ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFÍCIE E ELETROGNATOGRAFIA: APLICAÇÃO CLÍNICA NO CAMPO DA MOTRICIDADE OROFACIAL |
Esther M. Gonçalves Bianchini
Palestrante |
Instituição: FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA SANTA CASA DE SÃO PAULO (FCMSCSP) |
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Para compreender o envolvimento neuromuscular do complexo estomatognático e suas relações funcionais, o clínico deve ter condições de analisar os músculos tanto em repouso quanto em função. Entretanto, a verificação clínica convencional como observação estrutural, palpação e análise visual, apesar de indispensável, traz dados subjetivos e por vezes imprecisos ou distorcidos, conforme a percepção, habilidade, experiência e destreza do profissional que realizada tal avaliação. Assim, na prática em Motricidade Orofacial, são comuns os resultados diversificados quando obtidos por um ou por outro profissional. Especialmente quando existe uma queixa específica, os exames subjetivos podem levar à dificuldade de constatação de relações causa – efeito, tornando os diagnósticos nebulosos ou pouco precisos. Os avanços da tecnologia expandindo o conhecimento, trouxeram novas técnicas tanto de diagnóstico quanto de terapêutica miofuncional, direcionando de maneira objetiva o trabalho fonoaudiológico.
Para tratar ou mesmo prevenir problemas do sistema estomatognático, especialmente quanto às alterações da articulação temporomandibular e seus componentes neuromusculares, devemos partir da referência de normalidade. Porém essa referência é de difícil constatação, assim como as respostas de cada indivíduo a um problema ou injúria. Cada componente desse sistema apresenta uma tolerância estrutural específica. Essa tolerância fisiológica é influenciada por fatores como anatomia, trauma anterior, condições dos tecidos moles, presença de hábitos, variações individuais e até situação emocional. Se o grau de discrepância do sistema mastigatório for maior que a tolerância fisiológica do paciente, atividades musculares compensatórias são definidas visando a manutenção do funcionamento do sistema. Entretanto algumas delas são deletérias, levando, com freqüência a ocorrência de danos.
A compreensão dos mecanismos bioquímico, anatômico e fisiológico do sistema estomatognático permite simplificar procedimentos clínicos possibilitando aos terapeutas tratar as necessidades dos pacientes com maior precisão e estabelecimento de prognóstico.
Os movimentos mandibulares, de maneira geral, são bastante complexos e com grande variação durante a mastigação, deglutição e fala. Atualmente, os novos conhecimentos associados à tecnologia, tais como a verificação precisa da atividade muscular e dos percursos mandibulares durante as funções estomatognáticas, permitem determinar os principais fatores etiológicos e caracterização dos problemas funcionais observados, direcionando os trabalhos de prevenção e reabilitação para a obtenção de função adequada, de forma mais objetiva.
Os trabalhos recentes no campo da motricidade Orofacial utilizando esses exames computadorizados podem direcionar diagnósticos mais precisos e principalmente as limitações a serem encontradas em casos mais comprometidos.
Com o advento dos exames computadorizados uma nova dimensão da cinesiologia (estudo do movimento humano) foi alcançada. Dentre esses exames destacam-se a eletromiografia e a eletrognatografia como importantes instrumentos auxiliares de diagnóstico diferencial e monitoramento dos resultados alcançados.
A Eletromiografia, método empregado para registrar os potenciais de ação de contração das fibras musculares e unidades motoras em pacientes saudáveis e ou doentes, possibilita a visualização das respostas neuromusculares durante o exame, conseqüente controle por meio de terapêutica específica e verificação objetiva dos resultados alcançados. Da mesma forma, a eletrognatografia (EGN) tem sido usada há alguns anos como importante meio de diagnóstico das disfunções temporomandibulares. Este exame complementar permite perceber, delinear e registrar a posição espacial e percurso de um magneto que é acomodado, por meio de adesivo, na região inferior e anterior dos incisivos inferiores. O sistema não interfere na oclusão nem limita a extensão dos movimentos mandibulares. Cada sensor do aparelho apoiado na cabeça do indivíduo detecta a variação de posição do magneto, mostrando e registrando os dados clínicos dos movimentos analisados, por meio de computador. Os dados são impressos em registros individuais, com as medidas e análises computadorizadas. Visa assim, avaliar os movimentos mandibulares nos sentidos: ântero-posterior, látero-lateral e de abertura e fechamento. Determina o grau de abertura da boca, de desvios laterais durante o percurso do movimento, a velocidade de abertura e fechamento da boca ou de movimentos espontâneos e a posição habitual de repouso da mandíbula. A eletrognatografia complementa a avaliação das condições dos músculos mastigatórios, da estrutura óssea da ATM, dos ligamentos, dos aspectos oclusais e funcionais. Os movimentos da mandíbula durante a mastigação e produção da fala podem ser verificados e registrados de maneira objetiva por meio da eletrognatografia computadorizada.
Nos casos de disfunções temporomandibulares, muitos dos sintomas dolorosos são, de fato, resultados de espasmos da musculatura cervical, facial ou mastigatória. Esses espasmos são desencadeados quando ocorrem modificações das posições craniomandibulares requisitando, da musculatura, esforços repetitivos e excessivos levando à contração muscular mantida perdendo-se a referência de posição fisiológica de repouso. Essa condição muscular resulta em elevada atividade elétrica no músculo afetado principalmente em posição habitual, captada pela eletromiografia, sendo observado modificação na velocidade de respostas e dos potenciais elétricos do músculo também em função. Constata-se assim quantitativamente, se um músculo está em situação fisiológica; se com atividade aumentada ou reduzida.
A literatura acerca dos sinais e sintomas das disfunções temporomandibulares indica assimetria dos movimentos mandibulares de forma geral e desvios na trajetória da mandíbula associados à: presença de dor, hiperatividade do músculo pterigóideo lateral, processo inflamatório, relação côndilo/disco incorreta e alteração morfológica da ATM. As alterações da musculatura e/ou da situação articular, podem modificar os movimentos mandibulares utilizados na mastigação e fala interferindo nessas funções. A presença de dor pode levar a redução da amplitude dos movimentos mandibulares acarretando prejuízos na articulação da fala, tais como articulação mais fechada que dificulta a precisão e clareza dos sons e redução da velocidade da fala, caracterizando imprecisão articulatória, além de direcionar modificações desses movimentos durante a mastigação.
Durante a terapêutica fonoaudiológica, associada ao tratamento odontológico específico, a remissão dos sintomas dolorosos possibilita a organização funcional. Nesse sentido, a utilização da eletromiografia e da eletrognatografia pode voltar-se para monitoramento miofuncional, propiciando mecanismo de retro-alimentação (bio-feedback). Com base em técnicas proprioceptivas e observação do exame durante sua execução, o paciente pode ser capaz de perceber as tensões em músculos específicos, monitorar a execução dos movimentos mandibulares e desenvolver mecanismos mais eficientes de controle neuromuscular.
Significa, portanto, uma nova dimensão de pesquisa, diagnóstico e tratamento de pacientes sintomáticos, com definição das compensações que estão sendo utilizadas indevidamente, monitoramento da terapêutica e constatação da eficiência dos tratamentos empregados.
Por tratar-se de aplicação terapêutica fonoaudiológica recente, as pesquisas nesse âmbito devem ser incentivadas.
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Contato: esther.bianchini@uol.com.br |
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