Código: PDM0091
MASTIGAÇÃO: ANÁLISE PELA ELETROMIOGRAFIA E ELETROGNATOGRAFIA. SEU USO NA CLÍNICA FONOAUDIOLÓGICA
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Autores: Maristella Cecco Oncins, Regina Maria Freire (orientadora) |
Instituição: PUC-SP |
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Introdução: O interesse deste trabalho deriva da experiência clínica com disfunção temporomandibular, cujos portadores apresentam, com certa prevalência, dor e estalos na região da articulação temporomandibular (ATM), limitação da abertura de boca e alterações ao mastigar, bem como preferência por um dos lados durante a mastigação.
A literatura diz que o indivíduo que apresenta uma oclusão aceitável pode mastigar bilateralmente, de forma alternada ou simultânea, isto é, mastigando primeiro de um lado e depois do outro, ou mastigando nos dois lados ao mesmo tempo (Jabur, 2001).
Diversas pesquisas têm concluído que a mastigação bilateral, simultânea ou alternada, estimularia as estruturas de suporte, como os ossos e dentes, favorecendo o crescimento harmonioso craniofacial. Por isso, indivíduos desenvolvendo uma preferência mastigatória de lateralidade de longa duração poderiam determinar um crescimento assimétrico da face. Esse padrão de mastigação ocorreria com certa freqüência, decorrente de alterações como mordida aberta posterior, cáries, ausência de elementos dentários ou mordida cruzada posterior (Jabur, 2001).
De maneira geral, ao mastigar alternam-se ambos os lados, direito e esquerdo, realizando-se rotações condilares mandibulares. Essa alternância seria importante para o desgaste simétrico dos dentes, bem como para estimular de maneira proporcional as duas articulações temporomandibulares além de estimular o crescimento facial harmônico. Sujeitos com ausência de peças dentárias, mordidas cruzadas ou próteses mal adaptadas, tenderiam a apresentar mastigação unilateral (González, 2000).
Sob o ponto de vista fisiológico, o padrão bilateral de mastigação seria a situação ideal levando a harmonia funcional dos diversos componentes do sistema estomatognático. Quando a mastigação ocorre bilateralmente, o alimento seria distribuído de forma homogênea, favorecendo uma pressão uniforme das forças mastigatórias sobre os tecidos de suporte do dente. Portanto, a atividade dos músculos mastigatórios, sendo bilateral e sincrônica, facilitaria a estabilidade dos tecidos periodontais e da oclusão (Douglas, 2002).
Todas estas informações nos levam a acreditar que indivíduos sem alterações do sistema estomatognático mastigariam bilateralmente, e indivíduos, principalmente com disfunções da articulação temporomandibular, mastigariam preferencialmente de um lado só.
Para que pudéssemos observar se isto ocorre de fato, decidiu-se observar a mastigação, via exame clínico e, utilizando-se de aparelhos que permitissem colher dados objetivos sobre esta questão.
Atualmente, o desenvolvimento tecnológico permite contar com instrumentos de medição de grande precisão e de uso clínico, dentre os quais se tem a eletromiografia (EMG) (Nars, 2001), método disponível no mercado, que possui maior objetividade para registrar a atividade muscular simultânea e seqüente de cada ciclo mastigatório.
A eletromiografia (EMG) registra a atividade muscular em microvolts (v) e em décimos de segundos pela inserção de eletrodos bipolares, do tipo descartável, na região correspondente a cada músculo na superfície da pele. A EMG é um exame que envolve a detecção e registros dos potenciais elétricos nas fibras musculares, podendo registrar, simultaneamente, os músculos bilaterais da região craniomandibular. Esse exame não é invasivo e o indivíduo não corre nenhum risco. Os registros eletromiográficos podem fornecer excelentes informações das funções musculares em condições experimentais (Okeson, 2000; Hannam, 1977). Outro ponto favorável da EMG é usar eletrodos de superfície que são adequados para a musculatura que será analisada (Jankelson, 1990).
Existe ainda, um outro exame computadorizado, utilizado para captar os movimentos da mandíbula em décimos de milímetros, que se chama eletrognatografia (EGG), sendo destinado para medir o rastreamento mandibular (Bataglion, 2001).
Os dados obtidos pela eletromiografia (Christensen, Ardue , 1985; Yossef, 1997; Quirch, 1965), complementados pela eletrognatografia, a qual faz o registro da movimentação mecânica mandibular em cada ciclo mastigatório, permitem efetuar estudos mais eficazes e específicos, mostrando a inter-relação da atividade elétrica muscular (Perry, 1955; Ahlgren, Ingerval, Thilander, 1973) com a mecânica contrátil muscular e movimentação ou posicionamento mandibular.
Evidentemente que estes exames não excluem de nenhuma maneira o exame clínico. Os exames citados são complementares e são esclarecedores e importantes em muitos casos de disfunção temporomandibular (Mimura, Deguchi, 1966), pois os resultados obtidos relacionam o funcionamento das estruturas moles com as partes duras, lembrando que uma alteração, dentária ou óssea, pode modificar a atividade funcional da musculatura do sistema estomatognático (Krakauer, 1995).
Analisar, de forma objetiva e minuciosa, a atividade muscular por meio da eletromiografia, e a movimentação mandibular, através da eletrognatografia em indivíduos assintomáticos, sem queixa de disfunção temporomandibular, pode fornecer subsídios para compreendermos melhor se é real que a mastigação ocorre bilateralmente apenas em indivíduos hígidos e unilateralmente em indivíduos com comprometimento do sistema estomatognático.
Os fonoaudiólogos especializados em motricidade orofacial, ao observarem uma mastigação preferencial unilateral, à direita ou à esquerda, caracterizam esta forma de mastigar como uma alteração, encontrada com freqüência, nos pacientes com sintomas de disfunção temporomandibular.
Nos perguntamos se indivíduos assintomáticos teriam de fato, um padrão específico de mastigação, e caso isto ocorresse, que padrão seria este.
Objetivo: verificar quais são o(s) padrão (ões) do ciclo mastigatório de indivíduos hígidos sem sintomas de disfunção da articulação temporomandibular durante a mastigação, e descrever a atividade elétrica dos músculos masseter e temporal na mastigação e no repouso mandibular.
Métodos: Esta pesquisa foi realizada no período de agosto de 2002 a fevereiro de 2004 no Centro de Diagnóstico e Tratamento da Articulação Temporomandibular (CDTATM), dirigida pelo Dr. Guiovaldo Paiva. Os exames obtidos neste centro só foram realizados após o pesquisador ter lido com cada participante as informações necessárias para o consentimento pós-informado. Todos os exames foram realizados pelo pesquisador deste trabalho.
Dos voluntários que se apresentaram para a pesquisa, 26 foram selecionados, sendo 21 indivíduos do gênero feminino e 5 do gênero masculino, com idades que variavam entre 25 anos e 46 anos. A seleção dos indivíduos foi realizada por meio da aplicação de dois questionários, de uma triagem fonoaudiológica e de fotos da oclusão. Os participantes deveriam apresentar de 14 a 16 dentes em cada uma das arcadas, superior e inferior, pois a ausência de dentes poderia induzir a uma mastigação unilateral.
Para a obtenção dos dados foram utilizados exames de eletromiografia (EMG) e eletrognatografia (EGG). Os registros, das atividades elétricas, obtidos através da EMG, dos músculos masseteres e temporais anteriores, direito e esquerdo, ocorreram durante a posição de repouso na vigília, e na mastigação habitual provocada com uva passa sem caroço. Todas as testagens foram realizadas no período da manhã. O rastreamento da movimentação da mandíbula, obtido através da EGG, foi analisado nos 12 primeiros ciclos mastigatórios durante a mastigação provocada.
Resultados: Dos 26 sujeitos, 17 (65,4%) mastigaram mais à direita, e 9 (34,6%) mais à esquerda. Ou seja, 100% dos indivíduos hígidos mastigaram preferencialmente de um lado ou do outro. Utilizando-se a EGG foram analisados os 12 primeiros ciclos mastigatórios de cada indivíduo. O resultado desta análise mostrou que os indivíduos avaliados sempre apresentaram mastigação preferencial à direita ou à esquerda. No grupo que mastigou preferencialmente à direita foram analisados 204 ciclos mastigatórios. Destes, 145 (71,07%) ocorreram à direita, 50 (24,50%) à esquerda e 9 (4,41%) na linha média. No grupo que mastigou preferencialmente à esquerda foram analisados 108 ciclos mastigatórios. Destes 28 (25,92%) ocorreram à direita, 74 (68,51%) à esquerda e 6 (5,55%) na linha média. Estes resultados foram comparados através dos valores das médias aritméticas simples da freqüência de ciclos mastigatórios à direita e à esquerda entre os dois grupos apresentando diferenças estatisticamente significante. Através da EMG, o músculo temporal anterior apresentou maior atividade elétrica na posição de repouso e o músculo masseter apresentou maior atividade elétrica do lado da preferência mastigatória durante a mastigação habitual provocada.
Conclusões: Durante a mastigação habitual provocada, 100% dos indivíduos hígidos testados, apresentaram mastigação com preferência por um dos lados, direita ou esquerda. Os dois grupos, de preferência de lado direito ou de lado esquerdo, apresentaram diferenças estatisticamente significante em relação ao número de ciclos mastigatórios. Quanto aos músculos, o temporal apresentou maior atividade elétrica no repouso, e o masseter maior atividade elétrica durante a mastigação habitual provocada, do lado de preferência mastigatória. |
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