Código: PDS0068
ALTERAÇÕES ASSINTOMÁTICAS DE ORELHA MÉDIA E SUA RELAÇÃO COM DESEMPENHO ESCOLAR DE CRIANÇAS DA PRIMEIRA SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL DE UMA ESCOLA DA REGIÃO SUL DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO,SEGUNDO A PERCEPÇÃO DE PAIS E PROFESSORES.
 
Autores: Carolina Fanaro da Costa Damato
Instituição: UNIVERSIDADE SANTO AMARO
 
A pesquisa propôs-se a estudar as alterações assintomáticas de orelha média e sua relação com rendimento escolar de crianças matriculadas na primeira série do ensino fundamental de uma escola municipal da região sul do município de São Paulo, segundo a percepção de pais e professores. propôs-se também a descrever o conhecimento relatado pelos professores acerca do tema audição/saúde auditiva. Os objetivos foram verificar a relação existente entre as doenças de instalação silenciosa de orelha média desempenho escolar em crianças da primeira série do ensino fundamental de uma escola da região sul do município de São Paulo;verificar a percepção das mães e professores em relação a comportamentos e queixas relacionadas a alterações assintomáticas de orelha média; descrever os conhecimentos dos professores acerca do tema estudado.O estudo foi do tipo observacional, com estratégia de observação seccional e unidade de observação individual. O universo constitui-se de 123 crianças, sendo 46 do gênero masculino e 76 do gênero feminino com idades entre 6 e 7 anos e 6 professores com idade de 33,5 anos em média, sendo 3 do gênero masculino e 3 do gênero feminino. A escola estudada pertence a uma das regiões mais carentes da cidade, segundo o Mapa da Vulnerabilidade Social. Foram observados baixa renda salarial e grau de escolaridade das famílias. Os critérios de inclusão foram: crianças com faixa etária entre 6 e 7 anos de idade, matriculadas na primeira série do ensino fundamental da escola selecionada, com permissão por escrito dos pais, sem doença otológica conhecido ou em tratamento otorrinolaringolóh=gico na época da coleta dos dados, além dos professores responsáveis pelas classes de primeira série. Utilizou-se de questionário auto - aplicável para pais, sobre aspectos demográficos, antecedentes pessoais. familiares e otorrinolaringológicos das crianças;para os professores, utilizou-se também de questionário auto - aplicável sobre rendimento escolar e comportamento das crianças e cinco questões abertas sobre audição/saúde auditiva. Foram realizados exames clínicos otorrinolaringológico por médicos residentes em Otorrinolaringologia, composta por oroscopia, rinoscopia e otoscopia, esta última sendo realizada com otoscópio da marca Heine, modelo K100, além de exames de audiometria e timpanometria, realizados por fonoaudiólogas com equipamentos da marca Damplex DA 65 e Tymp 83 respectivamente, devidamente calibrados conforme Portaria 19 do Conselho Federal de Fonoaudiologia. Adotou-se o limite de -100mmde H2) ou ausência do pico de complacência máxima, como indicação de anormalidade de orelha média, conforme descrito na literatura. Para análise dos dados, aplicou-se o teste de G de Cochran a fim de verificar as concomitâncias entre as queixas auditivas de mães e professores e os exames de otoscopia, timpanometria e audiometria. Este teste também foi aplicado para verificar a concomitância entre as audiometrias normais ou alteradas e os comportamentos de dificuldade de fala, dificuldade de relacionamento, agitação, desatenção e isolamento do grupo. Foi utilizado também o teste de Mc Nemar, como objetivo de verificar as discordâncias entre os resultados dos exames de otoscopia, audiometria e timpanometria. O mesmo teste foi utilizado para estudar as discordâncias entre presença de dificuldades auditivas na crianças, relatadas por mães e professores em relação aos resultados dos exames acima assinalados. Foi utilizado ainda para as discordâncias entre as mães e professores, quanto à presença de dificuldade auditiva nas crianças. Aplicou-se também o teste do qui-quadrado ou teste exato de Fisher visando identificar possíveis associações entre desempenho escolar (bom ou ruim), dificuldade escolar (presente ou ausente), com as queixas auditivas de mães e professores, com os exames mencionados e com os comportamentos de agitação e desatenção. Foi aplicado também na verificação de associações entre comportamentos de agitação, desatenção com os tipos de dificuldades apresentadas, a saber, leitura, escrita e operações matemáticas. Fixou-se em 0,05 ou 5% o nível de rejeição da hipótese de nulidade. As referências utilizadas na pesquisa foram organizadas segundo o Consenso de Vancouver. Como resultados obteve-se que os professores, com média de 8,5 anos de magistério, pareceram não conhecer o tema proposto, apresentando dificuldades para suspeitar de alterações auditivas em seus alunos. As mães apresentaram melhor percepção das condições auditivas das crianças. As alterações assintomáticas detectadas nas crianças estudadas não foram significantes na associação com desempenho e dificuldade escolar, apesar das crianças com essas alterações apresentarem pior rendimento e maior dificuldades em porcentagens maiores do que as crianças sem alterações. As crianças com alterações de orelha média detectadas foram encaminhadas para tratamento em serviço especializado da rede pública de saúde. A alteração encontrada com maior freqüência na população estudada foi a pressão negativa e orelha média, o que foi observado em 17% das crianças examinadas, seguida de presença de líquido na orelha média, observada em 15% das crianças. Os exames de otoscopia e timpanometria mostraram-se mais eficazes na detecção de alterações de orelha média. As queixas mais freqüentemente assinaladas pelos professores,foram a agitação e a desatenção, as quais foram também as mais relacionadas com a presença de dificuldade escolar , especialmente em atividades de leitura e escrita e do baixo rendimento acadêmico. Tendo em vista os resultados apresentados foi possível chegar às seguintes conclusões: as alterações otológicas e audiológicas encontradas nas crianças estudadas não foram os únicos fatores relacionados ao baixo rendimento escolar; as mães conseguem perceber com maior facilidade as mudanças no comportamento auditivo de seus filhos; Os professores, apesar de observarem comportamentos sugestivos de dificuldade auditivas em seus alunos, não os relacionam com dificuldade auditiva, apresentando dessa forma, percepção insatisfatória das condições auditivas dos alunos. Demonstraram pouco conhecimento a respeito do tema tratado, sendo que a maioria deles conhece pouco sobre a avaliação audiológica básica. Assim, oferecem-se algumas sugestões, tais como, criar programas de educação em saúde, visando a promoção da saúde auditiva nas escolas, abertas à população e aos professores; elaborar materiais educativos sobre saúde auditiva, de fácil acesso e entendimento aos professores e à população; criar programas de reciclagem dos educadores, abordando o tema audição/saúde auditiva;implantação de programas de saúde auditiva, com realização de triagens auditivas nos escolares, tendo como meta a detecção e principalmente a prevenção de distúrbios da audição, melhorando assim o acesso à informação auditiva, tão importante para crianças em processo de aprendizagem, especialmente no período da alfabetização.
 
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