Código: PIA0904
SURDEZ EM ADULTOS E IDOSOS COM PRESSÃO ALTA
 
Autores: Katia Miriam de Melo Silveira, Kleber Rosa de Almeida, Ronalda Ferreira Carreiro, Sanyelle Silva Pinheiro
Instituição: UNIVERSIDADE JOSÉ DO ROSÁRIO VELANO
 
Os profissionais da área da saúde, médicos e cientistas, vêm ao longo dos anos, realizando vários estudos e pesquisas sobre a hipertensão arterial sistêmica que foi definida por OPARIL (1995) como sendo a elevação da pressão arterial sangüínea, ou seja, a elevação da força de circulação do sangue nas artérias e é conhecida comumente como “pressão alta”.
O Brasil está colocado entre os países com maiores contingentes de hipertensos e de acordo com os estudos de BURGESS (1999), a hipertensão arterial acomete cerca de 25% da população adulta. Segundo ROCHA & TEIXEIRA (1993), estima-se que 14 a 15 milhões de pessoas no mundo são portadoras de hipertensão arterial.
Devido ao elevado número de indivíduos portadores de hipertensão arterial sistêmica estimado na população brasileira, há uma crescente preocupação por parte dos profissionais da área da saúde em pesquisar outras implicações desta patologia, buscando evitar possíveis transtornos secundários à hipertensão, que podem reduzir a qualidade de vida destes indivíduos.
OPARIL (1995) afirmou que se a hipertensão arterial não for controlada, pode ocasionar sérias conseqüências à saúde, tais como risco de insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral, doenças renais e outras.
Desta forma, apesar da crescente conscientização por parte da população, a hipertensão permanece como sendo uma das causas principais de morbidade e mortalidade cardiovascular.
Entre os efeitos secundários da hipertensão arterial estão os transtornos auditivos. DEKA (1986) apud BROHEM et al. (1996) e BROHEM et al. (1996) afirmaram uma possível relação entre hipertensão arterial sistêmica e perda auditiva. Outros autores alegaram que a existência de fatores associados à hipertensão arterial (estados tencionais importantes e prolongados, exposição à ruídos e predisposição anatômica) poderia ocasionar, em casos particulares, uma perda significativa da audição (GUPTA et al., 1986 apud BROHEM et al., 1996 e NAZAR et al., 1992).
RUSSO & SANTOS (1993) e OLIVEIRA (1997) apontaram que a audição e o equilíbrio são considerados duas funções de vital importância para o homem, a primeira para que ele possa manter as habilidades de comunicação oral e a segunda para que se mantenha em pé e possibilite sua locomoção.
“Os problemas da surdez são mais profundos, mais complexos que os da cegueira. A surdez é o maior dos infortúnios, a perda do mais vital dos estímulos: o som da voz, que nos traz a linguagem, desencadeia-nos os pensamentos e nos mantém na companhia intelectual dos homens.” (KELLER, 1968 apud ALMEIDA & IORIO, 1996)

Tendo em vista a importância da audição para a segurança pessoal e participação social, assim como as possíveis influências nocivas da hipertensão arterial sobre o sistema auditivo, justifica-se a presente pesquisa.
O presente estudo tem como objetivo estudar o perfil audiométrico de indivíduos portadores de hipertensão arterial sistêmica, verificando se existe variabilidade entre os limiares tonais obtidos desses indivíduos em função do sexo e da faixa etária quando comparados ao grupo controle sem hipertensão arterial sistêmica, além dos sintomas otológicos, sinais auditivos e outros sintomas que estejam presentes nesses indivíduos.
A partir da autorização do comitê de ética medica da UNIFENAS, foram selecionados, inicialmente, 35 indivíduos de ambos os sexos, que apresentavam diagnóstico de hipertensão firmado por esta entidade, todos em tratamento medicamentoso anti-hipertensivo.
Dos 35 indivíduos hipertensos, 2 se recusaram a participar da pesquisa, com a justificativa de que “não apresentavam problema de audição”. Foram excluídos da pesquisa outros 4 indivíduos hipertensos que tinham idade superior a 65 anos, com a intenção de não incluir no trabalho as possíveis interferências da presbiacusia. Foram excluídos também 4 indivíduos com histórico de infecção de orelha média e/ou interna, exposição a ruídos e diabetes.
Assim, o grupo estudado constou de 25 indivíduos, 44% do sexo masculino e 56% do sexo feminino, com idades entre 35 e 65 anos.
Após ter sido realizada audiometria tonal e aplicado o questionário em todos os indivíduos hipertensos, foi feita a avaliação audiométrica em um grupo controle com 25 indivíduos selecionados aleatoriamente e tendo como exigência o fato de não serem portadores de hipertensão arterial sistêmica, mas que se encaixassem dentro da mesma faixa etária do grupo de hipertensos pesquisados (dos 35 aos 65 anos) e que não apresentassem queixa auditiva.
O objetivo de realizar a audiometria tonal liminar neste grupo controle foi verificar a incidência de deficiência auditiva em uma população de mesma faixa etária considerada normal e sem as possíveis interferências da hipertensão.
Todos os indivíduos foram avaliados em um consultório de Fonoaudiologia, após o preenchimento de ficha de autorização (Apêndice A).


2.2 EQUIPAMENTOS


Ø Um audiômetro da marca Interacoustics Madsen 622, com fones de ouvido TDH-39 calibrados segundo as normas da ANSI, S3.43 (1992).
Ø Cabine acusticamente tratada com medidas 3m/ 2,5m.



2.3 PROCEDIMENTOS

2.3.1 Anamnese


A fim de obter maiores informações sobre os dados pessoais dos indivíduos, bem como os seus sintomas auditivos, vestibulares e outros sintomas que os mesmos apresentavam, foi aplicado um questionário (Apêndice B).


2.3.2 Inspeção do Conduto Auditivo Externo


Para verificar a presença de corpos estranhos ou de qualquer alteração do meato acústico externo que impossibilitasse a realização da audiometria, foi realizada a inspeção do conduto auditivo externo de todos os indivíduos que participaram da pesquisa, sendo que aqueles que apresentavam qualquer alteração foram encaminhados para o médico especialista (otorrinolaringologista) para avaliação, tratamento e posterior retorno.



2.3.3. Avaliação Audiológica


Foi realizada audiometria tonal liminar bilateral por via aérea nas freqüências de 0,25, 0,5, 1, 2, 3, 4, 6, 8 KHz e de via óssea nas freqüências de 0,5, 1, 2, 3, 4 KHz. A audiometria tonal liminar obedeceu aos critérios propostos por RUSSO & SANTOS (1993).
Foi diagnosticada disacusia quando os limiares tonais encontravam-se maiores ou iguais a 25 dBNA.


2.4 CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DOS RESULTADOS


Como critério foi adotada a análise dos resultados das duas orelhas. Para facilitar, agrupamos as orelhas direita e esquerda, visto que a maioria dos indivíduos apresentam audição simétrica, não havendo diferenças maiores que 15 dB entre as orelhas.
Os indivíduos foram separados em grupos em função do sexo (masculino e feminino) e da idade.
Quanto à idade, com a finalidade de facilitar a análise dos resultados, os indivíduos hipertensos e do grupo controle foram dispostos em três grupos, obedecendo a intervalos de 10 em 10 anos conforme abaixo, a fim de verificar a presença de perda auditiva entre as faixas etárias.

Grupo I 35 a 45 anos
Grupo II 46 a 55 anos
Grupo III 56 a 65 anos

Foi aplicado um questionário, a fim de verificar os sinais e sintomas que estavam presentes nos indivíduos hipertensos. Foram consideradas como queixas mais freqüentes aquelas que estavam presentes em mais de 5 indivíduos.


2.5 MÉTODO ESTATÍSTICO


A existência de associação entre os dados foi verificada através do teste de Qui-quadrado (c²) (SIEGEL, 1975).
Foi adotado o nível de significância de 5% (cinco por cento) e o valor mínimo, em cada caso, está expressado após o símbolo * (asterisco). Níveis inferiores aos valores mínimos, foram considerados insignificantes e com a sigla (NT) após o cálculo obtido.

2.6 RESULTADO E CONCLUSÃO:
Diante do exposto e discutido nos capítulos anteriores pode-se chegar às seguintes conclusões:
A prevalência de disacusia foi significativamente maior no grupo de indivíduos hipertensos (92%) quando comparados ao grupo controle (18%).
O perfil audiométrico dos indivíduos portadores de hipertensão arterial sistêmica que participaram deste estudo revelou perda auditiva do tipo neurossensorial de grau leve a moderado com rebaixamento significativo nas freqüências agudas (4, 6 e 8 KHz).
Não foi verificada variabilidade de perda auditiva dos indivíduos portadores de hipertensão arterial sistêmica em função do sexo (sendo 45,65% no sexo masculino e 54,35% no sexo feminino), quando comparados aos indivíduos do grupo controle.
Houve menor incidência de deficiência auditiva em indivíduos hipertensos mais jovens na faixa etária de 35 a 45 (8,70%) do que em indivíduos do terceiro grupo, com faixa etária de 56 a 65 anos (60,87%).
As queixas, sinais auditivos e sintomas otológicos verificados com maior freqüência no grupo de indivíduos portadores de hipertensão arterial sistêmica foram: fobia e vertigem (84%), zumbido e escurecimento da visão (76%) e depressão (60%).
Espera-se que com este estudo, fique clara a importância de serem pesquisadas outras patologias com sinais e sintomas que podem estar associados à deficiência auditiva em adultos e idosos, buscando assim a prevenção e a detecção precoce dos problemas auditivos secundários a outras patologias e que, conseqüentemente, podem comprometer a integração do homem no meio em que vive, além de prejudicar a sua qualidade de vida.
 
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