PERSPECTIVAS DA FONOAUDIOLOGIA NA ATENÇÃO BÁSICA
Stela Maris Aguiar Lemos
Coordenador(a)
Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
 
Aos poucos vem entrando em cena a certeza de que a visão da atenção básica como primordial, fundamental, essencial e respeitada como porta de entrada no sistema saúde é determinante para a estruturação do trabalho fonoaudiológico no nível de atenção primária à saúde em conformidade com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. Contudo, reconhecer a importância do trabalho na atenção básica não traz respostas quanto ao percurso a ser seguido pelos profissionais na busca do atendimento aos problemas e necessidades da população. Ao contrário traz dúvidas de como atuar em um nível de atenção que além de ser responsável pela entrada da população no sistema de saúde deve ser resolutivo. Deste modo, as discussões acerca das perspectivas da Fonoaudiologia na atenção básica e dos questionamentos suscitados ao conhecer os serviços e programas desenvolvidos pelo fonoaudiólogo devem estar atreladas. Das dificuldades enfrentadas... Ao discutir a prática fonoaudiológica na atenção básica deve-se considerar que o número de fonoaudiólogos neste nível é inferior ao necessário para o atendimento a demanda da população, mas também, que grande parte dos profissionais que trabalham na atenção básica não tem formação adequada para a realização de tal tarefa e busca na prática a compreensão de questões relacionadas a organização do serviço e atendimento da demanda. Vale lembrar que a organização do serviço constitui um dos principais problemas do fonoaudiólogo na atenção básica, pois é possível encontrar serviços de fonoaudiologia pautados na concepção de saúde e doença como fenômeno apenas biológico e individual e na valorização excessiva do instrumento tecnológico. Outras dificuldades encontradas pelo fonoaudiólogo na atenção básica dizem respeito a como lidar com as rotinas e programas desenvolvidos na própria unidade de saúde, inserir-se nas equipes e resolver as questões da demanda. Embora alguns pontos como conhecimento do território, participação da população e construção de sistemas de avaliação do serviço sejam amplamente discutidos e integrem o conjunto das políticas de saúde, na prática fonoaudiológica ainda não são adotados como regra. Deste modo, vale lembrar a importância do território, da população e da avaliação no processo de construção e organização do serviço. É primordial ter o território como ponto de partida e referência, ou seja, é preciso construir um arcabouço de informações contidas neste espaço sócio-político e utilizá-lo na prática de organização do serviço. Arcabouço este que deve sustentar ações e programas de intervenção . Em relação à população é necessário os usuários sejam encarados como sujeitos e haja o envolvimento do fonoaudiólogo em espaços de participação popular. E o sistema de avaliação deve ser construído e utilizado rotineiramente pelo profissional, fornecendo subsídios para a estruturação de programas. Das mudanças implantadas... É necessário reconhecer que existem também serviços de fonoaudiologia pautados na concepção da determinação social da doença e na integralidade do cuidado. Muitos profissionais buscam estratégias e práticas que reúnam o conhecimento técnico/científico aos princípios de humanização do serviço. Um ponto crucial na organização do serviço diz respeito à conjugação de qualidade da atenção à porta de entrada. Por muito tempo estabeleceu-se que o atendimento na atenção básica seria menos complexo e portanto, exigiria menor qualificação ou experiência profissional. Os demais níveis (secundário e terciário), ao contrário demandavam profissionais bem preparados e mais experientes. Contudo, a análise das necessidades organizacionais e técnicas exigidas no trabalho em atenção básica demonstra a necessidade do profissional capaz de acolher, atender, resolver e quando necessário estabelecer o rumo do usuário dentro do sistema de saúde. Tais atribuições exigem o fonoaudiólogo na atenção básica com perfil generalista, conhecedor do sistema de saúde e qualificado para responder adequadamente às exigências da população. Das perspectivas... O reconhecimento de que é necessário conjugar qualidade técnica, humanização do serviço e respeito às premissas do Sistema Único de Saúde deve ser o primeiro ponto a ser vencido por parte dos fonoaudiólogos. Ainda não houve a superação das práticas tradicionais mas é possível reconhecê-las e até criticá-las É possível vislumbrar uma práxis fonoaudiológica na atenção básica voltada para equidade e integralidade das ações de saúde. Para tanto, é de suma importância discutir e desvencilhar-se de antigas premissas que diziam ser possível desenvolver apenas ações de prevenção na atenção básica. A Fonoaudiologia na atenção básica deve ser pautada na integralidade das ações de saúde e na “integralidade do cuidado”. Buscar a integralidade significa realizar ações de prevenção, recuperação e promoção da saúde aliadas ao acolhimento como prática na organização do serviço. Buscar a integralidade significa, também encarar os demais profissionais e os usuários como sujeitos e não como mais uma engrenagem do sistema. Buscar a integralidade significa, ainda estabelecer uma organização de serviço fonoaudiológico na atenção básica que faça parte do sistema de saúde, estabelecendo estratégias e programas que de fato integrem o serviço à rede assistencial. Serviço, este que deve ser a porta de entrada no sistema de saúde e não para um labirinto sem saída. Ao estabelecer a entrada o fonoaudiólogo deve contextualizar o usuário quanto aos possíveis percursos dentro do sistema de saúde e até quanto sua saída. Vale lembrar que a saúde como direito de todos é um marco na conquista para o atendimento às necessidades da população e para a legitimidade dos profissionais de saúde. Mas, faz-se necessário que cada profissional se comprometa de fato na busca de ações que garantam a resolutividade das necessidades de saúde da população. Finalizando é importante ressaltar que todos os elementos assinalados levam em conta a atenção básica , sobretudo, no seu papel estruturador da rede assistencial. Deste modo, a estruturação e a legitimidade do trabalho fonoaudiológico no Sistema Único de Saúde , dependem sobremaneira da organização do serviço de Fonoaudiologia na atenção básica. Referências Bibliográficas: ANDRADE,S.M.,SOARES,D.A. & JUNIOR, L.C.- Bases da Saúde Coletiva Londrina. UEL, 2001, 268p Nunes ED. Saúde coletiva: História de uma idéia e de um conceito. Saúde e Sociedade 1994; 3 (2): 5-21. PAIM, J. S. & FILHO, N. A. - A crise da saúde pública e a utopia da saúde coletiva Salvador: ISC-UFBA, Casa da Saúde, 2000.. VIE IRA, R.M., VIEIRA, M.M., AVILA, C.B. & PEREIRA, L.D. Fonoaudiologia e Saúde Pública Carapicuíba, Pró-fono, 2000.
 
Contato: smarislemos@medicina.ufmg.br
 

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