Código: PDL1637
ENSURDECIMENTO NA FALA DE CRIANÇAS DISFÔNICAS DE 4 A 8 ANOS
 
Autores: Mirian Aratangy Arnaut, Clara Regina Brandão De Ávila
Instituição: UNIFESP
 
Introdução:
Os fonemas são unidades sonoras abstratas que transmitem diferenças semânticas. Muitas vezes, o contraste no significado de duas palavras se dá por traços distintivos mínimos, como o traço de sonoridade.
Nos ensurdecimentos, assim como em outros desvios ou distúrbios de fala, pode haver no desenvolvimento e na estruturação do sistema de sons da criança, alteração da recepção, dificuldades relacionadas com a organização mental dos sons da fala ou ainda, alterações da produção (Pagan e Wertzner, 2002).
Sendo a sonoridade uma característica de fala que tem na sua possibilidade de produção a vibração das pregas vocais, não é de estranhar que alguns pesquisadores tenham conferido à produção da fala um importante papel no processo de ensurdecimento. Crianças que ensurdecem podem ter dificuldade no controle laríngeo e produziriam um fonema próximo em produção e facilitado pela ausência de participação glótica, ou o correlato surdo (Brasolotto e Behlau, 1998).
No Português, a sílaba tônica é mais longa do que a átona e o ritmo da língua se constrói em torno desta acentuação, havendo predomínio de palavras paroxítonas (Massini-Cagliari, 1992). O acento tônico, no Português, tem relação com a intensidade, isto é, com maior esforço muscular e maior nitidez na produção e recepção (Bechara, 2004).
A literatura não é pródiga em mostrar pesquisas que relacionam as alterações de voz àquelas de fala ou escrita.
O Objetivo deste trabalho foi caracterizar a fala de crianças disfônicas quanto à presença de ensurdecimentos dos fonemas plosivos e fricativos, e estudá-la segundo variáveis de características dos fonemas, de sua localização na palavra, e do tipo de análise de fala.
Método: Esta pesquisa foi previamente autorizada e aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade, sob o protocolo nº0019/03. A amostra constou de 40 crianças de 04 a 08 anos, sendo 22 crianças do sexo masculino e 18 do sexo feminino, todas com diagnóstico otorrinolaringológico e fonoaudiológico de disfonia funcional e/ou organo-funcional e qualidade vocal apresentando algum grau de rouquidão ou soprosidade. Para obtenção das amostras de fala foram solicitadas as repetições de frases contidas em protocolo especialmente criado para esta pesquisa, com duas frases correspondendo a cada fonema plosivo ou fricativo, surdo ou sonoro nas posições tônica inicial, medial e final.
Solicitou-se a cada criança que repetisse após a examinadora, as 24 frases do protocolo. Todas as amostras foram gravadas em MD com microfone unidirecional em ambiente silencioso. As gravações foram utilizadas posteriormente em análises perceptivo-auditivas e espectrográficas para a investigação da presença de ensurdecimento na fala dessas crianças disfônicas. Somente as produções tônicas dos fonemas sonoros plosivos e fricativos foram analisadas.
Para a análise perceptivo-auditiva das produções de fala foi constituída uma banca de três fonoaudiólogas e, ao final, os três protocolos de cada criança foram reunidos para a obtenção de um único, cujas informações sobre o erro ou acerto foram baseadas na decisão de duas fonoaudiólogas quando não houve unanimidade, ou das três.
As respostas da banca foram inicialmente analisadas computando-se, quantitativamente, as alterações percebidas e assinaladas para os fonemas plosivos e fricativos, surdos e sonoros. A partir desta análise, buscou-se quantificar somente as alterações da percepção do ensurdecimento dos fonemas plosivos e fricativos (erros), desprezando-se as demais (outras trocas).
Para a análise espectrográfica utilizou-se o programa Praat Versão 4.2.06 (2003), instalado em um computador pessoal Pentium 4 – 2.8.
A amostra de fala de cada criança foi separada em quatro arquivos: plosivo surdo, plosivo sonoro, fricativo surdo e fricativo sonoro.
Abriu-se na tela um arquivo a cada vez e, buscou-se auditivamente, os trechos onde se localizavam os fonemas sonoros. Procurou-se a produção dos fonemas nas diversas posições tônicas das palavras pela associação da percepção auditiva da fala gravada e visual do espectrograma.
Para a análise espectrográfica da emissão dos fonemas plosivos sonoros, procurou-se visualizar a barra de sonoridade do VOT. Considerou-se, então, a visualização da barra horizontal mais escura sob a produção da sílaba que continha o fonema a ser analisado como a barra de sonoridade. Marcou-se em outro protocolo, para cada criança, a produção de cada fonema como: CERTA OU ERRADA.
Para analisar, estatisticamente, os dados utilizou-se o teste de Igualdade de Duas Proporções. Fixou-se em 0,05 o nível de significância.
Resultados e Comentários:
Para todos os fonemas estudados, houve maior freqüência de ocorrência de acertos de produção do que erros de ensurdecimento ou de outras alterações fonêmicas. Para todos os fonemas, a identificação de ocorrência de erros foi maior na análise espectrográfica.
Na comparação das análises perceptivo-auditiva e espectrográfica dos fonemas plosivos, encontraram-se os seguintes resultados: na posição inicial, o fonema /b/ não mostrou diferença na identificação de erros nos dois tipos de análise. Por outro lado, para os fonemas /d/ e /g/ houve diferença estatisticamente significante sendo maior o número de erros encontrados na análise espectrográfica.
Quanto à localização do fonema na palavra, em posição final, a análise espectrográfica dos três fonemas plosivos sonoros identificou maior número de ensurdecimentos, do que a análise perceptivo-auditiva.
Em posição medial, apenas o fonema /b/ mostrou uma tendência a apresentar maior freqüência de ocorrência de ensurdecimentos quando estudado pela análise espectrográfica.
Na comparação das análises perceptivo-auditiva e espectrográfica dos fonemas fricativos encontrou-se os seguintes resultados: nas posições inicial e final, apenas os fonemas /z/ e /Z/ apresentaram diferença estatisticamente significante quanto ao número de erros constatados entre os dois tipos de análise, tendo sido maior o número de erros da análise espectrográfica.
Na análise estatística da ocorrência de ensurdecimento em posição medial, o resultado observado foi uma tendência à significância na análise do fonema /z/ e na análise do fonema /Z/ houve diferença estatisticamente significante, sendo a maior ocorrência de ensurdecimentos observada na análise espectrográfica.
Em nenhuma das três posições estudadas houve diferença estatisticamente significante entre os dois tipos de análise para o fonema /v/.
Conclusão:
· o ensurdecimento foi identificado de forma assistemática, em maior ou menor número, na produção dos fonemas plosivos e fricativos sonoros;
· os dois tipos de análise de fala identificaram o ensurdecimento na produção dos fonemas plosivos e fricativos sonoros;
· a análise espectrográfica identificou maior número de ocorrências de ensurdecimento do que a análise perceptivo-auditiva na análise dos fonemas plosivos e fricativos sonoros .
 
Bibliografia:
1. Bechara E. Moderna Gramática Portuguesa. 37a ed. Rio de Janeiro: Lucerna; 2004.

2. Boersma P, Weenik D. Praat [programa de computador]. Versão4.2.06 Amsterdã; 1992-2003.

3. Brasolotto A, Behlau M. Vocal Assesment of children who substitute voiced phonemes by voiceless phonemes acoustic and diadochokinetic analysis. In: Behlau M (org). Laringologia e voz hoje: Temas do IV Congresso Brasileiro de Laringologia e Voz. Rio de Janeiro: Revinter; 1998. p.397-8.

4. Massini – Cagliari G. Acento e Ritmo – coleção repensando a língua Portuguesa. Coord: Castilho AT. São Paulo: Contexto;1992.

5 Pagan L.O, Wertzner H.F. Intervenção no distúrbio fonológico por meio dos pares mínimos com oposição máxima. Pró-Fono 14(3):313-324 set-dez 2002.
 
Contato: m.arnaut@terra.com.br
 

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