Código: PPA1186
NÍVEIS DE PRESSÃO SONORA ENCONTRADOS EM ÁREAS DE LAZER: RIO DE JANEIRO X SANTOS X BELO HORIZONTE. |
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Autores: Claudia Zanforlin Lapertosa, Isabela Freixo Côrtes, Juliana Rollo Fernandes, Iêda Chaves Pacheco Russo |
Instituição: PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM FONOAUDIOLOGIA DA PUCSP. |
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Introdução: Som e ruído não são sinônimos. Um ruído é apenas um tipo de som, mas um som não é necessariamente um ruído. Para Costa, Kitamura (1995), ruído é todo som inútil e indesejável, englobando neste conceito “um aspecto subjetivo de indesejabilidade, por ser o som assim definido como desagradável”. Nas últimas três décadas, tem havido em todo o mundo uma preocupação com os efeitos do ruído não ocupacional sobre a audição, tendo em vista o fato de que novas atividades de lazer são extremamente barulhentas, tais como, uso de equipamentos estereofônicos individuais em volume excessivo, exposição a concertos de rock/pop, danceterias e equipamentos de som instalados no interior de automóveis, os quais fazem parte da rotina de jovens e adolescentes que residem nas grandes cidades. Russo (1993) reforçou que, segundo a Legislação Brasileira os níveis sonoros que excedem a 85 dB (A), sejam eles gerados por fones de ouvido, ambiente de trabalho ruidoso, brinquedos sonoros, atividades domésticas e recreacionais, podem acarretar danos à saúde e, principalmente, à audição do indivíduo. Na atuação fonoaudiológica, é notável a preocupação com o ruído ocupacional e seus efeitos, havendo maior atenção e controle da audição dos trabalhadores a ele expostos. Em contrapartida, pouco é feito no sentido de verificar os efeitos da exposição à música excessivamente amplificada combinada a outros ruídos e à própria fala em voz gritada, nos locais de lazer, discotecas, fliperamas e praças de alimentação de shopping centers, estádios de futebol, cinemas, teatros etc. Foi apenas na década de 90, que surgiu no Brasil, a preocupação com os ruídos originados durante o lazer, isto é, ruídos não ocupacionais. Segundo Jorge Junior (1993), a preocupação com os ruídos não ocupacionais surgiu principalmente porque a música do estilo “rock-and-roll” expõe o ouvinte a níveis de pressão sonora intensos, podendo ser lesiva à audição. Russo et al. (1995) mediram os níveis de pressão sonora de dois trios elétricos, gerados nas diferentes partes do veículo, na cidade de Fortaleza, encontrando uma variação de 104 a 112 dB (A). Nesse mesmo trabalho compararam estes níveis sonoros, com aqueles gerados pela música de orquestra sinfônica, rock e trio elétrico, obtendo pouca diferença entre os níveis obtidos, sendo a intensidade mínima 100 dB (A) e a máxima 116 dB (A). Caldas, Lessa e Caldas Neto (1997) mediram em seu estudo, durante um evento cultural em Recife, Pernambuco, os ruídos produzidos por trios elétricos. Os resultados revelaram que durante sete horas, os foliões, músicos e residentes nos apartamentos sediados no trajeto dos veículos estiveram expostos a intensidades médias que variaram de 97 a 110 dB (A). Miranda e Dias (1998) estudaram a ocorrência de perdas auditivas em 187 trabalhadores jovens de bandas musicais e trios elétricos de Salvador, na Bahia, e encontraram uma prevalência de 40,6% de alterações auditivas nesta população. Souza (2003) em reportagem realizada pela Revista Veja, revelou que ruídos até 50 dB (A) não produzem nenhum efeito ao organismo; ruídos entre 51 e 65 dB (A) fazem com que a capacidade de concentração diminua; ruídos entre 66 e 70 dB (A) levam o organismo a liberar endorfina, para se adaptar ao barulho, o que pode causar dependência. Ruídos superiores a 70 dB (A) aumentam a taxa de liberação desta substância e, paulatinamente, crescem os riscos de depressão e problemas cardíacos. De acordo com Moura (2004), a poluição sonora encontra-se entre os três principais tipos de poluição ambiental, começando a fazer parte das discussões de políticas de saúde, o que torna o tema do presente trabalho de grande relevância para a comunidade em geral, principalmente pelo fato de ter sido realizado em três importantes cidades do país, ou seja, Rio de Janeiro, Santos e Belo Horizonte. Objetivo: Medir os níveis de pressão sonora em locais, onde são desenvolvidas atividades de lazer em três cidades do país. Método: Foram realizadas as medidas dos níveis de pressão sonora dos seguintes locais: praça de alimentação, playground e fliperama dos seguintes shopping centers: Praiamar (Santos), Barrashopping (Rio de Janeiro) e Minashopping. Boates: Mythos (Santos), Tonteria (Rio de Janeiro) e São Firmino (Belo Horizonte). Estádios de Futebol: Vila Belmiro (Santos), Luso Brasileiro (Rio de Janeiro) e Mineirão (Belo Horizonte). Cinemas: Cine Três Ferryboat Plaza (Santos), Cinemark (Rio de Janeiro) e Cinemark (Belo Horizonte). Bares sem música ao vivo: Bar do Jorge (Santos), Skylounge (Rio de Janeiro) e Chico do Churrasco (Belo Horizonte). Em todas as mensurações, foi utilizado o medidor de nível sonoro portátil da marca Minipa, modelo MSL 1325 e foram medidos os níveis mínimos e máximos encontrados no período de uma hora, no final de tarde e à noite. As medidas foram realizadas no circuito de compensação em escala (A), no modo lento (slow), nas cidades de Rio de Janeiro, Santos e Belo Horizonte. Para analisar os resultados foram computados os valores mínimos e máximos obtidos nos diferentes locais pesquisados. Resultados: Os níveis de pressão sonora encontrados variaram de 73.3 dB (A) a 92.9 dB (A), na praça de alimentação dos Shopping Centers, de 76.6 dB (A) a 113.4 dB (A) na Boate, de 71.8 dB (A) a 117.4 dB (A) no Estádio de Futebol, de 60.4 dB (A) a 86.4 dB (A) no Cinema, de 75.3 dB (A) a 90.6 dB (A) no Playground e de 72.8 dB (A) a 97.1 dB (A) no Barzinho. Embora tais níveis sonoros tenham sido inferiores aos encontrados nos estudos realizados com músicos, em nossa realidade, são suficientemente intensos para prejudicar a audibilidade de uma conversação em níveis de intensidade vocal confortáveis, podendo contribuir para gerar desconforto e aumentar o estresse na população a eles exposta. Conclusão: A maioria dos níveis de pressão sonora, obtidos nestas cidades, nos locais especificados, esteve acima dos níveis de conforto acústico estabelecidos pela Legislação Brasileira. Estes resultados atentam para o fato de que a população em geral está sujeita a riscos auditivos e extra-auditivos decorrentes da exposição a níveis de pressão sonora elevados nos ambientes de lazer, o que demonstra a relevância da atuação fonoaudiológica na prevenção das perdas auditivas induzidas por esta exposição em nossa realidade. |
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Caldas N, Lessa F, Caldas Neto S. Lazer como risco à saúde – o ruído dos trios elétricos e a audição. Rev.Brasil.ORL, 63 (3): 244 -51, 1997.
Costa EA, Kitamura S. Órgãos dos sentidos-audição. In: Mendes R. Patologia do trabalho. São Paulo. Atheneu, 1995, p. 365-386.
Jorge Jr JJ. Avaliação dos limiares auditivos de jovens e sua relação com hábitos de exposição à música eletronicamente amplificada. [tese] São Paulo (SP): Universidade de São Paulo; 1993.
Moura C. O ambiente contra-ataca. Folha de São Paulo 2004 Out 28; Suplemento Folha Equilíbrio.
Miranda CR, Dias CR trios elétricos e efeitos: a perda auditiva induzida pelo ruído em trabalhadores de bandas musicais da Bahia. Rev. Proteção, 74: 52 - 60, 1998.
Russo ICP. Noções de Acústica e Psicoacústica aplicadas a Fonoaudiologia. São Paulo: Lovise, 1993.
Russo ICP, Santos TMM, Busgaib BB, Osterne FJV. Um estudo comparativo sobre efeitos da exposição à música em músicos de trios elétricos. Rev. Brasil.ORL, 61(6): 477 - 84, 1995.
Souza FP. Barulho vicia. Revista Veja [periódico on line] 2003 [citado em 2003 jun]. ed 1806 [1 tela]. Disponível em URL: http://www.com.br/revistas. |
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