TECNOLOGIA EM AMPLIFICAÇÃO: ESTUDO DE CASO II |
Kátia de Almeida
Coordenador(a) |
Instituição: FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA SANTA CASA DE SÃO PAULO |
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Nas duas últimas décadas os avanços tecnológicos que ocorreram no design e tecnologia das próteses auditivas bem como nos procedimentos de seleção levaram a uma melhora importante na adaptação de próteses auditivas. Novos equipamentos com processamento digital do sinal acústico tornaram-se disponíveis gerando a cada inovação uma conseqüente melhora na qualidade do som amplificado. Graças a tais avanços podemos dizer que atualmente, a maioria dos indivíduos deficientes auditivos pode se beneficiar do uso de uma prótese auditiva.
O prognóstico de sucesso que o indivíduo obterá com o uso da amplificação variará drasticamente dependendo do local da lesão, do grau de perda auditiva e principalmente das expectativas existentes com relação à amplificação. De modo geral podemos dizer que para os portadores de perdas neurossensoriais os resultados esperados não serão tão satisfatórios quanto àqueles obtidos na protetização das perdas condutivas e serão bem piores se houver algum comprometimento no sistema auditivo central.
Os objetivos do uso de próteses auditivas são: corrigir ou minorar a perda da sensibilidade auditiva garantindo a audibilidade dos sinais menos intensos e o conforto daqueles de moderada e forte intensidade; reduzir ou eliminar as limitações causadas pela perda auditiva; e restaurar ou expandir o envolvimento social do indivíduo.
No processo de adaptação de próteses auditivas, a definição das características físicas e eletroacústicas dos aparelhos deve ser realizada por meio de métodos que facilitem a verificação e validação das escolhas feitas. Muitas são as decisões que devem tomadas com base nas necessidades do indivíduo, na informação diagnóstica (grau e tipo de perda de audição, características físicas, etc.), no meio ambiente no qual o indivíduo vive, na evidência empírica e experiência clínica do profissional. Um dos aspectos mais importantes é a escolha das características eletroacústicas de ganho, resposta em freqüências, saída máxima e características de entrada-saída. Não existe um método para a prescrição das características da amplificação que seja universalmente aceito. É da responsabilidade do profissional a determinação do método mais adequado a cada caso de modo que as características da amplificação prescritas sejam compatíveis com as necessidades audiológicas individuais.
Aspectos não relacionados diretamente às características de amplificação da prótese auditiva são também fundamentais de serem determinados na etapa de seleção como a adaptação mono ou bilateral; o tipo de processamento do sinal; o tipo da prótese auditiva; os controles necessários; as opções de microfones; existência ou não de controle de volume e da bobina telefônica.
Há um consenso geral dentre os profissionais da área de indicarem para seus pacientes, o uso duas próteses auditivas, a menos que haja uma contra-indicação clara e precisa. A principal razão para o uso de próteses bilaterais é que o individuo possa usufruir todas as vantagens das diferenças interaurais de intensidade, tempo e espectro do estímulo sonoro que fornecem as pistas adicionais necessárias para aproximar o deficiente auditivo das experiências auditivas normais. Além disso, é fundamental garantir a estimulação bilateral por meio do uso de dois aparelhos evitando dessa forma os efeitos deletérios da privação sensorial.
A tecnologia que determina a forma de processamento do sinal sonoro deve ser selecionada com base nas necessidades audiológicas, nas demandas auditivas individuais; nas aspirações do usuário no que se refere à tecnologia, nas necessidades estéticas e nos recursos financeiros existentes. Mesmo os aparelhos analógicos e digitalmente programáveis atuais possuem características avançadas em seus circuitos como: menor ruído interno; distorção mínima; múltiplos programas; compressão de área dinâmica ampla; bandas múltiplas de compressão; grande versatilidade de ajustes; estratégias de controle de realimentação acústica e de redução de ruído; e múltiplos microfones. Então qual seria a diferença entre as próteses auditivas analógicas e as digitais? A diferença é que as próteses digitais possuem certas características de amplificação e funções de processamento que são únicas (sem que haja aumento no tamanho do aparelho ou maior consumo de energia), não sendo possível de obtê-las na tecnologia analógica convencional. Além disso, a tecnologia de processamento digital de sinal permite manipulação ilimitada do sinal de entrada. Nenhuma outra tecnologia de próteses auditivas, até o momento, tem se mostrado tão superior, a ponto de ser a única abordagem para ser adotada pelos fabricantes. A habilidade em manipular vários parâmetros de desempenho, juntamente com a habilidade para modificar cada um destes parâmetros, torna-se um argumento forte para que a tecnologia que emprega o processamento digital de sinal continue a ser empregada para suprir as necessidades acústicas dos portadores de deficiência auditiva.
Nos últimos anos, com o avanço considerável na miniaturização, construção e controle de qualidade das próteses auditivas, especialmente nas intra-aurais (intrauriculares, intracanais e as microcanais), fez com que a comercialização deste tipo de aparelho venha crescendo a cada ano. Na maioria dos casos a escolha do tipo de prótese auditiva recai basicamente entre as intra-aurais em suas diferentes versões. Próteses retroauriculares também podem ser utilizadas, mas seu uso tem ficado restrito apenas por aqueles que possuem perdas auditivas de graus mais severos, apesar de serem encontradas em vários tamanhos (inclusive as mini retroauriculares) e possuírem grande versatilidade de ajustes. A escolha do tipo de prótese auditiva deve ser baseada principalmente em fatores audiológicos e físicos. Os fatores audiológicos a serem considerados são o grau e a configuração da perda auditiva que determinam o ganho acústico por freqüência e a potência geral do aparelho.
Microfones direcionais não são nenhuma novidade tecnológica, uma vez que têm sido utilizados nas próteses auditivas, há mais de 20 anos, estando disponíveis tanto em próteses analógicas quanto nas digitais. Este tipo de microfone tem como principal característica, maior captação para os sons de incidência frontal, enquanto os que vêm de trás são atenuados, fato que melhora substancialmente a relação sinal-ruído para o seu usuário. Próteses auditivas retroauriculares com microfones direcionais existem no mercado há muitos anos. As novidades são que agora estão disponíveis, também, nas intrauriculares e há alguns modelos que possuem os dois tipos de microfones com chaves seletoras, que permitem ao usuário selecionar o microfone omnidirecional ou direcional.
Sistemas de compressão são aqueles nos quais o ganho varia, dependendo da intensidade do sinal de entrada no microfone do aparelho, podendo ser controlado na entrada ou na saída do circuito de amplificação. Para aqueles indivíduos com redução na área dinâmica da audição, em vez de usar um aparelho que mantenha o mesmo ganho para todos os níveis de entrada sonora (amplificação linear), o ideal seria utilizar um aparelho que automaticamente ajuste o ganho, dependendo da intensidade do sinal de entrada, a amplificação não linear.
O uso crescente de próteses auditivas com compressão (amplificação não linear) tem feito decrescer a necessidade de haver controle de volume nas próteses auditivas, o que pode ser satisfatório para alguns usuários e insatisfatório para outros. Não há meios de prever qual futuro usuário necessitará ou não do controle de volume. Mas a experiência clínica tem demonstrado que é preferível selecionar uma prótese auditiva com controle de volume nos seguintes casos: usuários experientes e satisfeitos de próteses auditivas que possuam controle de volume e estejam trocando de aparelho; usuários de aparelhos com amplificação linear; e quando o paciente relata que, em algumas circunstâncias, gostaria de poder alterar o volume de suas próteses auditivas.
Outra questão importante é a bobina de indução que é essencial para aqueles indivíduos portadores de perdas auditivas mais severas que, certamente, poderão ser beneficiados pela facilitação de acesso ao telefone ou pela redução de ruído e reverberação em locais que possuam circuito de indução. O grande problema é que as próteses auditivas que possuem bobinas de indução são geralmente maiores em tamanho. Chaves seletoras devem ser utilizadas para mudar entre as duas opções: microfone e bobina de indução. Retroauriculares, intrauriculares e alguns modelos de intracanais possuem espaço suficiente em seu interior para acomodarem a bobina telefônica, o que não ocorre com certos intracanais e com todos os modelos de microcanais.
A tecnologia é certamente o caminho para minimizar as dificuldades de audição do deficiente auditivo e o futuro dos avanços tecnológicos parece estar completamente direcionado para os aparelhos com processamento digital do sinal. Na medida em que maiores informações sobre o funcionamento do sistema auditivo lesado e de como o processamento dos sinais acústicos poderia compensar tais alterações, novos algoritmos serão desenvolvidos para criar uma melhor interface com as necessidades de amplificação.
Para finalizar, é importante ressaltar que até mesmo a prótese auditiva com a mais avançada tecnologia não “restaura a audição normal”. A cóclea humana é um órgão sensorial fantástico e todo o avanço tecnológico ocorrido nos circuitos das próteses auditivas, busca imitar a cóclea e sua função. Embora estejamos longe de alcançar tal objetivo, certamente estamos caminhando nessa direção.
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Contato: kalmeida@terra.com.br |
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