PESQUISAS EM VOZ: DE QUAIS AVANÇOS FALAMOS QUANDO PENSAMOS A VOZ COMO CIÊNCIA FONOAUDIOLÓGICA |
Iara Bittante de Oliveira
Coordenador(a) |
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“E no caminho uma nova leitura foi surgindo do pensar a Fonoaudiologia em sua essência, interrogando-a... numa tentativa de revê-la” (Cappeletti, 1985)
Pensar a trajetória da pesquisa em voz no Brasil pode pedir uma reflexão contextualizada na própria história da Fonoaudiologia brasileira.
Sabe-se que a Fonoaudiologia já era exercida no Brasil, desde o início do século passado e os cursos para formação profissional originaram-se em meados desse mesmo século. Pode-se dizer que a oficialização dos cursos de graduação universitária na área ocorreu pouco tempo depois, na década de 60 (Cappelletti, 19985; Bacha e Osório, 2004).
Atualmente, de acordo com dados do Conselho Federal de Fonoaudiologia, datado de junho de 2005, a especialidade de Voz possui 595 titulados (17,9%) de um total de 2888 fonoaudiólogos especialistas, sendo a terceira escolha dentre as quatro especialidades da profissão.
Nessa perspectiva histórica, se considerarmos ainda, que os primeiros cursos de pós – graduação surgiram há pouco mais de trinta anos (Ferreira e Russo, 1998) podemos compreender a pesquisa na área de Voz, como sendo de crescimento científico importante e indiscutivelmente profícuo.
A produção do conhecimento científico na especialidade fonoaudiológica de Voz pode ser vista também, como expressiva, quando olhamos para a produção científica em Anais de Congressos. De acordo com notícias do Comitê de Voz da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, cada vez mais fonoaudiólogos inscrevem estudos nos Congressos Nacionais e Internacionais na área.
Por outro lado, pode-se perceber que a trajetória da pesquisa em voz passa a ter uma visão acanhada, se escolhermos olhar para a socialização do conhecimento científico produzido na área, numa perspectiva de análise de acervo científico divulgado em revistas científicas. Pode-se dizer que a produção de artigos científicos na área de voz, publicados em periódicos é notavelmente menor do que aquela divulgada em anais. Com certeza esse fator dificulta o acesso ao conhecimento de novos estudos, por serem os anais de limitada circulação.
Os congressos constituem-se em momentos importantes em que pesquisadores podem estabelecer um espaço de ampla troca de informações. É nesse momento que estudiosos submetem suas pesquisas, postulações e formas de pensar a ciência à apreciação de seus pares e assim devem ser vistos como parte do processo de amadurecimento da ciência, não se encerra aí qualquer etapa, veicula-se informação.
O leitor, nesse momento, poderá achar que esta visão é no mínimo muito rigorosa, mas acredita-se já ser o momento de se deixar de lado considerações de que a Fonoaudiologia tem uma história recente, se comparada a outras ciências da saúde e que pesquisa em voz tem seus primeiros fonoaudiólogos pesquisadores, no Brasil, há menos de três décadas.
Em que pese ser esse um fator importante, deve-se pensar agora em como avançar. Russo e Ferreira (2004) apresentam um estudo sobre fonoaudiólogos doutores, alertando para a importância do doutoramento, uma vez que o “fortalecimento de uma profissão está diretamente ligado ao aumento do número de seus doutores”. As autoras apresentam uma distribuição numérica da produção de teses de doutoramento em Fonoaudiologia computadas até dezembro de 2003, em que se pode verificar que a produção na área de voz ocupa 14.8% contra 40.3% na área de audiologia e 37.0% em linguagem.
Há que ressaltar aqui dois fatores: o número de doutores na Ciência Fonoaudiologia que é de 203, baixíssimo se considerarmos que somos mais de 24000 fonoaudiólogos no Brasil (Bacha e Osório, 2004) e a produção de somente 30 teses de doutoramento em Voz, até dezembro de 2003.
Parece que cabe aos pesquisadores atuais da área de voz não só a tarefa de aumentar sua produção com qualidade, como também buscar formar fonoaudiólogos voltados para perceberem a importância de fazer crescer a Fonoaudiologia e com ela a área de voz.
Deve-se também, pensar a importância de se despertar nos estudantes de fonoaudiologia o uso do conhecimento científico. Nesse sentido González (1998) ressalta que a ausência de hábitos de leitura na população latino-americana e a pouca consciência sobre a importância da informação, em diferentes níveis, faz com que o estudante universitário praticamente não desenvolva o hábito de buscar tal informação e passe a se voltar ao ensino emergencial. O autor acrescenta a importância de se racionalizar a tarefa de busca, adequando-se formas que facilitem o acesso ao acervo disponível.
A Ciência por meio da geração de conhecimento constitui a base para compreensão humanística e como tal requer especialistas adequadamente formados para compreendê-la e tomar decisões de como conduzi-la ao longo de seu processo de amadurecimento.
Não se pode conceber Ciência sem sua socialização e desta forma, deve-se pensar propostas eficazes de divulgação e acesso aos novos conhecimentos produzidos.
O processo de amadurecimento da Ciência Fonoaudiologia - Voz, implica em que sejam discutidas: organização das linhas de pesquisa, definições de políticas científicas e tecnológicas, princípios metodológicos e uniformização terminológica, visando-se à recuperação da informação, indicações de ramos da área de voz mais carentes de conhecimento científico e o próprio discurso científico, dentre outros.
Há que se ter ainda, uma visão dinâmica em que se busca a renovação e reavaliação de forma constante, pensando a ciência como um processo de construção, não definitivo.
Referências Bibliográficas
Bacha, S.M.C; Osório, A.M.N. Fonoaudiologia & Educação: uma revisão da prática histórica.Revista CEFAC Atualização Científica em Fonoaudiologia, v.6, n. 2,p.215-21,abr-jun, 2004.
Cappelletti, I.F. A Fonoaudiologia no Brasil. Reflexões Sobre os Seus Fundamentos. Cortez Editora, São Paulo,1985.
González, S.C. La Formación de usuarios con métodos participativos para estudiantes universitarios. Ciencia da Informação, Brasilia, v.27, n.1,p.61-65, jan – abr, 1998.
Russo, I.C.P.; Ferreira, L.P. Fonoaudiólogos doutores no Brasil: análise das teses segundo áreas de atuação e programas. Pró-fono Revista de Atualização Científica, Barueri (SP), v.16, n.1, p 110-130, jan-abr.2004.
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