Código: PTM1245
ESTUDO DA RELAÇÃO ENTRE FALA, TÔNUS E PRAXIA DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO EM PRÉ-ESCOLARES. |
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Autores: Samira Raquel de Farias, Clara Regina Brandão de Ávila , Marilena Manno Vieira |
Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – UNIFESP |
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É a partir da manifestação de uma idéia lingüisticamente organizada, transformada em comportamento motor e executada como movimentos, que surge a fala. A aquisição e o desenvolvimento da fala dependem do desenvolvimento dos órgãos, das funções do sistema estomatognático e da organização do sistema fonológico. Do ponto de vista lingüístico, aos 04 anos de idade as crianças já estão aptas a falarem corretamente, entretanto, é freqüente a ocorrência de alterações de fala em idade pré-escolar. Estas podem ser conseqüências de problemas do sistema estomatognático e/ou da organização dos fonemas. A fala requer coordenação complexa e planejamento de movimentos de lábios e de língua, que resultam na produção dos sons, executados em seqüências, realizadas a partir de aprendizado funcional. O desenvolvimento da praxia, habilidade de realizar movimentos seqüencialmente, está relacionado à própria produção dos sons da fala. O desenvolvimento das habilidades práxicas depende, também, da maturação do sistema estomatognático, do tônus muscular e da mobilidade das estruturas estomatognáticas. A praxia destas estruturas exerce importante papel na articulação dos sons; porque, quando os lábios e a língua apresentam alterações de tonicidade e de praxia, pode haver interferência na produção dos fonemas. O objetivo deste estudo foi o de verificar a existência de relação entre a fala, o tônus e a praxia do sistema estomatognático em pré-escolares. Avaliamos 120 crianças, 50 (41,7%) do sexo masculino e 70 (58,3%) do sexo feminino, com idades variando entre 04 anos e 0 mês e 05 anos e 11 meses, falantes do português brasileiro, alunas regulares da educação infantil, da rede pública e particular de ensino da cidade de São Paulo. Não incluímos portadores de comprometimento motor geral ou específico, e/ou crianças com queixa de deficiência auditiva, deficiência mental, síndromes ou malformações congênitas, alterações estruturais, crianças que apresentaram alteração na mobilidade de lábios e de língua; que falharam na prova de nomeação; e que estavam sendo ou haviam sido submetidas à terapia fonoaudiológica. Todos os componentes deste estudo foram submetidos a anamnese e a avaliação fonoaudiológica. A anamnese foi realizada com a própria criança, que informou seus dados de identificação (nome, idade, sexo e escolaridade) e complementada com seus pais ou responsáveis, por meio de um questionário, com questões sobre a gestação e o parto, o desenvolvimento motor e da fala; e quanto à audição, dados como otites e queixa de perda auditiva. A avaliação fonoaudiológica constou do exame de lábios e de língua, quanto à posição postural de repouso, ao tônus, à mobilidade e à praxia, e da fala. Para avaliarmos o tônus, de lábios e de língua, utilizamos parte das provas de função muscular (Daniels e Worthingham, 1996). A criança foi instruída a comprimir e protruir os lábios, pressionando-os contra a espátula, mantida firmemente pela pesquisadora diagonalmente a estes. O tônus labial foi classificado em Normal ou Alterado. Para avaliar o tônus de língua, foi solicitado que o pré-escolar permanecesse com a boca aberta e projetasse a língua além dos lábios sem tocar nestes ou nos dentes, e então exercesse força contrária à espátula, mantida firmemente pela pesquisadora. Este foi considerado Normal ou Alterado. A praxia foi avaliada por meio da realização de provas de movimentação de lábios e de língua. Baseamo-nos no conjunto de testes proposto por Rodrigues (1999), mantendo o tempo e o modelo oferecido pelo avaliador. A praxia de lábios foi examinada por meio da realização seqüencial dos movimentos de protrusão e de estiramento labial alternadamente, a partir de ordem verbal e de modelo dados pela examinadora. A praxia labial foi descrita como Normal ou Alterada. Para o exame da praxia de língua foram utilizadas 02 provas; a 1ª prova avaliou movimentos de elevação e de abaixamento da língua e a 2ª os movimentos de lateralização intercalados com os de elevação e abaixamento. Consideramos a realização correta dos movimentos e o tempo gasto para executá-los. Ao classificar a praxia de língua consideramos a correta realização dos movimentos nas duas provas em Normal ou Alterada. A avaliação da fala foi realizada por meio da observação da fala espontânea, durante a anamnese feita com a criança, e da prova de nomeação, baseada na nomeação de figuras, proposta por Yavas et al (1991). Neste estudo, a fala foi classificada em Normal ou Alterada, quando produzida com um ou mais tipos de alterações. Estas foram classificadas em: Distorção (caracterizada pela produção dos fonemas /s/ e /z/ com projeção lingual na região anterior e/ou lateral da arcada dentária, associada ou não à interposição lingual nos fonemas /t/, /d/, /n/ e /l/), Substituição (caracterizada pela troca de sons na produção da fala) e Omissão (caracterizada pela ausência da produção de algum som). A partir desta classificação foram formados 04 grupos, cada qual com 30 crianças: Grupo Fala Normal (GFN) formado por crianças com fala normal. Grupo Distorção (GD) constituído por crianças com distorção de fonemas. Grupo Substituição e Omissão (GSO) formado por crianças que apresentavam substituição e omissão de fonemas. Grupo Substituição, Omissão e Distorção (GSOD) composto por crianças que apresentavam substituições, omissões e distorções dos fonemas. Utilizamos o teste Qui-Quadrado para testar Independência. No estudo da relação entre o tônus e a praxia labial, o achado mais freqüentemente encontrado foi tônus normal, em 65 (68,4%) das crianças do grupo com praxia normal. Relacionando o tônus e a praxia de língua, observamos como achado mais freqüentemente encontrado tônus normal em 38 crianças (74,5%) do grupo de praxia normal (estatisticamente significante). No estudo da relação entre a fala e o tônus labial, observamos fala normal (GFN) em 23 (29,9%) crianças do grupo com tônus normal. Relacionando a fala e o tônus de lábios, o achado mais freqüentemente encontrado foi fala normal (GFN) em 23 (29,9%) crianças do grupo com tônus normal. Ao estudar a relação entre a fala e a praxia de lábios, o achado mais freqüentemente encontrado foi fala normal (GFN), em 26 (27,4%) crianças do grupo com praxia normal. Relacionando a fala e a praxia de língua, segundo o grupo, o achado mais freqüentemente encontrado foi fala alterada (GSOD) em 25 (36,2%) crianças do grupo com praxia alterada (significante estatisticamente). No estudo da fala nos pré-escolares conforme o sexo e o grupo de fala, o achado mais freqüentemente encontrado foi fala alterada (GSOD) em 16 (53,3%) crianças do sexo masculino. Em relação ao estudo da fala nas crianças conforme a idade e o grupo, o achado mais freqüentemente encontrado foi fala alterada (GSOD) em 22 (73,3%) crianças na faixa etária de 04 anos e fala normal. Os resultados não evidenciaram relação do tônus com a praxia de lábios, entretanto, constatamos inter-relação entre tônus e praxia de língua. Os achados mostraram que a praxia normal foi mais freqüentemente encontrada no grupo de crianças com tonicidade normal, e, portanto, está associada à normalidade do tônus. A alteração práxica esteve presente em maior proporção nas crianças do grupo com tônus alterado, sugerindo que a condição muscular pode interferir na realização de movimentos seqüenciais de lábios e de língua. Ao relacionarmos a fala e a idade, verificamos que as crianças na faixa etária de 04 anos apresentaram alterações de fala em maior número que as crianças de 05 anos. Estes achados mostram que nesta faixa etária existe avanço na aquisição do sistema fonológico associado à maturação das estruturas e das funções estomatognáticas, pois é nesta idade que a fala da criança se assemelha à fala do adulto. Não constatamos relação entre a fala e o tônus de lábios. Mas, os achados evidenciaram inter-relação entre a fala e a praxia de língua, já que a fala normal foi mais encontrada no grupo das crianças que apresentavam praxia normal e as alterações de fala (GSDO) foram mais encontradas nas crianças do grupo com alteração práxica. Este resultado mostrou haver influência da praxia da língua sobre a produção dos sons da fala. Desta forma, observamos a importância da avaliação das habilidades práxicas de língua em pré-escolares com alterações de fala, caracterizadas principalmente por distorções, substituições e omissões de fonemas. A praxia de língua mostrou interferir na fala, e o diagnóstico destas alterações pode contribuir para o planejamento terapêutico, pois o exercício das habilidades práxicas pode minimizar as alterações de fala. A partir dos resultados deste estudo cremos poder concluir que não foi possível comprovar a existência de uma relação entre o tônus e a praxia de lábios. Não constatamos também relação entre a praxia de lábios e a fala. Constatamos a existência de uma relação entre o tônus e praxia de língua. Comprovamos também relação entre a praxia de língua e a fala. Os achados mais freqüentemente encontrados foram: tônus normal nas crianças do grupo de praxia normal (74,5%); tônus de língua alterado nas crianças do grupo de praxia alterada (52,2%); praxia normal nas crianças que apresentaram fala normal (49,0%). |
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DANIELS, L.; WORTIHGHAM, C. Provas de Função Muscular: Técnicas de Exame Manual. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996.
RODRIGUES, N. Neurolingüística dos distúrbios da fala. 3ed. São Paulo: Cortez: EDUC, 1999.
YAVAS, M.; HERNANDORENA, C. L. M.; LAMPRECHT, R. R. Avaliação fonológica da criança: reeducação e terapia. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. |
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Contato: samirafarias@terra.com.br |
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