulário funcional utilizado na rotina das atividades. 2. Organização e discussão do planejamento pedagógico e Informações a respeito das atividades diárias. O fonoaudiólogo deve realizar entrevistas semanais utilizando o planejamento da semana como norteador das questões a respeito das adaptações de materiais e estratégias de comunicação necessárias para os diferentes alunos. 3. O planejamento pedagógico deve ser adaptado às necessidades do aluno sem alterar seus objetivos de ensino; as adequações dos conteúdos das atividades devem ser realizadas no contexto do grupo; confeccionar e adaptar recursos comunicativos, como por exemplo: pranchas, pastas, painéis de comunicação para o uso individual e em grupo além de intensificar as possibilidades de comunicação não-verbal; Adequações dos procedimentos utilizados em sala de aula: tempo de realização das atividades, organização das atividades e disposição espacial entre os alunos e entre o aluno e professor. Neste conjunto de atividades, a história é um recurso que amplia o vocabulário e as estruturas sintáticas dos alunos, mesmo para os alunos não-falantes. (MUNIZ, 2004; MANZINI & DELIBERATO, 2004). 4. O fonoaudiólogo deve promover orientações e discussões do processo de aprendizagem dos alunos envolvendo o professor e a família; envolver a família no processo de adequações dos recursos comunicativos nas diferentes situações escolares e sociais. Neste contexto, a família pode registrar as diferentes formas de expressão de seus filhos no caderno de campo ou em protocolos específicos. A partir dos registros é possível organizar as atividades e materiais que devem ser utilizados pela família em conjunto com o professor. (DELIBERATO, MANZINI, SAMESHIMA, 2002) 5. O fonoaudiólogo deve avaliar os procedimentos realizados em conjunto com a escola e professor em diferentes ambientes. A proposta de um programa envolve uma participação efetiva do fonoaudiólogo durante todo o processo de aprendizagem do aluno deficiente. Para esta participação o fonoaudiólogo necessita conhecer as políticas públicas de educação e as necessidades dos sujeitos no contexto escolar, quer no ensino regular ou no ensino especial. (DELIBERATO, MANZINI, SAMESHIMA, 2002, 2003) Pensar no processo de inclusão escolar do aluno deficiente é um projeto que deve ser construído por todos: família, escola e diferentes setores públicos e a população. Todo programa necessita de um planejamento, experimentação, de forma a garantir o acesso e a permanência do aluno deficiente quer seja na escola ou em outras instâncias. Neste contexto, relato procedimentos realizados nos projetos de comunicação alternativa: Projeto NEMO, Projeto da Musica, Projeto do Conto e Reconto.
 
Contato: delibera@marilia.unesp.br
 

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