EXERCÍCIOS EM MOTRICIDADE OROFACIAL: DA TEORIA À PRÁTICA |
Luciana Vitalino Voi Trawitzki
Palestrante |
Instituição: INSTITUIÇÃO FMRP-USP |
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Para o fonoaudiólogo que atua em Motricidade Orofacial, é extremamente necessário o conhecimento das estruturas anatomofuncionais do sistema estomatognático, além da compreensão das alterações dessas estruturas e suas inter-relações.
Para que se possa planejar uma intervenção terapêutica precisa, é necessário que se realize uma avaliação miofuncional orofacial bem detalhada, além da obtenção de dados complementares, como, por exemplo, dados cefalométricos e dados das condições de vias aéreas superiores, entre outros. Dessa forma, o processo diagnóstico é fundamental para o sucesso terapêutico.
Enfim, é importante avaliar e tentar identificar se existe ou não a possibilidade de mudanças musculares e funcionais, conforme cada caso. A terapia deve ocorrer de forma individualizada, dando continuidade ao processo diagnóstico. Também são necessários registros sistemáticos das modificações ocorridas com a terapia miofuncional orofacial, ou seja, são importantes as reavaliações criteriosas, baseadas em parâmetros possíveis de comparações.
O trabalho fonoaudiológico em Motricidade Orofacial normalmente ocorre de maneira multiprofissional, dependendo das alterações encontradas e do grau de comprometimento do nosso paciente.
Sabe-se que, quando se tem uma alteração morfológica do sistema estomatognático, como, por exemplo, uma alteração na oclusão dentária, pode haver conseqüências funcionais envolvidas, como possíveis adaptações ou até mesmo compensações orofaciais, compreendidas pela ação muscular. Sabe-se também que um comportamento muscular e funcional alterado (anormal, desorganizado, entre outros) poderá influenciar diretamente o sistema dentoesquelético. Para compreender esses aspectos, é importante conhecer os princípios de crescimento e desenvolvimento craniofacial.
É de responsabilidade, então, do fonoaudiólogo especialista em Motricidade Orofacial: “conhecer a complexidade e as relações com os fatores potenciais etiológicos, relacionados aos distúrbios miofuncionais orofaciais e cervicais... desenvolver um plano de tratamento apropriado e individualizado... além de conhecer as limitações orgânicas e funcionais capazes de limitar o tratamento”. É fundamental que o profissional conheça suas limitações e realize sempre os encaminhamentos necessários.
Quando um paciente é submetido à reabilitação fonoaudiológica, em especial à terapia miofuncional, deve ser orientado e motivado ao tratamento, independentemente de sua idade. É importante que ele compreenda a necessidade do seguimento fonoaudiológico e, para isso, devem-se esclarecer os aspectos encontrados na avaliação, principalmente os que estão alterados. Parte-se desses dados para mostrar ao paciente o plano terapêutico e as condutas necessárias para o seu caso, como por exemplo, os encaminhamentos aos outros profissionais.
Na reabilitação fonoaudiológica em Motricidade Orofacial trabalha-se, principalmente, com a percepção do paciente em relação ao seu problema ou distúrbio, visando a sua modificação. Um trabalho com ênfase na melhora da propriocepção pode ser de grande ajuda na evolução terapêutica. Como estratégias, podem-se utilizar o espelho e as filmagens em vídeo, com o terapeuta conduzindo o paciente à identificação e à melhor percepção de suas funções e posturas.
Pode-se adotar tanto a terapia miofuncional, mais voltada ao trabalho direto com as funções orofaciais de fala, sucção, deglutição, mastigação e respiração, como a mioterapia, envolvendo exercícios musculares específicos. É comum a associação das duas terapêuticas. Entretanto a necessidade da mioterapia deve estar sempre clara para o terapeuta, e não se deve trabalhar com os músculos isoladamente, sem que haja benefícios funcionais ao paciente.
Na mioterapia, podem ser utilizados exercícios isotônicos, isométricos e isocinéticos. Pode-se estimular tanto a ativação muscular, visando ao seu fortalecimento, quanto o alcance de um objetivo oposto de relaxamento muscular.
Os exercícios isotônicos visam principalmente à mobilidade muscular e são indicados para o aumento da amplitude dos movimentos. Já os exercícios isométricos são sugeridos para o aumento da força e da rigidez do músculo. Em contrapartida, os exercícios isocinéticos objetivam um relaxamento muscular, além de uma melhora da oxigenação e da coordenação muscular, por meio de uma contra resistência ao movimento, baseado no princípio de inibição recíproca.
Os músculos orofaciais não podem ser submetidos a um treino excessivo. Existem estudos que ressaltam a resistência à fadiga muscular após um determinado período de treinamento. Exercícios sistemáticos produzem um aumento na força muscular, principalmente em músculos fracos.
Os exercícios musculares utilizados na terapia fonoaudiológica não devem ser milagrosos, mas devem ser bem indicados, com o intuito de atingir determinado músculo ou grupo muscular, sempre que possível, favorecendo a habilidade motora e, conseqüentemente, a melhor funcionalidade orofacial.
Se um indivíduo apresenta uma evidente flacidez, por exemplo, nos músculos da mímica facial, e se esta, por sua vez, influencia na expressão facial, na fala, entre outras funções, devem-se eleger exercícios específicos que busquem um fortalecimento muscular, além de, quando possível, enfatizar diretamente a função comprometida. Nem sempre isso é permitido, ou seja, às vezes, são necessários os exercícios musculares específicos para facilitar a realização das funções propriamente ditas. Dessa forma, pode-se reduzir o período de intervenção terapêutica e evitar certas frustrações ao paciente.
A reabilitação miofuncional orofacial prioriza o restabelecimento, a estabilização e a manutenção do processo normal das funções orofaciais, mas nem sempre isso é possível. Em alguns casos, são necessárias as adaptações miofuncionais, desde que não tragam prejuízos ao paciente.
A proposta deste tema é abordar os exercícios que são utilizados na prática clínica em Motricidade Orofacial. Além disso, convém destacar os estudos científicos nacionais e internacionais sobre o assunto. Também busca-se realizar um levantamento na literatura sobre a efetividade dos exercícios miofuncionais.
Se realizarmos um histórico referente à terapêutica com exercícios musculares, veremos que ela é relativamente antiga, e sua prática foi adotada inicialmente por profissionais da área odontológica, visando a uma melhora da relação forma-função orofacial. Nesse sentido, foram criadas listas de exercícios para os músculos orofaciais, os quais eram aplicados de uma forma técnica, independentemente de um raciocínio mais abrangente sobre todo o complexo craniofacial. Esse é um dos inúmeros diferenciais do fonoaudiólogo que atua em Motricidade Orofacial, o qual deve ter um raciocínio lógico (teórico-prático) e prever as modificações requeridas pela terapêutica adotada.
Estudos evidenciam a efetividade da terapia miofuncional, incluindo a mioterapia, quando comparam indivíduos com paralisia facial, tratados e não tratados.
Já foi constatado que a terapia miofuncional orofacial, associada a exercícios musculares, influencia na atividade eletromiográfica dos músculos orofaciais em indivíduos respiradores orais habituais. Ela também influencia na melhora da oclusão dentária, associada à retirada de hábitos de sucção.
São inúmeros os exercícios utilizados na prática clínica em Motricidade Orofacial. Alguns autores, especialistas, descrevem sua prática em alguns deles. Na verdade, podemos observar, na Fonoaudiologia, certas divergências de condutas terapêuticas.
A maior parte dos estudos encontrados, referentes à terapia miofuncional, ressaltam o trabalho multiprofissional, como a atuação integrada com a Odontologia e com a Otorrinolaringologia, principalmente.
Cabe ressaltar que a Motricidade Orofacial, no Brasil, enquanto especialidade da Fonoaudiologia, vem crescendo a cada dia, fundamentando-se em pesquisas científicas. Esse crescimento pode ser visto em inúmeras dissertações e teses defendidas por fonoaudiólogos.
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Contato: luvoi@fmrp.usp.br |
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