ESTUDO DE CASO - NEUROPATIA AUDITIVA: E A REABILITAÇÃO? |
Altair Cadrobbi Pupo
Apresentador(a) de Caso |
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Nesta mesa redonda será apresentado o caso de uma criança com diagnóstico de neuropatia auditiva e haverá dois comentadores, um médico com experiência clínica e muitas pesquisas desenvolvidas na área, que comentará os aspectos voltados ao diagnóstico e etiologia e uma fonoaudióloga que discutirá os aspectos referentes ao tratamento clínico-terapêutico e diagnóstico audiológico.
A paciente em foco, é uma criança do gênero feminino com 8 anos de idade e diagnóstico de neuropatia auditiva realizado aos 6 anos. A escolha desse caso não foi ao acaso, mas deve-se a um aspecto peculiar e pouco descrito na literatura, que é o fato de apresentar flutuação da audição durante o dia e a piora significativa da audição na presença de febre ou de processo infeccioso das vias áreas superiores, não justificada por alteração da orelha média.
Como Starr e col. (2003) referem, neuropatia auditiva não é um distúrbio novo, mas tem sido melhor definido e compreendido nos últimos anos devido aos avanços do conhecimento na área. Caracteriza-se por alteração na sincronia do sistema auditivo, na qual a função coclear encontra-se preservada em contraste com a função neural. A definição clínica da neuropatia auditiva refere-se àqueles pacientes que apresentam EOAs normais, presença de microfonismo coclear, mas ausência de Potencial Evocado Auditivo de Tronco Cerebral.
Parece haver um consenso entre os autores, que o fator genético é uma das principais causas da neuropatia auditiva (aproximadamente 40% dos sujeitos), havendo relatos na literatura de vários casos em uma mesma família. Além desse fator, parece que 20% dos sujeitos com neuropatia têm causas adquiridas como anóxia perinatal, hiperbilirrubinemia, doenças infecciosas e imunológicas. Os 40% restantes têm causas desconhecidas.
Segundo Sininger (2003), uma pessoa com Neuropatia Auditiva tem as seguintes características audiológicas: limiares tonais normais ou alterados (por via aérea e óssea), discriminação vocal pobre não compatível com o grau da perda auditiva, ausência de reflexo estapediano para qualquer tipo de estímulo, ausência de Potencial Evocado de Tronco Cerebral (PEATE), evidência de Microfonismo Coclear e presença de EOAs.
Outra característica bastante observada nos casos em que os limiares auditivos tonais estão próximos da normalidade, é a pobre performance em testes de processamento auditivo – reconhecimento dos sons da fala alterado, principalmente na presença de ruído competitivo e alteração nos testes de percepção temporal. Parece que a dificuldade de processamento temporal dos sons da fala é o fator determinante para as dificuldades observadas no reconhecimento dos sons da fala (Zeng e al.,1999).
Há, também, algumas características peculiares observadas na perda auditiva desses sujeitos, relacionadas à variação da perda. Em estudo realizado com 59 sujeitos com neuropatia auditiva, Sininger e Oba (2003) encontraram 29% de perdas auditivas flutuantes. Em muitos casos, os autores relatam que examinadores menos atentos podem pensar que a flutuação observada é em função da falta de colaboração do sujeito na realização do teste, mas esse fato é compatível com observações de pais e professores que relatam que a criança escuta melhor em alguns momentos do que em outros. Ainda, constataram perda progressiva em 15% dos sujeitos. Mas, segundo esses autores, o mais intrigante foi verificar em 3 casos variações do limiar auditivo em função do aumento da temperatura corporal, o mesmo abservado no caso que será apresentado nesta mesa redonda. Nesses casos foram registradas até perdas severas e profundas na audiometria tonal, com presença das EOAs .
O título da mesa redonda “Neuropatia auditiva: e a reabilitação?” foi escolhido em função de que são muitos os estudos que descrevem as características audiológicas de crianças e adultos com neuropatia auditiva, mas poucos são os relatos sobre o processo terapêutico desses casos. A literatura fala sobre a adaptação ou não do aparelho de amplificação sonora individual, sobre a cirurgia de implante coclear, sobre o uso de aparelho de freqüência modulada (FM), sobre o uso de pistas visuais para o melhor desenvolvimento de linguagem desses casos sobre grau de dificuldade para a oralidade e melhor desempenho com a língua de sinais, mas o processo terapêutico em si, é pouco discutido.
Nesta apresentação, realizaremos um estudo de caso, enfocando aspectos do processo terapêutico e diagnóstico com o objetivo de discutir o impacto das alterações audiológicas no funcionamento da audição e nas habilidades de comunicação dessa criança, e esclarecer como é o funcionamento auditivo e lingüístico dessa criança com neuropatia auditiva.
Serão apresentados os seguintes dados: 1) dados da entrevista com os pais, detalhando a queixa, os aspectos relacionados à audição, a história desde o momento das primeiras suspeitas quanto à dificuldade no desenvolvimento da linguagem; 2) exames realizados voltados ao diagnóstico auditivo – audiometria tonal (aérea e óssea), imitanciometria, EOAs, PEATE, testes de percepção de fala (testes de processamento auditivo); 3) Estudo genético; 4) Avaliação fonoaudiológica, enfatizando aspectos da linguagem, (oral e escrita), do sistema fonológico, da voz, do funcionamento auditivo em situações do dia a dia; 5) processo terapêutico - fonoaudiológico – tentativa de adaptação do AASI, monitoramento auditivo – registro das variações da perda auditiva, trabalho de linguagem, trabalho auditivo, acompanhamento escolar, suporte familiar, aspectos da evolução do caso. Recortes de material clínico coletado durando esse período darão suportes à nossa discussão, contribuindo para maior conhecimento quanto aos aspectos funcionais da audição. |
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Contato: lilapupo@pucsp.br |
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