Código: PIA0950
DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO AUDITIVA EM INSTITUIÇÕES DA CIDADE DO RECIFE
 
Autores: Cristine Maia Pimentel, Evelyne Maciel Chacon, Gabriella Bispo Cavalcanti, Lorena Canto de Freitas, Maria Eduarda Neto Ferreira Gomes, Nathália Borges da Costa, Penha Karine Cavalcanti Siqueira, Viviany Meirelles
Instituição: UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO
 
Com os avanços ocorridos nos últimos anos, os métodos disponíveis para detecção de perdas auditivas têm propiciado que crianças deficientes auditivas sejam identificadas e diagnosticadas o mais cedo possível (Miniti, 2001, p.225; Almeida e Santos, 2003, p.357).
Segundo o Joint Committe on Infant Hearing (2000), um bebê com a perda auditiva deve ser identificado até o terceiro mês de idade e deve iniciar o processo de intervenção nos primeiros seis meses de vida. Isto porque os primeiros anos de vida são essenciais para o desenvolvimento lingüístico (período crítico lingüístico).
Estudos recentes realizados por Yoshinaga-Itano et al (1998, p.116), revelaram que crianças com perda auditiva podem desenvolver melhor as habilidades de fala e linguagem se a intervenção tiver início antes dos seis meses de vida.
Os programas de intervenção preconizados pelo JCIH (2000) devem levar em consideração o desenvolvimento educacional lingüístico, social e emocional da criança, como também, orientar à família quanto as possíveis decisões, dentro dos seus princípios culturais e educacionais (Miniti, 2001, p.225).
Na tentativa de verificar como se dá esse processo de diagnóstico em instituições na cidade do Recife, esta pesquisa verificou a faixa etária mais recorrente em que ocorreu o diagnóstico da perda auditiva, identificou os tipos de intervenções mais recorrentes e o tempo médio entre o diagnóstico e o início da intervenção da perda auditiva. Investigou-se também o motivo do tempo entre a identificação e a intervenção da perda auditiva.
Fizeram parte desta amostra 101 pais (99 do sexo feminino e 02 do sexo masculino) de crianças de 3 a 10 anos com perda auditiva na cidade do Recife.
Foram visitadas instituições na cidade do Recife (públicas e privadas) que oferecem serviços à população de diagnóstico e intervenção. Para a coleta dos dados, foi utilizado um questionário com perguntas semidirigidas aplicados às mães e/ou pais dessas crianças, onde obtivemos dados para análise. A análise estatística foi executada com o SPSS – 10.0.
De acordo com os resultados vimos que 68,1% dos pais perceberam que as crianças apresentavam algum problema na audição, antes dos dois anos de idade, onde a maioria dos pais 97 (96%) procurou algum tipo de tratamento, podendo este de certa forma minimizar as conseqüências que uma perda auditiva acarreta no período de aquisição de linguagem, já que a criança ainda está na fase de aprendizagem.
Em relação à queixa principal que os pais referiram como motivo da percepção da perda auditiva dos seus filhos, 62 (61,4%) das crianças não reagiam a sons; 12 (11,9%) demoraram a falar; 3 (3%) se comunicavam por gestos, 2 (2%) apresentavam movimentos estereotipados; 22 (21,9%) não tinham queixa.
Os profissionais mais procurados para o tratamento da dificuldade auditiva foram: 56 (55,4%) Otorrinolaringologista, 28 (27,7%) Fonoaudiólogo, 28 (27,7%) Pediatra, 4 (4%) Psicólogo, 3 (3%) Neurologista. Após o primeiro contato estes profissionais, 75 (74,3%) das crianças foram encaminhadas para o tratamento fonoaudiológico.
Quando perguntado sobre a realização de exames referentes de a audição, 99 (98%) diz ter feito a algum tipo exame audiológico e os outros 2 (2%) restantes não o realizaram. Dentre estes exames, 96 (95%) referiram ter feito a audiometria, 55 (54,5%) o ABR, 22 (21,8%) a EOA, 13 (12,9%) a imitânciometria. Vale ressaltar que para esta pergunta obteve-se, em alguns casos, mais de uma resposta (Tabela II).
A maioria dos exames realizados foi a audiometria (95%) por ser de fácil acesso e também por ser de menor custo.
O ABR é de grande procura, por parte dos pais, por ser um exame objetivo e por isso não depende da participação do paciente. Segundo Munhoz et al (2000, p. 191) o ABR é também um método tradicional, confiável, seguro, rápido, não invasivo, útil, principalmente quando integrado a outras avaliações. A indicação audiológica mais freqüente é para avaliação auditiva de crianças e neonatos.
Pôde-se observar, durante a análise dos dados, que as crianças menores de 3 a 4 anos realizaram mais exames de emissões otoacústicas, comparadas às crianças com idades superiores a 5 anos. A menor procura por parte dos pais de crianças mais velhas, pode ter como justificativa o fato desse exame ter uma aplicação clínica relativamente recente.
Quando perguntado aos pais se tinham conhecimento do diagnóstico dos seus filhos, ou seja, os tipos e graus das perdas auditivas, 87 (86,1%) sabiam informar, enquanto que os outros 14 (13,9%) não sabiam esses dados, embora soubessem que seus filhos tinham problemas auditivos.
Em relação à causa da perda auditiva, a rubéola foi a principal com 48 (47,5%). As outras patologias evidenciam que 18 (17,8%) não sabia informar ou tinha origem ideopática, 9 (8,9%) meningite, 7 (6,9%) ototoxidade, 6 (5,9%) hereditária, 4 (4%) incompatibilidade sanguínea, 4 (4%) anóxia, 3 (3%) sarampo, 2 (2%) diabetes.
Noventa e quatro dos pais entrevistados (93,1%) procuraram tratamento e receberam algum tipo de orientação e os outros 7 (6,9%) não o fizeram. Dentre as principais orientações que foram dadas para os pais da criança com deficiência auditiva destaca-se; 90 (89,1%) fonoterapia, 72 (71,3%) AASI, 57 (56,4%) orientação educacional, 26 (25,7%) suporte psicológico, 2 (2%) implante coclear e nenhuma sugestão cirúrgica. Vale ressaltar que nesta pergunta, em muitos dos casos, houve mais de uma resposta.
Foi observado que 89 (88,1%) dos pais seguiram as orientações recomendadas e 12 (11,9%) não as seguiram.
Dentre os procedimentos de tratamento mais realizados, pode-se citar: 88 (87, 1%) fonoterapia; 64 (63,4%) AASI; 55 (54,5%) orientação educacional, 16 (15,8%) suporte psicológico.
Observamos que os maiores índices para o tratamento auditivo foram em relação a fonoterapia (87,1%) e à aplicação e seleção de AASI (63,4%).
Um pouco mais da metade dos sujeitos (54,5%) estavam inseridos em escolas especiais, isto pode ser pelo fato de que apenas 56,4% receberam orientação educacional. Foi observado que o período em que ocorreu a intervenção foi menor, nas crianças que apresentaram o diagnóstico antes dos 2 anos de vida. Os motivos do tempo encontrados entre o diagnóstico e a intervenção foram: 41 (40,6%) promoção do desenvolvimento global da criança, 26 (25,8%) pela falta de informação; 20 (19,8%) pela dificuldade financeira; 9 (8,9%) lentidão dos serviços oferecidos; 3 (3%) falta de interesse; 2 (2%) dificuldade de locomoção. Nos casos dos pais que responderam que a intervenção foi imediata, objetivando o desenvolvimento global da criança, não se pode dizer que estes pais não passaram por dificuldades financeiras, atraso nos serviços oferecidos ou dificuldade de locomoção, mas sim, deram preferência ao tratamento do seu filho.
O tempo médio entre o diagnóstico e o início da intervenção foi de 17,4 meses, ou seja, 1,45 anos. Este dado obtido foi alto comparado com a média que o Joint Committee on Infant Hearing, 2000 recomenda. Mas não podemos deixar de enfatizar que a população analisada, era de baixo poder aquisitivo, comparados com os padrões sugeridos nos países de primeiro mundo.
Sabe-se que existem métodos disponíveis para detecção da perda auditiva logo após o nascimento, mas que nem toda a população tem acesso estes serviços. Não podemos deixar relatar que estes achados tornam-se altos pelo fato de poderem ser detectados mais precocemente, objetivando a diminuição do tempo que em que se inicia o tratamento.
Conclui-se que o diagnóstico se deu na faixa etária de 9 meses a 2 anos, o que indica 62,8% da população total pesquisada.
Os tipos de intervenção mais recorrentes foram: fonoterapia (87,1%); AASI (63,4%); orientação educacional (54,5%); suporte psicológico (15,8%).
Os motivos do tempo encontrados entre o diagnóstico e a intervenção foram: 41 (40,6%) promoção do desenvolvimento global da criança, 26 (25,8%) pela falta de informação; 20 (19,8%) pela dificuldade financeira; 9 (8,9%) lentidão dos serviços oferecidos; 3 (3%) falta de interesse; 2 (2%) dificuldade de locomoção.
O tempo médio entre o diagnóstico e o início da intervenção foi de 17,4 meses, ou seja, 1 ano e 5 meses. Este dado obtido foi alto comparado com a média que o Joint Committee on Infant Hearing, 2000 recomenda.
Sabe-se que existem métodos disponíveis para detecção da perda auditiva logo após o nascimento, mas que nem toda a população tem acesso a estes serviços. Sabendo os benefícios que um diagnóstico e tratamento precoce podem proporcionar para a criança e os métodos adequados para esta detecção de perda auditiva precoce, temos que incentivar a população e os profissionais envolvidos nessa área em efetivar estes procedimentos da melhor forma possível.
 
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Contato: nathaliabcosta@yahoo.com.br
 

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