Código: PPS1804
SOBRE A TEORIA E A PRÁTICA DO ATENDIMENTO DE BREVE DURAÇÃO: UMA POSSIBILIDADE DE FORMAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA
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Autores: Reginalice Cera da Silva, Elenir Fedosse, Regina Yu Shon Chun |
Instituição: UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA |
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Introdução: O Curso de Fonoaudiologia de uma Universidade do interior paulista, atento às transformações sociais, políticas, econômicas e culturais do país, propõe ampla formação acadêmica em Saúde Pública/Coletiva, incluindo em seu currículo disciplinas teóricas, teórico-práticas e de estágios voltadas à atenção primária em saúde, respondendo aos princípios doutrinários da Universalidade, da Integralidade e da Eqüidade, propostos pelo Sistema Único de Saúde - SUS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1990). Busca formar profissionais comprometidos com a qualidade de vida das populações e, ainda, responder às necessidades, aos avanços e às tendências do campo de trabalho da Fonoaudiologia. Para concretizar tais propostas, estudantes do 7º e do 8º semestre realizam os Estágios de Fonoaudiologia Comunitária I e II, atuando em diferentes territórios do município, sobretudo, em espaços de saúde e educação, tais como: Unidades Básicas de Saúde
(UBS), Hospital, Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEF) e de Ensino Fundamental (EMEF) e Centros Comunitários. Nas UBS, realizam várias intervenções fonoaudiológicas - triagens, atendimentos clínico-terapêuticos, encaminhamentos, ações informativas/educativas desenvolvidas por meio de reuniões, palestras, construção de folders/cartazes, oficinas e vivências voltadas aos múltiplos aspectos da produção e interpretação da linguagem oral, leitura/escrita, voz, audição e motricidade oro-facial. Neste trabalho, discutimos especialmente o atendimento clínico-terapêutico realizado em UBS, o qual temos denominado - atendimento de breve duração - objeto de uma pesquisa iniciada no segundo semestre de 2003, com dois anos de duração. Trata-se de um procedimento realizado com grupos (ZIMERMANN, 1997) e orientado por referenciais teóricos advindos de diferentes áreas do conhecimento: Saúde Pública/Coletiva, Promoção da Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1990 E 2001), Lingüística(GERALDI, 1990;
POSSENTI, 1986; FRANCHI, 1976) e Psicologia (VYGOTSKY, 1984), entre outras. Objetivos: 1) Descrever o contexto do atendimento de breve duração, sistematizar e divulgar os conhecimentos produzidos no interior do Estágio de Fonoaudiologia Comunitária; 2) Investigar as competências adquiridas por alunas na prática do atendimento de breve duração, relacionadas aos seguintes aspectos: condução de grupos de usuários e de seus familiares/responsáveis, realização de ações interdisciplinares e/ou intersetoriais e elaboração de material informativo/educativo de apoio para essa prática; 3) Analisar os discursos dos familiares/responsáveis pelos sujeitos para verificar as queixas, as crenças, os mitos que trazem e o modo com que tais questões afetam o cotidiano dos mesmos. Método: Esta pesquisa, tem-se desenvolvido com base em uma abordagem qualitativa, de modo a focalizar a realidade de forma complexa e contextualizada (MINAYO, 1994). Optou-se pelo Estudo de Caso Observacional (TRIVIÑOS,
1995), cuja técnica de coleta de informações mais importante é a observação participante. Os sujeitos desta pesquisa são crianças e seus familiares/responsáveis e, também, as estagiárias que realizam o atendimento de breve duração. Foram incluídos somente aqueles que concordaram em participar voluntariamente deste estudo, aprovado pelo CEP, e que assinaram os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (Resolução 196/96 do CONEP). Na primeira etapa, desta pesquisa, realizou-se um mapeamento dos pontos de atenção em Fonoaudiologia Comunitária existentes no município para selecionar Unidades que reunissem condições favoráveis para o desenvolvimento da mesma: existência de demanda consolidada para os serviços de Fonoaudiologia; espaço físico disponível para o atendimento de breve duração; localização geográfica da Unidade; presença das pesquisadoras na realização do atendimento em estudo e autorização da chefia para realizar o estudo. A segunda etapa envolveu a realização dos grupos de
atendimento de breve duração para a coleta de dados, monitorada diretamente pelas pesquisadoras, que consistiu da observação participante dos atendimentos realizados nos grupos de usuários e de familiares/responsáveis e da leitura dos relatórios anuais elaborados pelas estagiárias. Além disso, os grupos foram vídeo e áudio gravados para posterior análise. Foram observados oito grupos - quatro de crianças e quatro de familiares/responsáveis - em sessões semanais de uma hora, ao longo de 2 semestres. Convém ressaltar que, para completar a coleta de dados, serão realizados ainda dois grupos focais (WESTPHAL et all., 1996), um com familiares/responsáveis e outro com estagiárias que acompanharam esses grupos. Os dados obtidos, por meio desses grupos focais, registrados em vídeo e áudio para análise posterior, servirão para complementar a sistematização desta pesquisa e serão apresentados por ocasião do Congresso. Os dados são analisados à luz dos referenciais teóricos que orientam a
pesquisa. Resultados: Foram identificados cinqüenta e um (51) pontos de atenção em Fonoaudiologia, na Atenção Primária, dos quais quinze (15) eram UBS. Dessas, duas adequaram-se aos critérios acima descritos por serem Unidades que contavam com atendimento fonoaudiológico desde 1997, início dos Estágios de Fonoaudiologia Comunitária no município e, portanto, apresentavam demanda consolidada para esse serviço. Quanto à localização geográfica, ambas preenchiam o critério de servirem como referência aos moradores de bairros próximos, usuários de outras UBS, pois são servidas por uma malha viária que faz ligação entre os bairros e, em alguns casos, o acesso também pode ser realizado a pé. As pesquisadoras atuavam nos locais escolhidos o que facilitou a obtenção da autorização para a pesquisa. Dos oito (8) grupos acompanhados, serão aqui apresentados os resultados de dois deles: um formado por cinco (5) crianças, de 3 a 7 anos, com queixa prioritária de alteração de linguagem oral,
manifestada por atraso no processo de aquisição e desenvolvimento da oralidade, substituições e omissões de sons da fala e queixas relacionadas ao processo inicial da construção da escrita, o outro, formado por seus familiares/responsáveis. Trata-se de sujeitos oriundos das classes populares, com nível sócio-econômico baixo, que moram em casas localizadas próximo às UBS. Os familiares/responsáveis são quatro do sexo feminino - duas mães, uma avó e uma tia - e um do sexo masculino - um pai. Os grupos ocorreram concomitantemente e cada um deles foi conduzido por uma estagiária, sob supervisão presencial de uma das pesquisadoras. Tais dados são compatíveis com os achados por CHUN, SILVA e FEDOSSE (2002) e CHUN, FEDOSSE e SILVA (2003) e mostram que as queixas trazidas com mais freqüência nos atendimentos de breve duração são: atraso na construção e desenvolvimento da linguagem oral/escrita, bem como alterações de linguagem oral - trocas de fonemas/sons de fala, gagueira ou alterações
de motricidade ORO-FACIAL. Tais queixas se constituem como casos de baixa complexidade (SILVA, 2002) e por isso exigem tecnologia leve no processo terapêutico, o que possibilita maior resolutividade em um menor tempo. Nos relatos orais dos familiares/responsáveis, emergiram o desconhecimento do processo de construção da oralidade e do papel mediador do adulto nesse processo. A crença manifestada por alguns familiares era a de que a fala se desenvolveria “naturalmente” e por isso não se fazia necessário buscar ajuda. Constatou-se, por outro lado, a preocupação e a angústia em resolver tais problemas quando surgiam cobranças de outros familiares, médicos e, sobretudo, dos professores das crianças atendidas, tanto do ensino infantil quanto do ensino fundamental. A partir dos conteúdos trazidos no grupo, foi possível ampliar o entendimento dos determinantes dos problemas e também promover a busca de soluções. Os determinantes mais comuns relacionavam-se com a estrutura familiar - idade
dos pais, ausência de um dos pais, cuidados realizados por avós, valores diferentes quanto ao modo de educar as crianças – e com as condições de vida - falta de vagas em equipamentos de educação infantil, acesso restrito às informações, desemprego ou dificuldades financeiras, entre outras. Dentre as competências adquiridas pelas estagiárias, nesse processo, estão o acolhimento aos familiares que implica a escuta dos problemas, o respeito pelo saber popular, o reconhecimento das condições de vida da população como determinante das queixas e a (re)significação das mesmas. Para desenvolver tais competências foi necessário buscar metodologias participativas, que favorecem a apropriação de conhecimentos e a tomada de decisões, sugeridas no processo de supervisão, especialmente aquelas voltadas para a condução de grupos e para o trabalho com famílias. Ao longo desse processo, evidenciou-se o entendimento das estagiárias de que os problemas surgidos não se resolveriam apenas com a
intervenção fonoaudiológica, sendo necessário realizar parcerias com outros atores sociais, tais como, professores, agentes de saúde, monitoras de creche e demais profissionais de saúde, de modo a alcançar a Integralidade proposta pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Conclusão: A realização dos grupos de atendimento de breve duração, na UBS, presta-se a promover a eficácia da intervenção fonoaudiológica, contribuir para sua otimização e facilitar o acesso das comunidades à saúde, por meio da atenção em Fonoaudiologia, visto que o atendimento envolve o grupo familiar e é oferecido próximo a suas moradias. Em relação às propostas terapêuticas desenvolvidas no interior do atendimento de breve duração tem-se a valorização da relação dialógica entre as crianças, familiares/responsáveis e estagiárias, facilitada por recursos expressivos como desenho, pintura, recorte, colagem, massa de modelar, canto, contagem de histórias, uso de brinquedos e jogos pedagógicos. Assumindo-se uma nova
mentalidade frente à saúde e educação e considerando-se o grupo como importante lócus de trabalho e mediador da linguagem, amalgamam-se os alicerces que norteiam a realização do Estágio em Fonoaudiologia Comunitária e repercutem na formação de profissionais competentes, críticos e comprometidos com a realidade na qual estão inseridos. |
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CHUN, R.Y.S.; SILVA, R. C & FEDOSSE E. Caracterização dos usuários atendidos nos serviços de Fonoaudiologia Comunitária da UNIMEP de 1997 a 2000. Relatório Final de Pesquisa FAP/UNIMEP. Piracicaba, UNIMEP, 2002.
CHUN, R.Y.S.; FEDOSSE E. & SILVA, R. C. Caracterização dos usuários atendidos e das ações realizadas nos serviços de Fonoaudiologia Comunitária da UNIMEP de 1997 a 2000. Relatório Final de Pesquisa FAP/UNIMEP. Piracicaba, UNIMEP, 2003.
FRANCHI, C. Hipóteses para uma teoria funcional da Linguagem. Tese (Doutorado), Campinas, IFCH/UNICAMP, 1976.
GERALDI, W. Portos de Passagem. São Paulo: Martins Fontes,1990.
MINAYO, M. C. S. (org.) Pesquisa Social – Teoria, Método e Criatividade. Rio de Janeiro: Vozes, 1994.
MINISTÉRIO DA SAÚDE . ABC do SUS Doutrinas e Princípios. Brasília(DF),1990.
_____________________ Promoção da Saúde. Brasília (DF), 2001
POSSENTI, S. Discurso, estilo e subjetividade. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
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TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa
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ZIMERMANN , D. E.; OSÓRIO, L. e cols. Como trabalhamos com grupos. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1997. |
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Contato: rcsilva@unimep.br |
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