PROCESSAMENTO AUDITIVO: ASPECTOS ATUAIS |
Liliane Desgualdo Pereira
Coordenador(a) |
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Palavras chaves: percepção auditiva; memória, transtornos da percepção auditiva; audição/ testes
Processamento Auditivo : Conceito
Processamento Auditivo refere-se aos mecanismos e processos do sistema auditivo responsáveis pelos seguintes fenômenos comportamentais: Localização sonora e lateralização; Discriminação auditiva; Reconhecimento do padrão auditivo; Aspectos temporais da audição: Resolução temporal; Mascaramento temporal;Integração temporal; Ordenação temporal; Desempenho auditivo com sinais acústicos degradados; desempenho auditivo com sinais acústicos competitivos.
Em Dallas, nos Estados Unidos , nos dias 27 e 28 de abril de 2000 , um grupo de pesquisadores em audiologia realizou um consenso, na Conferência Bruton e definiram o Distúrbio do Processamento Auditivo como próprio da modalidade auditiva . Ainda, estabeleceram que pode estar associado à dificuldades em escutar, entender a fala, alterações no desenvolvimento de linguagem e dificuldades de aprendizado.
O processamento auditivo também foi definido pelo Prof. Katz, dos Estados Unidos como “o que fazemos com o que ouvimos”. E, em 1997, Pereira utilizou o termo processamento auditivo central para se referir à série de processos que envolvem predominantemente as vias do Sistema Nervoso Central: vias auditivas e córtex.
Boothroyd (1986) se refere a percepção auditiva como a representação interna de um evento sonoro que se inicia na orelha, e vai até o cérebro onde ocorre o processamento do som. Ele propõe etapas deste processamento como: detecção; sensação; discriminação; reconhecimento; compreensão; atenção e memória.
As etapas destes processos perceptivos auditivos são fundamentais para a boa recepção do código oral, que é primordial para o desenvolvimento da fala, da leitura e da escrita
Processamento Auditivo: Avaliação
A Avaliação do Processamento Auditivo inclui a Avaliação auditiva básica composta dos procedimentos de audiometria tonal; Audiometria vocal; Imitanciometria; Emissões Otoacústicas; e a Avaliação auditiva especial que compreende os Testes comportamentais com tarefas de localização, seqüencialização, resolução temporal, tarefas dicóticas e monóticas ; os Testes eletrofisiológicos ; e no futuro acredita-se que poderá incluir os Testes de neuroimagem.
Na definição da avaliação do processamento auditivo cabe destacar que se trata de uma avaliação que faz referência a mecanismos e processos fundamentalmente auditivos; destaca-se que habilidades auditivas básicas constituem um dos pré-requisitos para a percepção de eventos auditivos mais complexos, como por exemplo , a fala e a leitura. Com a avaliação do processamento auditivo é possível planejar métodos para reabilitar estas habilidades auditivas.
Deve-se tomar cuidado na avaliação do processamento auditivo com as funções cognitivas superiores (linguagem, atenção e memória) pois estas influenciam o processamento auditivo e devem ser controladas.
A avaliação da função auditiva denominada de avaliação do processamento auditivo por meio de testes comportamentais fornece informações sobre o comportamento auditivo do sujeito que não podem ser obtidas de outra maneira. É Importante para determinar a natureza do déficit auditivo. Permite o desenvolvimento de um plano de terapia fonoaudiológica individualizado e específico para as necessidades do sujeito. Portanto deve fazer parte do conjunto de procedimentos que integram a avaliação fonoaudiológica em distúrbios da comunicação humana .
Desordem ou Distúrbio do Processamento Auditivo, DPA.
A Desordem do Processamento Auditivo (DPA) segundo Keith e Pensak (1991) consiste numa inabilidade de atentar, discriminar, reconhecer, recordar ou compreender informações auditivas. A desordem neste processo pode ser entendida como um distúrbio da audição na qual há um impedimento na habilidade de analisar e/ou interpretar padrões sonoros. Tal inabilidade é verificada apesar da ausência de comprometimento de habilidade intelectual e da sensibilidade auditiva.
Uma DPA pode estar correlacionada às alterações na aquisição, desenvolvimento e abrangência da linguagem (Tallal, 1978; Man ; Brady, 1988: Watson ; Miller, 1993; Pereira,1996) , ao Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade e Impulsividade (TDAHI), aos transtornos de aprendizagem (Katz 1996; Azevedo, 1996; Pereira 1996), aos transtornos globais do desenvolvimento , entre outros.
A percepção do estímulo temporal é um dos mecanismos fisiológicos que acontecem ao longo da cadeia auditiva. Na literatura especializada há um consenso sobre a relação direta existente entre linguagem e processos perceptivos auditivos . A percepção do estimulo temporal deficitária, por exemplo, levaria a um baixo desempenho de indivíduos em habilidades de leitura (Tallal, 1978; Watson & Miller, 1993; Pereira,1996); percepção da fala (Tallal e Newcombe, 1978); habilidades fonológicas (Man e Brady, 1988; Watson eMiller 1993) ; aprendizado em geral (Katz 1996; Azevedo, 1996; Pereira 1996).
Bellis e Ferre (1999) afirmaram que alteração da função auditiva central identificam os candidatos a terem dificuldades de aprendizado e comunicação. Relataram, ainda, que os audiologista podem e devem utilizar estes procedimentos de avaliação auditiva da função central para identificar e melhorar os efeitos negativos que estas alterações podem causar.
Desafios
A avaliação audiológica do sistema nervoso central (SNC) é altamente complexa. A criação de novos recursos tecnológicos vem possibilitando a investigação, cada vez mais aprimorada, sobre os testes mais apropriados e efetivos para avaliar o comportamento auditivo. A produção científica deixa evidente que o diagnóstico nesta área é um desafio exigindo um conjunto de testes que nos possibilite uma investigação minuciosa sobre esta desordem.
A avaliação do processamento auditivo central deve possuir testes especiais que avaliam as habilidades auditivas de localização e de memória seqüencial para sons verbais e não-verbais. Ainda, as tarefas de localização sonora e de ordenação temporal avaliadas por meio dos testes de Localização sonora em cinco direções e do Teste de Memória para sons verbais e não verbais são fáceis de serem realizados e portanto são indicadas para a utilização como triagem do processamento auditivo.
Dentre os testes comportamentais ou especiais que avaliam o processamento auditivo central , aqueles que se utilizam de materiais não lingüisticos são de aplicação fácil e rápida, e podem propiciar dados que permitam a compressão dos mecanismos básicos da audição envolvidos com a linguagem e com a aquisição de conhecimentos por meio da audição.
A seqüencialização temporal seria uma função que envolve a percepção e/ou processamento de dois ou mais estímulos auditivos em sua ordem de ocorrência no tempo (Pinheiro & Musiek, 1985). Para que o indivíduo realize esta função ele deve ter a capacidade de reter, armazenar e evocar as informações recebidas, ou seja, memorizar (Boothroyd, 1986). Gathercole (1998) relata que existem dois sistemas de memória separados, o de memória de curto prazo e o de memória de longo prazo, comenta ainda que as tarefas de recordação de sons em seqüência seriam função de memória de curta duração.
Na literatura especializada o conceito de memória está associado a aquisição, armazenamento e evocação de informações. A aquisição é também denominada aprendizado. Sabe-se que existem tantas memórias quantas forem as experiências de um indivíduo no seu meio ambiente. A avaliação do Processamento Auditivo permite compreender como está a memória de trabalho do indivíduo, ou seja, a interface da percepção de eventos acústicos simples ou complexos que se sucedem ou se sobrepõem no tempo e a formação ou evocação de memórias. A queixa de dificuldade de memória para nomes, lugares e situações avalia a Memória Declarativa: sistema de memória de longa duração que se refere à retenção de experiências sobre fatos e eventos do passado. A pergunta que se apresenta é “Que relação existe entre esse tipo de memória e a avaliada no processamento auditivo?” Ao estudar as possíveis associações entre as habilidades de Ordenação Temporal de Sons Verbais em Seqüências Simples ou Complexas e outras alterações no teste dicótico de dissílabos, denominado SSW em português, e a queixa de memória para situações, nomes e lugares foi verificado que não existe associação entre alteração nos testes e essa queixa, porém, há uma probabilidade de co-ocorrência entre alteração do tipo decodificação e queixa de memória. Assim, acredita-se que alterações no processamento de informações podem interferir com a aquisição e /ou armazenamento (memória) das experiências mas não avaliam se o indivíduo evoca ou se lembra das experiências vividas.
O interesse dos pesquisadores atualmente está na memória para sons em seqüência envolvida no mecanismo de processamento temporal . Trata-se de um teste de memória para estímulos não-verbais (pulsos) breves e seqüenciais com diferentes intervalos de silêncio inter-estímulos. Esta caracterização do desempenho em processamento temporal é de extrema importância, pois poderá auxiliar profissionais bem como familiares a compreender melhor o distúrbio do processamento auditivo e interferir mais diretamente na reabilitação fonoaudiológica.
Sendo assim, conhecer como um indivíduo lida com a ordenação temporal de uma séries de sons breves que se sucedem do tempo auxiliará a elaboração de estratégias de reabilitação fonoaudiológica para DPA com essa caraterística. E esse é o mais novo desafio desse tema: como caracterizar o processamento temporal e como re- habilitar esse comportamento auditivo
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Contato: lilianedesgualdo@uol.com.br |
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