Código: PIM0608
A RELAÇÃO ENTRE SINAIS E SINTOMAS DA DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR E ESTRESSE EM ACADÊMICOS DO CURSO DE FONOAUDIOLOGIA.
 
Autores: Flávio Ricardo Manzi, Ana Paula Gasparini Braga, Ana Teresa Brandão de Oliveira e Britto, Ana Maria Costa Alves, Grazielle Duarte de Oliveira
Instituição: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
 
Introdução: Nos últimos anos, a Fonoaudiologia tem ampliado muito sua atuação, principalmente na área de motricidade oral, que tem como objetivo a manutenção do equilíbrio, a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das alterações do sistema estomatognático. Sabe-se que este sistema é responsável pelas funções vitais: respiração, sucção, deglutição, mastigação e fonação. Tais funções têm relação direta com os movimentos mandibulares, que são possíveis de serem realizados devido aos movimentos sincronizados de ambas as articulações temporomandibulares (ATMs) e seus grupos musculares. Portanto, para que haja equilíbrio e estabilidade dessas estruturas é necessário que esses movimentos se desenvolvam harmonicamente (1). Este complexo sistema mantém sua morfologia e funcionalidade em equilíbrio, a menos que mudanças estruturais e ou funcionais ocorram na musculatura mastigatória, na ATM ou em ambas, desencadeando assim, as
disfunções temporomandibulares (DTMs). Dentre os sintomas mais freqüentes das DTMs, destaca-se a dor orofacial, geralmente acompanhada de alterações mastigatórias, os ruídos articulares e as limitações nos movimentos da mandíbula(3-4). São vários os fatores etiológicos que predispõem ou agravam a instalação das DTMs. Entre eles podem ser citados os fatores oclusais, posturais, hábitos orais deletérios, sistêmicos e psicossociais, especialmente o estresse (5). Pesquisadores, afirmam que as DTMs participam de um conjunto de síndromes associadas ao estresse e que os indivíduos acometidos experimentam ou expressam sintomas somáticos, psicológicos e comportamentais do estresse simultaneamente aos sintomas de DTMs (6-7). Várias teorias citam a relação da sintomatologia das DTMs com o estresse, sendo imprescindível pesquisar este fator em indivíduos que apresentam DTM, para que se possa proporcionar um tratamento adequado (15). Entretanto, estudo anterior sugere que a síndrome da DTM
pode não ter relação com origem primariamente psicológica (16).O estresse foi definido como sendo um conjunto de reações que o organismo desenvolve diante de situação que exige um esforço adaptativo. Estudo sobre este assunto, denominou de “Síndrome Geral de Adaptação”, as alterações fisiológicas oriundas de estímulos estressores, dividindo-a didaticamente em fases de alarme, resistência e exaustão. A fase de alarme é considerada adaptativa e natural para todos os seres vivos, uma vez que após o período de excitação a homeostase é uma tendência do organismo. Esta fase do estresse não é considerada patológica, todavia se perdurar o estado de alerta, ou o organismo não fizer a reposição das energias consumidas, ocorrerá o ajuste ao estresse, concentrando o processo de reação interna para um determinado órgão alvo e, concomitantemente, poderão ocorrer manifestações da fase de resistência como ansiedade, medo, alterações sexuais, onicofagia e bruxismo. Na fase de exaustão, o organismo
já não é capaz de equilibrar-se por si só. Os sintomas somáticos e psicossomáticos se tornam exacerbados, levando ao surgimento de condições patológicas de natureza aguda ou crônica como as DTMs (17-18). O estresse produzido pelo corpo pode ser extravasado para o meio externo por meio de ações ou gestos corporais ou, ainda, ser descarregado internamente através do aumento exacerbado do tônus da musculatura corporal, principalmente da cabeça e pescoço (19). Há possibilidade da existência de indivíduos com quadro oclusal favorável mas que apresentam, entretanto, condição psicológica fragilizada, comprometendo o equilíbrio do sistema estomatognático e favorecendo a instalação de hábitos orais deletérios, que desencadeiam dor e DTM(20). A ATM é uma estrutura de grande interesse do fonoaudiólogo, bem como de outros profissionais da área da saúde. É fundamental que todos esses profissionais tenham conhecimento sobre a anátomo-fisiologia da ATM e seus processos fisiopatológicos, e que
saibam conduzir uma avaliação adequada das alterações miofuncionais e oclusais conseqüentes ou causadores das DTMs, realizando preferencialmente, uma investigação em equipe interdisciplinar. É importante que se considere, também, o estresse emocional, os possíveis micro e macrotraumas, além dos hábitos orais deletérios, pois estes podem representar componentes significativos na etiologia e manutenção das DTMs (9). Sendo assim, é necessário identificar os sinais e sintomas e relacioná-los aos possíveis fatores etiológicos, levando-se em consideração as diversas relações entre os componentes do sistema estomatognático e deste com outros aspectos do organismo humano (9-10). Objetivo: A realização deste trabalho teve como objetivo, investigar a relação dos sinais e sintomas da DTM e estresse em acadêmicos do curso de Fonoaudiologia. A justificativa deste estudo é que na detecção da estreita relação entre sinais de estresse e DTM nos acadêmicos de Fonoaudiologia, será possível adotar
medidas preventivas para que estes não adquiram esta condição. Além disso, para aqueles que apresentarem tal disfunção, o encaminhamento para tratamento e/ou acompanhamento será mais efetivo. Métodos: A presente pesquisa teve início após aprovação do protocolo de pesquisa pelo Comitê de Ética - PUC Minas n°2004/156 - CEP. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Pós-Informação. Para realização desta pesquisa 60 estudantes do curso de Fonoaudiologia, do sexo feminino, foram divididos em 2 grupos, sendo o primeiro grupo constituído de 30 alunos cursando o primeiro ano (1º e 2º períodos) e o segundo grupo constituído de 30 alunos cursando o último ano (7º e 8º períodos). Os instrumentos utilizados para avaliação foram um protocolo para identificação de sinais de DTM baseado em Okeson (19) e um questionário relacionado ao estresse composto por 12 questões sobre sinais e sintomas de estresse, adaptado por Serralta (23), baseado em Oakley. Após a tabulação dos dados, os
mesmos foram submetidos a tratamento estatístico (análise descritiva, teste do c2 e Escala de Fisher) com nível de significância de 5%. O protocolo para identificação de sinais de DTM possui questões relacionadas à queixa principal, sinais ou sintomas característicos de DTM, hábitos orais deletérios, história de trauma e exame clínico/dor orofacial e DTM. Para a realização do exame clínico, foi realizada a palpação dos músculos mastigatórios, avaliação da função e oclusão, amplitude dos movimentos mandibulares e avaliação de ruídos articulares. Resultados: as médias de idade do grupo de alunos do 1º ano e do último ano foram de 22,93 e 22,83, respectivamente. Observa-se a distribuição dos indivíduos, dos dois grupos estudados, em relação às variáveis obtidas pelo Exame Anamnésico, em relação aos sinais e sintomas: cefaléia, dor na região cervical, dor na região da ATM em função; dor na região da ATM em repouso, dificuldade de abrir a boca e história de trauma. Dentre os sintomas
que mais se destacaram, o ruído articular (40% do grupo de alunos do 1º ano e 73,3% do grupo de alunos do último ano), a cefaléia (50% e 63,3% nos grupos de alunos do 1º ano e último ano, respectivamente) e a dor em função foram os que mais se pode observar (33,3% e 36,6% nos grupos de alunos do 1º ano e último ano, respectivamente). Considerando os hábitos orais deletérios o bruxismo cêntrico ou apertamento teve maior destaque, com maior freqüência no grupo de alunos do último ano (p< 0,05). Entre os sinais e sintomas, o ruído apresentou maior relação ao estresse (p< 0,05). A maior freqüência de trajetória mandibular normal foi do grupo de alunos do 1º ano, enquanto o grupo de alunos do último ano apresentou maior freqüência de trajetória mandibular alterada. O sinal limitação de abertura foi observado apenas nos indivíduos que também apresentavam dor e ruído articular, ou seja, naqueles indivíduos que apresentavam a tríade da Disfunção Temporomandibular. Conclusão: Concluiu-se que
houve maior prevalência de sinais e sintomas de Disfunção Temporomandibular relacionados aos alunos do último ano do curso de Fonoaudiologia, além da existência da relação destes sinais e sintomas com a presença de estresse.
 
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Contato: atbritto@hotmail.com
 

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