Código: PIA1493
INFLUÊNCIA DO TEMPO DE VIDA NA PESQUISA DAS EMISSÕES OTOACÚSTICAS EVOCADAS TRANSIENTES EM RECÉM NASCIDOS |
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Autores: Ana Dolores Passarelli de Melo, Kátia de Freitas Alvarenga, Josilene Luciene Duarte, Raquel Sampaio Agostinho-pesse, Maria Cecília Bevilacqua |
Instituição: FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BAURU / UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. |
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1 – INTRODUÇÃO
As emissões otoacústicas evocadas transientes (EOAet) têm sido amplamente utilizadas para a realização da triagem auditiva universal, em recém-nascidos (MUNHOZ & COAVILLA et al., 2000; GRAVEL & HOOD, 2001; LONSBURY-MARTIN, 2001).
Para obter-se o registro das emissões otoacústicas, o estímulo primeiramente é apresentado no conduto auditivo externo (CAE) e transmitido até a cóclea de onde retornará e será captada como resposta no CAE.
De acordo com CHANG et al. (1993) pode ocorrer uma alta taxa de falso positivo nos recém-nascidos triados com menos de 48 horas de vida. As condições do CAE são de extrema importância para o registro das mesmas, sendo que a presença de cerúmem, débris, objetos estranhos, vérnix, principalmente em neonatos, nível elevado de ruído ambiental no local da avaliação e a presença de secreção na orelha média deve ser sempre considerada quando não houver emissões otoacústicas inteiramente normais (CHANG et al., 1993; HALL, 2000a). A influência do vérnix é demonstrada por CHANG et al. (1993) que verificaram o aumento na taxa de aprovação (Passa) nas EOAet de 76% para 91% após a limpeza do conduto auditivo externo em recém-nascidos.
Outro problema que pode influenciar na captação da resposta no CAE é a presença de líquido amniótico no espaço da orelha média durante o primeiro dia de vida, sendo que exames físicos mostraram que com 48 horas de vida, a orelha média já está arejada e a membrana timpânica móvel. O mesênquima também pode ser considerado outra variável na captação das EOAet, pois trata-se de uma forma de tecido conjuntivo localizado entre o epitélio e os ossos, presente na orelha média do feto que é reabsorvido próximo do final da impregnação e um pouco antes do nascimento. No entanto, podem persistir restos de mesênquima no espaço da orelha média de alguns recém-nascidos, que desaparecem geralmente com alguns dias de vida (HALL & MUELLER, 1998b) ou em antes de completar um ano de vida (HALL, 2000b). MUNHOZ & COAVILLA et al. (2000) também consideraram o colabamento do meato acústico externo como outro fator que impediria o registro das EOAet.
A questão social é outro problema enfrentado nos programas de triagem auditiva neonatal, visto que os recém-nascidos saudáveis recebem alta hospitalar com 1 ou 2 dias de vida e o problema do vérnix nesta população é em maior proporção de que em uma população com mais de 48 horas de vida e estes recém-nascidos geralmente não retornam aos hospitais para consultas sendo que isto impõe problemas práticos para garantir que a triagem auditiva seja realizada antes da alta hospitalar (HALL & MUELLER, 1998a; WEBER & DIEFENDORF, 2001).
2 - OBJETIVO
Analisar criticamente a realização da triagem auditiva neonatal universal a partir de 24 horas de vida até a alta hospitalar.
3 - METODOLOGIA
Este estudo foi realizado no programa de triagem auditiva neonatal universal, implantado no “Hospital Maternidade Santa Isabel” da cidade de Bauru –SP, pelo Departamento de Fonoaudiologia, da Faculdade de Odontologia de Bauru / Universidade de São Paulo.
A triagem auditiva neonatal universal (TANU) foi realizada por meio das emissões otoacústicas evocadas transientes (EOAet). O equipamento utilizado foi o Madsen Capella, por meio do estímulo clique, não linear, na intensidade de 80 dBNPS. O critério de Passa/Falha foi a reprodutibilidade da resposta coclear de no mínimo 70% de correlação e relação sinal/ruído de 6 dBNPS em 3 freqüências, incluindo 4 KHz.
Participaram deste estudo 261 recém-nascidos apresentando função coclear normal comprovado por meio da presença de EOAet no teste, antes da alta hospitalar, ou no reteste, de 7 a 10 dias após a alta. Foram excluídos os recém-nascidos que apresentaram indicadores de risco para a deficiência auditiva de acordo com JCIH (2000), e os que não passaram na triagem auditiva no reteste.
O teste foi realizado em sala silenciosa, sendo que os recém nascidos estavam dormindo ou em estado de sonolência.
Os resultados foram analisados por meio da análise estatística descritiva e o teste qui-quadrado com nível de significância (p) menor ou igual a 0,3.
4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foi analisado o registro das emissões otoacústicas evocadas transientes de 261 recém-nascidos (n= 522 orelhas) antes da alta hospitalar, sendo observado que 75% (n= 394) das orelhas triadas passaram na triagem auditiva neonatal universal no teste e 25 % (n=128) destas falharam, mas apresentaram presença de EOAe-t no reteste (7 a 10 dias após a alta).
Como já descrito anteriormente, o índice de falso positivo (25% de Falha) pode ser explicado pelas condições do conduto auditivo externo e da orelha média, além da possibilidade da presença do mesênquima na orelha média em alguns neonatos (HALL & MUELLER, 1998b; HALL, 2000b; MUNHOZ & COAVILLA et al., 2000; MARGOLIS, 1997; WEBER & DIEFENDORF, 2001; GRAVEL & HOOD, 2001).
Considerando os 261 recém-nascidos triados, no teste antes da alta hospitalar, 25% (n 65) orelhas direitas e 24,2% (n 63) orelhas esquerdas falharam. No entanto não foi observado diferença estatisticamente significante entre as orelhas (teste qui-quadrado - p=0,760).
Considerando a influência do tempo de vida na pesquisa das EOAet, o total de recém-nascidos triados (n=261) foram divididos em 5 grupos de acordo com as horas de vida no momento da triagem: G I – 24 I--- 30 horas; G II – 30 I--- 36 horas; G III – 36 I--- 42 horas; G IV – 42 I--- 48 horas e G V - 48 I--- 54 horas. Os resultados demonstram que não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos, ou seja, a ocorrência de falha foi muito semelhante independente do tempo de vida do recém-nascido no momento da realização da TANU (teste qui-quadrado – p=0,504 na orelha direita e p=0,527 na orelha esquerda), considerando as primeiras 54 horas de vida do recém-nascido.
5 - CONCLUSÃO
Pode-se concluir para este estudo que não houve um momento mais adequado entre o período 24 e 54 horas de vida para realizar a pesquisa das emissões otoacústicas evocadas transientes no programa de triagem auditiva neonatal universal.
Este trabalho contribuiu para conscientizar os profissionais envolvidos, que é possível realizar a triagem auditiva neonatal universal antes da alta hospitalar, pois assim asseguramos o maior número possível de triagens tornando o programa mais eficaz. |
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6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHANG, K. W., VOHR, B. R., NORTON, S. J., LAKES, M. D. External and middle ear status related to evoked otoacoustic emissions in neonates. Archives of Otolaryngology-Head and Neck Surgery, . v.119, 1993. p. 276-282.
GRAVEL, J. S., HOOD, L. J. Avaliação audiológica infantil. In: MUSIEK, F. E., RINTELMANN, W. F. – Perspectivas atuais em avaliação auditiva. Barueri: Manole, 2001. cap.10, p.301-322.
HALL, J. W. Anatomy and Physiology. In:________. Handbook of otoacustic emissions. San Diego: Singular, 2000a. cap. 2, p.29-65.
HALL, J. W. Distorsion product and transient evoked OAEs: effect of peripheral auditory dysfunction and hearing loss. In:________. Handbook of otoacustic emissions. San Diego: Singular, 2000b. cap. 4, p.223-269.
HALL, J. W. & MUELLER, H. G. Infant hearing screening. In:________. Audiologist’ desk reference. San Diego: Singular v. I., 1998a. cap. 10, p 432.
HALL, J. W. & MUELLER, H. G. Otoacustic emissions. In:________. Audiologist’ desk reference. San Diego: Singular, v. I, 1998b. cap. 5, p.272.
JOINT COMITTEE ON INFANT HEARING (JCIH) Year 2000 Position Statement: Principles and Guidelines for Early Hearing Detection and Intervention Programs. American J. Audiol., v. 9, 2000. p. 9-29.
LONSBURY-MARTIN, B. L., MARTIN, G. K., TELISCHI, F. F. Emissões otoacústicas na prática clínica. In: MUSIEK, F. E., RINTELMANN, W. F. Perspectivas atuais em avaliação auditiva. Barueri: Manole, 2001. cap. 6, p.163-192.
MORGOLIS, R. H. & TRINE, M. B. Influence of middle-ear disease on otoacustic emissions. In: ROBINETTE, M. S. & GLATTKE, T. J. Otoacustic Emissions Clinical Applications. New York, Thieme, 1997. cap. 7, p.130-150.
MUNHOZ, M. S. L. Otoemissões acústicas. In: COAVILLA, H. H., GANANÇA, M. M., MUNHOZ, M. S. L., SILVA, M. L. G. Audiologia clínica. São Paulo: Atheneu, 2000. cap.9, p.121-148. – (Série Otoneurológica)
WEBER, B. A., DIEFENDORF, A. Triagem auditiva neonatal. In: MUSIEK, F. E., RINTELMANN, W. F. Perspectivas atuais em avaliação auditiva. Barueri: Manole, 2001. cap. 11, p.323-341. |
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