Código: PIA0835
AS ALTERAÇÕES DO PROCESSAMENTO AUDITIVO EM UM GRUPO DE ESCOLARES DIAGNOSTICADOS COMO DISLÉXICOS
 
Autores: Vera Cristina Alexandre De Souza, Regiane B.pires, Heloísa Braga De Araújo, Mari Ivone L. Misorelli, Alice Penna De Azevedo Bernardi
Instituição: CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA
 
Indrodução

Na busca constante de uma compreensão maior e mais fidedígna dos problemas de leitura e escrita os educadores e os profissionais que lidam com esta realidade podem contar com recursos avaliativos cada vez mais específicos que forneçam resultados satisfatórios. Desta forma podem instrumentalizar a clínica e as instituições educacionais a fim de reabilitar e adequar funções que vão repercutir no aprendizado da leitura e da escrita.
A avaliação do processamento auditivo é um exemplo desta afirmação em que o profissional fonoaudiólogo pode contribuir acrescentando informações sobre funções auditivas diretamente relacionadas ao desempenho escolar,ou seja, alterações do processamento auditivo podem acarretar problemas de fala, problemas no aprendizado da leitura e ou da escrita e problemas de comportamento.
A inabilidade auditiva em lidar com sons da língua pode ser a base de alguns problemas de aprendizagem. A avaliação do processamento auditivo permite caracterizar os comportamentos do indivíduo frente a diferentes estímulos sonoros verbais e não verbais em tarefas auditivas. É uma medida da capacidade do indivíduo em lidar com informações recebidas por meio do órgão sensorial e transmitidas ao cérebro.
Com essa avaliação podemos categorizar o déficit gnósico do indivíduo e assim compreendermos como está sua capacidade de atribuir significado a informação sensorial de um som, além de diagnosticar os transtornos do processamento auditivo e monitorar o seu tratamento baseado em terapia fonoaudiológica.
Porém, mesmo com toda a dedicação e estudo dos profissionais de diferentes especialidades, o sistema de ensino muitas vezes é falho na tentativa de tratar os desiguais como iguais. Na verdade o que ocorre é que o acesso aos estudos mais avançados, aos recursos avaliativos e disponíveis para tratar cada alteração específica não fazem parte da realidade da maioria das crianças deste país.
A falta de atenção e assistência adequadas acarretam em prejuízos irreparáveis a muitas crianças, traçando destinos e criando estígmas ou indo mais além “marginalizando”a vida escolar de um aluno que não é compreendido dentro de suas dificuldades.
Algumas instituições vivem esta realidade diariamente, acolhem crianças muitas vezes vítimas do despreparo do sistema de ensino.
Portanto esta pesquisa tem como objetivo identificar as habilidades auditivas comprometidas por meio da avaliação do processamento auditivo em alguns quadros diagnosticados como disléxicos.
Nesse ínterim fornecer mais recursos que auxiliem a avaliação e tratamento que poderão refletir no desempenho escolar destas crianças.

Método

Para a concretização deste estudo foi utilizado um grupo de 30(trinta) crianças de ambos os sexos de faixa etária entre 9(nove) a 11(onze) anos de idade, matriculadas em escola pública ou privada e que foram diagnosticadas como disléxicas.
Para tal será realizada a avaliação do processamento auditivo, pois qualquer transtorno no processamento auditivo só pode ser detectado por testes específicos que avaliem a função auditiva central.
“O Processamento Auditivo consiste de mecanismos e processos do sistema auditivo que são responsáveis pelos seguintes fenômenos comportamentais, a saber: localização e lateralização sonora, discriminação auditiva, reconhecimento de padrões auditivos, aspectos temporais da audição, que incluem: resolução, mascaramento, integração e ordenação temporal, a performance auditiva em presença de sinais acústicos competitivos e performance auditiva para sinais acústicos degradados. Estes mecanismos e processos são supostamente aplicáveis em sinais não-verbais, bem como em verbais e afetam muitas áreas funcionais, incluindo fala e linguagem,. Eles tem correspondência neurofisiológica, assim como funcional”( ASHA,1996).
A avaliação constou de impedanciometria, audiometria tonal, audiometria vocal e avaliação do processamento auditivo (PA).
Na audiometria tonal, foram testadas as freqüências de 250 Hz a 8000Hz em ambos os ouvidos e o padrão de normalidade considerado de limiares até 20dBNA para todas as freqüências. (Jerger e Jerger, 1980).
Para realização do SRT utilizou-se a lista de vocábulos trissílabos e polissílabos proposta por Santos e Russo (1993), apresentada pela mesma avaliadora durante os testes.
No IRF utilizou-se a lista de 25 monossílabos proposta por Pen e Mangabeira-Albernaz (apud Pereira e Schochat, 1997) faixa 2 do compact disc, volume 1 que acompanha o livro Pereira e Schochat (1997).
Para impedanciometria foram testados os reflexos estapedianos contralateral e ipsilateral nas freqüências de 500Hz, 1000Hz, 2000Hz e 4000Hz.
Os participantes que apresentaram alguma alteração nas avaliações auditivas tiveram seus responsáveis alertados e orientados.
Para avaliação do PA foram realizados os testes de fala filtrada, identificação de sentenças sintéticas (SSI) em português, escuta dicótica com dígitos e dissílabos alternados SSW.
No teste de fala filtrada foram apresentadas 25 palavras com filtro passa-baixo em cada orelha. Foi realizado 50dB a mais que o limiar de reconhecimento de fala e a criança instruída a repetir os itens, mesmo quando em dúvida. Foram considerados anormais índices com menos de 70% de acerto (Musiek, Baran e Pinheiro, 1993 apud Pereira e Schochat, 1997).
O teste SSI em português foi realizado 50 dB considerando-se a média das freqüências de 500Hz, 1000Hz e 2000Hz como limiares. O teste foi feito em 2 etapas, na primeira com mensagem competitiva contralateral (MCC) nas relações fala/MCC de 0 e –40 e na segunda etapa com mensagem competitiva ipsilateral (MCI) nas relações fala/MCI de 0, -10 e –15. Os estímulos verbais utilizados (frases) foram apresentados simultaneamente com uma mensagem competitiva, um texto de história (Lima, 1958 apud Pereira e Schochat, 1997) para serem identificados. O procedimento empregado foi a utilização de 5 frases sintéticas para cada condição (relação fala/mensagem competitiva) inicialmente. Caso uma dessas frases fosse incorretamente identificada, continuava-se a apresentação do restante das frases que compõem o teste (10 sentenças sintéticas) (Almeida e Caetano, 1988 apud Pereira e Schochat, 1997). Foram considerados anormais resultados com menos de 60% de acerto.
O teste dicótico de escuta com dígitos foi feito utilizando-se uma lista constituída por 20 pares de dígitos (Santos e Pereira, 1996 apud Pereira e Schochat, 1997), numa intensidade de 50dBNS. Antes da primeira apresentação a criança foi instruída a repetir oralmente todos os dígitos apresentados independentemente da ordem.
Por último realizamos o teste de dissílabos alternados proposto por Pereira e Schochat (1997). Após a obtenção de limiares audiométricos, o teste SSW foi realizado 50dB acima da média das freqüências de 500Hz, 1000Hz e 2000Hz. A criança foi orientada a repetir o que ouvir obedecendo a ordem de apresentação das palavras. Foram anotadas, inversões e omissões para posterior análises dos resultados.
Os resultados obtidos em cada teste foram anotados na ficha de avaliação proposta por Pereira e Schochat (1997).



Resultado

Em todo o grupo avaliado foram encontradas alterações em habilidades auditivas. Este grupo foi encaminhado para a intervenção fonoaudiológica na mesma instituição em que fizeram a avaliação do processamento auditivo, com o objetivo de adequarem as funções auditivas alteradas.
Pode-se certificar da melhora no desempenho escolar destas crianças, ou seja, com a reabilitação da habilidade auditiva alterada e identificada na avaliação do processamento auditivo constatou-se a eficácia do programa terapêutico fonoaudiológico, uma vez que cada criança foi assistida em sua dificuldade.





Conclusão

Nos casos diagnosticados como disléxicos foram identificados vários perfis de processamento auditivo permitindo uma melhor concepção do programa de intervenção fonoaudiológica.
“Crianças portadoras de desordem do processamento auditivo podem também apresentar outros comprometimentos como, trantorno do déficit de atenção/hiperatividade e/ou Dislexia.” “A desordem do processamento auditivo resultaria de uma disfunção de processos auditivos, podendo também coexistir com uma disfunção global maior, como por exemplo um distúrbio de linguagem e de aprendizagem, Dislexia e transtorno do déficit de atenção”, portanto fica a discussão em relação a maneira de quantificar e mensurar um sintoma e correspondê-lo a causa.
È necessário no entanto que novas pesquisas continuem sendo feitas com a finalidade de se explorar todas as possíveis explicações entre alterações do processamento auditivo, dilexia, dentre outros transtornos. Desta forma a intervenção e o processo terapêutico evoluirão com maio êxito.
Não se pode esquecer também da importância de se ter o conhecimento do sujeito em seu processo evolutivo de aprendizagem e enxergá-lo em sua unidade, seus aspectos individuais ( cognitivos, afetivo-emocionais), familiares e os da comunidade como um todo, já que esse todo compõe o universo de cada um.
 
Referências

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Contato: veracris@uai.com.br
 

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