ESTUDO DE CASO – DEL
Denise B. de Oliveira e Britto
Comentador(a) de Caso
Instituição: PUC MINAS
 
O distúrbio específico de linguagem (DEL) é uma alteração no desenvolvimento da linguagem propriamente dita, ou seja, não existe uma razão primária que justifique a alteração como, por exemplo, perda auditiva, transtorno invasivo do desenvolvimento, deficiência mental, déficit sensorial, ou dano cerebral evidente. As dificuldades com a linguagem surgem à medida que a criança se desenvolve e podem ser manifestadas por um atraso da ocorrência das primeiras palavras ou dificuldade em combinar palavras ou, ainda, em ampliar o repertório lingüístico. É uma alteração que afeta um ou vários os aspectos da linguagem: fonologia, semântica, morfossintaxe e pragmática. O DEL é uma desordem desenvolvimental caracterizada pela discrepância entre os escores obtidos em testes específicos de linguagem oral e habilidades cognitivas não verbais. As habilidades não verbais são melhor desenvolvidas que as manifestações orais. O Distúrbio Específico de Linguagem pode afetar a habilidade de compreensão (linguagem receptiva) e/ou a linguagem expressiva. O atraso na manifestação da linguagem oral é muitas vezes a razão da família procurar um profissional. Casos nos quais a criança apresenta desenvolvimento cognitivo e global normais e a linguagem oral não se manifesta, suspeita-se de DEL se o problema persiste (BISHOP, 2000). O distúrbio específico de linguagem é diagnosticado quando a criança apresenta déficit significativo na linguagem apesar de oportunidades educacionais favoráveis e inteligência não verbal normal. O diagnóstico é obtido depois de descartadas outras alterações como retardo mental, autismo, perda auditiva ou alterações neurológicas. Diferentes manifestações são observadas nas crianças com DEL, como alterações na produção adequada dos fonemas da língua, “confusão” de significados na organização frasal ou ainda dificuldades na compreensão da linguagem de outros. Crianças com distúrbio específico de linguagem podem não falar até os dois anos, podem ainda falar e não serem compreendidas. Com o passar dos anos, a linguagem manifesta-se de maneira confusa e incoerente (TOMBLIN, 1996). A incompreensão de verbos é um indicador do distúrbio específico de linguagem. Ao observar a linguagem de crianças com DEL de cinco anos, parece-nos uma criança de dois anos em decorrência dos erros típicos de tempos e concordância verbais, como por exemplo: “neném fazi”, ou “nenem fazo” Rice (1997). Os comprometimentos das funções de comunicação e no uso social da linguagem são considerados alterações pragmáticas. Saber o que dizer, como dizer, quando dizer e como estar em comunicação com o outro são habilidades pragmáticas essenciais para a comunicação humana. Indivíduos com alterações pragmáticas apresentam dificuldades em usar a linguagem socialmente, não respeitando os turnos de fala (no diálogo), falando ao mesmo tempo em que o outro ou deixando o parceiro sem resposta algumas vezes (BOWEN, 2002). Em pesquisa realizada em Oxford e Manchester, Bishop, Chan, Adams, Hartley e Weir (2000) compararam crianças com DEL com crianças com desenvolvimento normal de linguagem. Observaram que metade das crianças com distúrbio específico de linguagem apresentava distúrbio pragmático caracterizado por estratégias comunicativas menos efetivas, iniciando menos a interação com o outro e demonstrando um papel mais passivo nas conversas. Este estudo relata também que as crianças com alterações pragmáticas respondem menos às solicitações do adulto e utilizam-se mais de respostas não verbais, como por exemplo, gesto indicativo com a cabeça ao invés de dizer “sim” ou “não”. Outra alteração encontrada nos Distúrbios Específicos de Linguagem é a alteração morfossintática. A criança com alterações morfossintáticas opera com dificuldades específicas na organização da estrutura frasal caracterizada pela ausência de algumas estruturas na palavra e/ou na frase. Déficit no uso e na compreensão da gramática é um diferencial do DEL. A maioria dos problemas gramaticais é demonstrada por dificuldades expressivas na morfologia, entretanto, pode-se observar dificuldades na habilidade de compreensão dos significados em algumas palavras com sufixos específicos (BISHOP e VAN DER LELY, 2000). As alterações do aspecto semântico referem-se ao comprometimento do vocabulário, que pode estar comprometido na qualidade e na quantidade (BEFI-LOPES e GALEA, 2000) e ainda na categorização, conteúdo e significação dos vocábulos. Crianças com alterações semânticas podem apresentar ainda, dificuldades como compreender o significado de palavras e enunciados. Fica evidente a dificuldade de compreensão nas respostas destas crianças às questões do outro e também na formulação de seus enunciados, muitas vezes confusos, com palavras empregadas inadequadamente. Lidar com palavras abstratas, relacionadas a sentimentos e emoções; compreender gírias e palavras utilizadas com sentido metafórico;e identificar a questão principal do enunciado, mudando o assunto repentinamente são outras manifestações possíveis de ocorrência (Bowen, 2002). A alteração do vocabulário faz parte do quadro de DEL caracterizada pelo uso mais tardio dos vocábulos e pela ocorrência de substituições nas provas de nomeação (LEONARD, 2002). Os Processos Fonológicos são processos de simplificação da fala do adulto que a criança utiliza no decorrer do seu desenvolvimento. Os desvios fonológicos são caracterizados pela manutenção dos Processos Fonológicos além da idade cronológica em que são considerados “normais”. O distúrbio de programação fonológica é considerado um subtipo do Distúrbio Específico de Linguagem. A criança com alteração fonológica opera com algum princípio de rigidez com o qual ela retém e acumula padrões de omissões e substituições, que na aquisição normal seriam superados na passagem para um outro estágio de desenvolvimento (LOWE, 1996). No caso relatado o diagnóstico de DEL, a partir da exclusão de outras alterações: auditivas, cognitivas e neurológicas, apontam para a importância da atuação multidisciplinar no diagnóstico e enfatiza os achados da literatura que afirmam que o diagnóstico, muitas vezes é dado por exclusão. A variedade de alterações manifestadas nos diferentes componentes da linguagem em diferentes faixas etárias do paciente também é um item que se faz importante para a compreensão do DEL. Com o passar dos anos, diferentes dificuldades na linguagem podem ser manifestadas o que aponta para a importância do aprofundamento em estudo e pesquisa dos distúrbios específicos de linguagem. Estudos longitudinais são de extrema importância por possibilitar ao fonoaudiólogo o conhecimento e a compreensão das alterações da linguagem que se manifestam com o decorrer do desenvolvimento da linguagem, possibilitando a elaboração de estratégias eficazes que venham a minimizar o comprometimento da interação social e do desempenho escolar do sujeito. Entretanto, é necessário apontar para as dificuldades que são encontradas para se acompanhar por tempo prolongado crianças com alterações da linguagem. Muitas vezes, alterações aparentemente “superadas” com a fonoterapia levam o profissional ou a família a interromper o vínculo terapêutico impossibilitando o acompanhamento por um prazo necessário à confirmação das aquisições ou observação de manifestações não identificadas anteriormente. O trabalho apresentado demonstra a importância de se organizar propostas eficazes e sistemáticas de acompanhamento em longo prazo de crianças dom DEL visando à possibilidade de se minimizar e proporcionar ao indivíduo com DEL uma socialização efetiva através do uso funcional da linguagem.
 
Contato: denise.brandao@terra.com.br
 

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