ESTUDO DE CASO – TRIAGEM AUDITIVA NEONATAL: PROBLEMAS E SOLUÇÕES
Marisa Frasson de Azevedo
Apresentador(a) de Caso
Instituição: INSTITUIÇÃO UNIFESP
 
A triagem auditiva neonatal tem sido recomendada no intuito de identificar antes dos 3 meses de idade crianças com perda auditiva para que se possa diagnosticar e intervir, com adaptação de prótese e terapia, antes dos 6 meses de vida, melhorando o prognóstico. Estudos têm demonstrado que a adaptação de prótese auditiva antes dos 6 meses de idade possibilita que a criança surda atinja um desenvolvimento de linguagem próximo do normal e obtenha um melhor desempenho educacional e social As limitações e dificuldades da triagem auditiva neonatal podem estar relacionadas aos aspéctos de elaboração e organização do programa, de captaçãode recursos pessoais e/ou materiais ou de aplicação dos procedimentos. A recomendação é de se realizar a triagem universal, aplicada a mais de 90% dos RN vivos da maternidade . Nem sempre esta tarefa é fácil Por exemplo,no programa de triagem e acompanhamento de neonatos de risco da UNIFESP , por se tratar de universidade que atua com alunosdo curso de especialização , a triagem é realizada em 80% dos nascidos.Os neonatos que nascem nos feriados e finais de semana não são triados Esta é uma limitação, pois não se dispõe de verbas para contratar profissionais que possam atuar diariamente na triagem.Nas maternidades públicas a dificuldade refere-se à falta contratação de pessoal especializado para colocar em prática as triagens e de aquisição dos equipamentos necessários para o desenvolvimento dos programas.O custo elevado dos equipamentos é uma limitação importante nas universidades federais e estaduais que têm dificuldades financeiras. Ao se instituir um programa de triagem é necessário garantir o diagnóstico e terapia dos deficientes auditivos identificados além do acompanhamento audiológico dos neonatos de risco para perdas auditivas progressivas e /ou retrococleares.Neste aspecto o Programa da UNIFESP dispõe de todos os equipamentos e equipe necessária para atuação com o deficiente auditivo. O diagnóstico é realizado nos primeiros meses com avaliação otorrinológica e audiológica completa . A bateria de testes inclui emissões otoacústicas por estímulo transiente e produto de distorção, imitanciomentria,potencial evocado auditivo de tronco encefálico( com clique, tone burst) por via aérea e ossea e avaliação comportamental Quando o neonato necessita de próteses auditivas a doação é realizada na própria universidade pelo sistema de doação SUS visto que o credenciamento já existe.A terapia fonoaudiológica também é oferecida , juntamente com as orientações aos familiares. O acompanhamento das crianças de risco é realizado por equipe multidisciplinar contando com pediatras, fonoaudiólogas, fisioterapeutas, neurologista infantil e psicologa. O monitoramento do desenvolvimento motor, auditivo, mental e de linguagem do neonato pré-termo que necessitou de cuidados intensivos ao nascimento é garantido, assim como o acompanhamento dos neonatos de risco para perdas progressivas e/ou retroocleares.Quando a criança é de risco para apresentar alterações retrococleares complementa-se a avaliação com a pesquisa do efeito de supressão O efeito de supressão é obtido realizando-se o registro das emissões otoacústicas em duas condições : sem ruído e com ruído contralateral ou ipsilateral.O ruído ativa o sistema eferente olivo coclear medial que reduz a contração das células ciliadas externas ,reduzindo a resposta. Em neonatos com neuropatia auditiva observa-se presença de emissões otoacústicas muito amplas com ausência de supressão , ausência de respostas evocadas auditivas de tronco encefálico e ausência de reflexo cócleo-palpebral a sons intensos. A avaliação comportamental também contribui na identificação de alterações retrococleares com a pesquisa dos sinais considerados indicativos de alteração retrococleares : reações exacerbadas, ausência de habituação a estímulos repetidos, dificuldades de localização com sensibilidade auditiva normal, aumento de latência de respostas, ausência de reflexo cócleo-palpebral,inconsistência de respostas para tons puros. Èm todos os casos a intervenção é realizada de imediato, orientação familiar e terapia fonoaudiológica, na própria instituição. Em muitos programas há dificuldade tanto para realizar o diagnóstico, pela falta de serviços gratuitos que disponham de todos os equipamentos necessários para o diagnóstico, como para realização da intervenção, com número reduzida da vagas para terapia fonoaudiológica nos sistemas de saúde A solução estaria em : criar programas de acompanhamento de neonatos de risco nas unidades básicas de saúde e/ou programa de atendimento à família : equipar os centros de referência : aumentar a contratação de equipes de profissionais para realização desses serviços; ampliar a capacidade de atendimento da criança deficiente auditiva; credenciar mais serviços para realização das APACS. Em relação à elaboração e desenvolvimento dos programas uma das dificuldades é a evasão .Crianças que falham na triagem e não retornam para o diagnóstico.Esta dificuldade está sendo sanada na maioria dos programas por contato telefônico com os familiares, fornecimento de auxílio para condução e/ou doação de leite para os que retornam, e formação de agentes de saúde para realizar a busca ativa.No programa de atendimento multidisciplinar de neonatos de alto risco da UNIFESP a evasão diminuiu bastante nos últimos anos Atualmente a adesão dos familiares ao programa é de 97%. Os índices de falsos positivos de uma triagem não devem ultrapassar 4%.Entretanto alguns fatores como alta precoce, alta ocorrêcia de partos do tipo cesário e de partos induzidos tem contribuido para aumentar os índices de falsos positivos no Brasil.Soluções para redução desses falsos positivos vão desde procedimentos simples como o uso das manobras para retirada de vernix do meato acústico externo até medidas de saúde mais complexas que envolvam a redução de partos do tipo cesária ou da alta precoce O procedimento de triagem selecionado deve ser aceitável,confiável,seguro,válido e eficaz. Deve ser simples,de fácil aplicação e interpretação ,rápido,com alto índice de sensibilidade e especificidade,não envolver riscos,com boa relação custo benefício e pouca variabilidade nos testes-retestes Estudos determinando a sensibilidade e especificidade dos testes de triagem já estão sendo realizados.As emissões otoacústicas e potenciais evocados auditivos de tronco encefálico são procedimentos com sensibilidade e especificidade superiores a 90%. A emissão otoacústica como teste de triagem é rápida, um minuto por orelha,de fácil aplicação e interpretação, e pouca variação no teste-reteste,além de ser seguro . A triagem com potenciais evocados auditivos é mais demorada, envolvendo colocação de eletrodos e a interpretação exige experiência do examinador em análise de traçados. A identificação da deficiência auditiva e intervenção oportuna já é possível e vêm se tornando uma realidade no Brasil.
 
Contato: marisa.frasson@uol.com.br
 

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