ESTUDO DE CASO – TRAUMA DE FACE E DOR OROFACIAL: ABORDAGENS TERAPÊUTICAS
Maria de Fátima Arruda Spindola
Apresentador(a) de Caso
Instituição: FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PERNAMBUCO - FOP
 
A dor é uma experiência multifatorial complexa em resposta a um agente nociceptivo. Ela envolve alterações neurovegetativas como a vasoconstricção periférica, alteração na atividade muscular, e alterações do comportamento. Portanto, o tratamento da dor deve ter como principal objetivo a busca de procedimentos que levem à interação física e psíquica dos pacientes. Para que isso ocorra é necessária a atuação de vários profissionais da área da saúde. O trabalho com uma equipe multidisciplinar possibilita a abordagem terapêutica de outros profissionais, dentro de suas áreas de atuação. Esse trabalho multidisciplinar terá eficácia na medida em que cada profissional tenha maior conhecimento dos benefícios trazidos para o paciente, em decorrência da atuação dos outros profissionais da equipe. O objetivo é fazer com que o paciente não seja submetido a uma simples soma de vários tratamentos e abordagens, e sim a uma atuação efetivamente conjunta, com a troca de informações entre os profissionais envolvidos no tratamento. A inclusão do trabalho fonoaudiológico na equipe interdisciplinar, no atendimento aos pacientes com queixa de dor orofacial é importante, uma vez que esse profissional detém o conhecimento da fisiopatologia das funções crânio-orofaciais, o que possibilita o resgate do equilíbrio da musculatura orofacial. Estudos realizados em pacientes que procuram atendimento assistencial com disfunção temporomandibular, demonstraram que a dor é a razão principal da procura em até 97% dos casos, e que os 3% restantes são decorrentes das queixas de ruídos articulares ou pela sensação de desconforto nos maxilares. Como a qualidade de vida está ligada ao controle da dor, aqui começa o desafio dos profissionais da saúde, entre eles o fonoaudiólogo, que passa a avaliar o paciente com disfunção temporomandibular a partir dessa queixa de dor. Esta não é uma tarefa fácil, uma vez que a dor é um fenômeno individual e subjetivo. Cabe aos profissionais da saúde identificar a causa e fazer o tratamento dentro do seu campo de atuação e da sua experiência clínica. O objetivo deste trabalho foi mostrar a eficácia do trabalho fonoaudiológico no controle da dor e das disfunções orofaciais, desencadeadas por problemas degenerativos ocorridos na articulação temporomandibular. Trata-se de um caso de uma paciente do sexo feminino, com 44 anos de idade, atendida no Centro de Controle da Dor da Faculdade de Odontologia de Pernambuco – FOP, da Universidade de Pernambuco – UPE. Através da avaliação clínica e exames complementares, foi observado início de processo degenerativo condilar associado à disfunção muscular, que teve como diagnóstico odontológico osteoartrose. Há quatro anos usa placa interoclusal. Após a conclusão do diagnóstico odontológico, a paciente foi encaminhada para o setor de fonoaudiologia deste serviço. Na anamnese fonoaudiológica a paciente referiu queixa de dor constante na região da cintura escapular, cervical e em toda extensão da cabeça e da face. Informou que essas dores se iniciaram há mais ou menos cinco anos, e que há três anos percebe diminuição gradativa na amplitude dos movimentos mandibulares. As dores eram agravadas pela fala, bocejo, mastigação, e principalmente nos momentos de tensão emocional. O aumento da intensidade das dores muitas vezes limitava as suas atividades diárias. Relatou que apresentava hábito parafuncional de bruxismo cêntrico diurno e noturno. A avaliação fonoaudiológica identificou assimetria facial; elevação bilateral de ombros no repouso, tensão aumentada em toda região cervical, submandibular e facial; dor à palpação em toda musculatura mastigatória, cervical e da cintura escapular, e reflexo de fuga na tentativa de palpação das ATMs; limitação acentuada dos movimentos mandibulares; dificuldade para a realização dos movimentos dos lábios e da língua; falhas dentárias, mordida aberta bilateral posterior; e respiração superior. Na avaliação das funções orais, a paciente apresentou incapacidade de mordida e de mastigação. Com o diagnóstico odontológico e os dados da anamnese e do exame fonoaudiológico, a paciente foi orientada sobre a importância da retirada dos maus hábitos e dos comportamentos agravantes e perpetuantes, que favoreciam o quadro de dor, e foram traçadas as condutas terapêuticas. A proposta terapêutica foi baseada no relaxamento corporal; na adequação da respiração; em movimentos passivos e ativos de cabeça e pescoço; na termoterapia combinada com movimentos mandibulares; massagens no trapézio, esternocleidomastoideo, temporais e masseteres bilateralmente; exercícios isotônicos na musculatura mastigatória; e treino da mastigação. No início o tratamento se dava em duas sessões por semana. Com a diminuição da dor e com o aumento da amplitude dos movimentos mandibulares, os intervalos entre as sessões foram aumentando gradativamente, passando a uma sessão semanal, e posteriormente a uma a cada 15 dias, totalizando dez sessões. Atualmente a paciente está sendo atendida uma vez por mês, para a manutenção da amplitude dos movimentos mandibulares e gerenciamento das crises de dor. Todas as sessões tinham duração de 50 a 60 minutos. A paciente foi encaminhada para o setor de psicologia deste serviço, visto que apresentou características de depressão, provavelmente decorrente da própria cronicidade da dor. Referiu diminuição das interações sociais, distúrbio do sono e diminuição da concentração. A paciente não deu continuidade ao tratamento. Durante o processo terapêutico a paciente apresentou maior amplitude dos movimentos mandibulares, diminuição gradativa dos episódios de dor, e desenvolveu mecanismos para controlar ou mesmo debelar as crises álgicas. Atualmente a paciente refere crises de dor apenas em momentos de tensão emocional, geralmente desencadeados por problemas familiares. Foi orientada a, sempre que isso ocorrer, fazer termoterapia combinada com movimentos ativos da mandíbula, que provoca resultado positivo na diminuição da dor. A paciente está exercendo atividades que antes evitava, em função das crises de dor. Refere que há uma grande melhora no seu poder de atenção e concentração, que havia perdido. Relata também que hoje é uma pessoa mais feliz porque consegue realizar planos antigos. É fundamental a atenção e a orientação ao paciente, sobre as possíveis causas e mecanismos da dor e os procedimentos escolhidos para o seu controle. Isto reflete no resultado final do tratamento, aumentando a confiança do paciente no profissional, e promove melhor adesão às condutas terapêuticas. Embora haja limitações no tratamento fonoaudiológico nos processos degenerativos intra-articulares da mandíbula, este estudo pôde evidenciar a contribuição deste profissional na manutenção das funções orais e conseqüente diminuição das dores orofaciais, melhorando sua qualidade de vida.
 
Contato: fatimaspindola@uol.com.br
 

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