Código: PIS1201
GRUPOS CULTURAIS DE CONVIVÊNCIA PARA PORTADORES DE PARKINSON: BENEFÍCIOS E IMPLICAÇÕES FONOAUDIOLÓGICAS |
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Autores: Maria Lúcia Gurgel da Costa, Melissa de Lemos, Naara Ferreira Araujo de Oliveira, Janaina Moreira de Lemos, Erideise Gurgel da Costa |
Instituição: UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO |
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Tendo em vista que a doença de Parkinson compromete o controle motor, ações que envolvem comando e controle muscular sofrem comprometimento ainda no início da doença. Desta forma, os portadores da Doença de Parkinson apresentam, em diferentes graus, dificuldades motoras tais como: tremor, instabilidade postural, rigidez e bradicinesia. Esta pesquisa analisou mudanças quanto aos aspectos de voz, fala, postura, equilíbrio, expressão corporal e facial àqueles que são portadores de uma doença degenerativa e defrontam-se com um corpo em suas limitações progressivas. O estudo baseou-se em proposta de pesquisa ação, do tipo qualitativa, em estudo de caráter observacional-descritivo. Participaram da amostra 10 sujeitos entre parkinsonianos e familiares, na faixa etária entre 40 e 80 anos, de ambos os sexos. Submetidos a 7 oficinas voltadas a dança e expressão corporal. A coleta de dados se deu através de registros em fita VHS
e descrição em caderno de campo. Na entrevista semidirigida inicial e nos encontros semanais foram observadas as questões sociais, econômicas, físicas, etiopatológicas e relacionais peculiares a cada indivíduo, observando assim as relações entre esses sujeitos e a doença de Parkinson. Tais registros ocorreram graficamente de forma descritiva e contextualizada para a realização da transcrição literal das produções orais. Os registros seguiram a ordem cronológica de ocorrência, como forma de facilitar a análise dos dados. Cada encontro realizado teve como objetivo geral promover benefícios à saúde física e mental dos participantes. De modo mais específico, analisar quais implicações fonoaudiológicas as atividades com música poderiam trazer aos parkinsonianos.Tendo em vista que o portador da doença de parkinson tende a uma redução em sua amplitude e rigidez e de movimentos, todos os encontros realizados foram iniciados por atividades de alongamento. Assim, movimentos de
flexão/extensão, abdução/adução e rotação foram bastante importantes para propiciar maior amplitude dos movimentos e diminuir a rigidez corporal. Dentre os participantes foi possível observar dificuldades em realizar as atividades de alongamento corporal (região cervical, ombros, pés), por apresentarem rigidez dos movimentos, sendo este dado mais significativo para três dos dez participantes. Esta rigidez é definida por Jain e Francisco (2002), como um aumento no tônus muscular que é desencadeado durante o movimento dos membros, tronco ou pescoço através da amplitude do movimento. Por isso, estes participantes estavam sempre necessitando da ajuda dos estagiários para a realização de movimentos circulares de cabeça e de ombros, além dos movimentos de abdução/adução e flexão/extensão dos membros superiores e inferiores.Uma característica significativa da doença de parkinson é a amimia facial, bem como a bradicinesia. Para Andrade (2000), esta bradicinesia (lentidão) é responsável
pela pobreza da movimentação, como amimía facial ou gestual, que segundo Cambier (1997), dão ao parkinsoniano uma expressão fixa, inexpressiva, impassível, onde não se refletem emoções, podendo dar a impressão de paresia facial. Tal característica foi observada quando, no primeiro encontro, os participantes foram solicitados a fazerem uma careta com o máximo de esforço possível, e foi observado que, dos 10 parkinsonianos participantes, três não manifestaram quase nenhuma expressão facial. O trabalho com o equilíbrio corporal foi um dos mais priorizados, tendo em vista as grandes dificuldades encontradas pelos parkinsonianos neste aspecto. Para Jain e Francisco (2000), os problemas posturais são atribuídos a uma combinação de bradicinesia, rigidez, perda de reflexos proprioceptivos antecipatórios, e reações protetoras para a queda. Sendo assim, atividades que visavam a promoção do equilíbrio eram trabalhadas em todos os encontros e de várias formas como está evidenciado no registro
descritivo , processual dos casos. Diante de tais atividades, observou-se que todos os participantes tiveram dificuldade em manter o equilíbrio em alguns exercícios, dado que foi minimizado ao longo dos atendimentos , porém não sofreu supressão. Durante os encontros, os participantes tiveram a oportunidade de realizar atividades em que podiam expressar-se livremente, da forma que desejassem ( atividades de espelhos). Com isto, foi possível perceber que apesar das dificuldades individuais, todos os participantes puderam movimentar o corpo de forma de bastante singular e bem ampla, considerando as dificuldades impostas pelo parkinson. Além disso, tiveram a oportunidade de experienciar a amplitude de seus movimentos, o equilíbrio e a respiração, esta última, tão afetada nos parkinsonianos. Sobre a respiração Behlau e Harada in: Ferreira (1988) afirmam que o que ocorre é uma rigidez da musculatura torácica que impede a construção de uma coluna aérea subglótica.Alterações respiratórias
também são responsáveis pela voz característica da doença de parkinson:a voz rouco-soprosa. Knoop (2001), destaca que a redução na coaptação glótica associada à diminuição na propulsão diafragmática acabam por corroborar para a produção de voz com características rouco-soprosas. O autor segue afirmando que tal alteração no fechamento das pregas vocais relacionadas à rigidez da musculatura respiratória irá contribuir para redução da intensidade ou volume da voz. Através das atividades com música, especialmente a dança, todos os participantes tiveram a oportunidade de se beneficiar em vários aspectos; desde os aspectos emocionais, já que é uma atividade que trás bem-estar, até os aspectos físicos, tão degradantes nesta patologia.Os ritmos trabalhados nos encontros foram basicamente, músicas instrumentais durantes os períodos de alongamento e relaxamento, Música popular Brasileira, músicas do folclore de Pernambuco, mais especificamente o forró e a ciranda. Dançando forró, os
participantes puderam beneficiar o controle do equilíbrio, aumentar a amplitude dos movimentos, observou-se ainda aumento da velocidade de movimento após as atividades de alongamento , o que minimizou a bradicinesia, beneficiou o controle e amplitude respiratória. Passado o momento inicial da atividade ficava nítido que todos eles conseguiam se adequar ao ritmo da música e manter movimentos um pouco mais amplos. Este fato só não foi verificado em dois dos participantes, no terceiro encontro( destaca-se que neste dia ambos estavam sem a medicação prescrita para a doença).No ritmo da ciranda os participantes dançavam em movimentos circulares, levantando os braços, movimentando as pernas em movimentos amplos e cantavam. Com isto, a ciranda oferecia benefícios em vários aspectos como no forró, e em especial no aspecto de fala. Isso porque, através do canto e do ritmo da música, os participantes podiam trabalhar a prosódia (ritmo de fala), que é tão prejudicada nos parkinsonianos.
Como afirma a literatura, os portadores da doença de Parkinson tendem a redução da prosódia o que leva a vocalizações do tipo isocrônicas caracterizadas por voz monótona, pouco melódica, tendendo a ser produzida sempre da mesma forma, pela restrição articulatória, diafragmática das estruturas do trato vocal, esta fala monótona pode resultar em dificuldades para manter a atenção e interesse do interlocutor. Enquanto realizavam a ciranda, todos os participantes dançavam de mãos dadas, o que auxiliava em relação ao equilíbrio, em movimentos sincronizados entre pernas e braços (enquanto estendiam uma perna levantavam os braços), trabalhando amplitude e o ritmo dos movimentos e “venciam” a lentidão e a rigidez presentes no momento. Em um dos participantes foi percebido maior dificuldade em manter o ritmo devido à lentidão de seus movimentos, porém sempre conseguia se adequar ao ritmo antes do término da música. O final de todos os encontros era o momento de relaxamento físico e mental.
Nestes momentos, foi possível perceber que alguns participantes que tinham como principal manifestação física o tremor, o apresentavam em menor grau, deixando claro o papel do estado emocional na doença. A respeito deste assunto Ferreira (2003) afirma que o tremor é facilitado pelas emoções, fadiga e por um esforço de concentração intelectual. Esta pesquisa contou com o apoio imprescindível dos familiares dos participantes. Através destas participações (como ouvinte ou nas atividades), os familiares tiveram a oportunidade de despertar um olhar voltado às eficiências dos parkinsonianos, proporcionando o aumento da auto-imagem e incentivando as relações familiares em geral. Desde o momento em que começam a experimentar as reações do Parkinson, estas pessoas vêem suas vidas se transformarem em vários aspectos, tantos físicos quanto emocionais. Muitos se vêem incapazes de fazer o que antes faziam com facilidade, não conseguem algumas vezes andar à sós, tornam-se completamente
dependentes de outra pessoa para realizar as tarefas simples do cotidiano.Tudo isso trás conseqüências emocionais muito fortes na maioria dos casos e leva muitas vezes os parkinsonianos a quadros de depressão profunda e uma auto-imagem completamente degradada. Os resultados apontam para melhoras na qualidade de voz sendo possível observar maior projeção e intensidade na produção desta se comparada, individualmente, em relação à qualidade ao início e final de cada encontro e dentre os encontros consecutivamente. Com a diminuição na rigidez corporal identificou-se em todos os participantes aumento na amplitude de movimentos corporais globais, o que interferiu positivamente no equilíbrio e movimento, além de ser identificado aumento na mímica e expressão facial, o que associado às modificações na voz e respiração, implicaram em melhora na qualidade vocal dos Parkinsonianos, participantes do projeto. Destaca-se porém, o caráter sutil e não perene de algumas mudanças, visto que à
interrupção do trabalho identificou-se declínio dos benefícios apontados, indicando a necessidade de um trabalho sistemático e em longo prazo. Por fim, este trabalho vem demonstrar a importância da criação e manutenção de grupos de convivência para portadores de Parkinson, colaborando para uma comunicação mais eficiente, abrindo portanto, uma nova possibilidade terapêutica para acompanhamento e recuperação de sujeitos com Parkinson e seus familiares. |
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Contato: malugurgel@terra.com.br |
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