Código: PIL0638
A COMUNICAÇÃO SUPLEMENTAR E/OU ALTERNATIVA:
UM RECURSO TERAPêUTICO COM SUJEITOS AFÁSICOS
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Autores: Daniela Zwirtes Guerra, Josian Silva de Medeiros, Luciana Gomes de Lima |
Instituição: UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO |
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A Fonoaudiologia enquanto ciência busca compreender a comunicação humana e seus distúrbios.
Existem inúmeras patologias entre elas a afasia, que muitas vezes impossibilita a comunicação por meio da linguagem oral. Assim sendo, pretendemos proporcionar a comunicação através do emprego de Sistemas Alternativos como meio de somar a comunicação de forma temporária ou permanente para sujeitos que não possuem e que possuem a oralidade, tornando assim sua comunicação eficaz.
Este estudo teve por objetivos verificar as vantagens e desvantagens da Comunicação Suplementar e/ou Alternativa diante de três sujeitos afásicos na intervenção fonoaudiológica; analisar as possibilidades de comunicação de três sujeitos afásicos antes da intervenção fonoaudiológica; investigar a Comunicação Suplementar e/ou Alternativa na intervenção fonoaudiológica de três sujeitos afásicos; analisar a receptividade dos sujeitos afásicos diante dos sistemas apresentados.
Entendemos a importância da linguagem oral mas devemos estar abertos para outras formas de comunicação, pois vemos que a Comunicação Suplementar e/ou Alternativa (CSA) vai além de um fazer fragmentado na área da linguagem. Este recurso visa integrar o sujeito no mundo social, sem que o mesmo se sinta rejeitado ou isolado do mundo, ALMIRALL, ET AL (2003).
Neste estudo pensamos, como Vygotsky, que o conhecimento surge do coletivo para o individual, a linguagem torna-se o principal elo na relação sujeito x sujeito, é através dela que a mútua troca de conhecimento ocorre, tornando-se assim um instrumento indispensável a comunicação. É nessa troca de informações que teremos contato com nossa história construindo assim o nosso conhecimento.
Após um estudo em 1865, Broca foi o primeiro a chamar a atenção para o fato de que a linguagem é uma função do hemisfério cerebral esquerdo, fazendo notar que, em todos os seus pacientes afásicos, a lesão se localizava neste hemisfério, como assinala Murdoch (1997). A afasia tem sido definida como a perda ou debilidade da função da linguagem causada por um prejuízo do cérebro, o que causa limitações na capacidade criativa verbal, Oliveira (1996).
Para melhor entendermos a expressão meios alternativos e facilitadores de comunicação, é necessário esclarecer que a mesma sugere todo e qualquer recurso que possa ser utilizado com fins de transmitir uma mensagem e poder decodificá-la. Além disso, salientamos que a CSA pode ser utilizada para substituição da fala como também para suporte da mesma.
No âmbito clínico, Luria, em 1947, para reabilitar seus pacientes de guerra com afasia fez uso de meios pictoriais, onde registrou melhoras sensíveis na espontaneidade do fator comunicação.
Autores como Bertoni, Stoffel e Weniger (1991) nos apontam a efetividade do sistema pictorial no uso para afásicos, pois para o sujeito afásico o significado do pictograma tende a ser mais claro que o Bliss e poupa o paciente da longa aprendizagem de símbolos e sinais.
O sistema de comunicação alternativa é dividido em Pictoriais e lingüísticos. O primeiro é mais conhecido como picto-ideográfico (PIC) Capovilla, (1998).
Já o segundo pode ser dividido em sistema de desenho da linha (PCS), conforme Capovilla (1996).
Um outro sistema é a semantografia Bliss, que é um sistema lingüístico universal, logográfica-semântica.
Este trabalho foi desenvolvido no laboratório de Terapia Ocupacional da Universidade Católica de Pernambuco.
Participaram desta pesquisa três sujeitos com o diagnóstico de afasia do sexo masculino, com idade entre 35 e 60 anos, que foram selecionados através do intermédio de neurologistas e orientadores.
Utilizada com indivíduos que possuem e não possuem oralidade e para este primeiro, necessitam suplementá-la mais clara e completa, a CSA torna-se um recurso a mais na comunicação do sujeito.
Como todo e qualquer recurso terapêutico, apresenta desvantagens que podem estar relacionadas ao receio de que o uso de sistemas de comunicação alternativos possam deixar o sujeito “acomodado” em relação ao funcionamento da linguagem oral. Um outro ponto a se considerar, é o preconceito da sociedade em relação àqueles que se utilizam da CSA, pois as pessoas esperam que seus semelhantes se comuniquem através da linguagem oral, além da dificuldade da família em aprender os símbolos ou sinais.
Com relação ao paciente (P2) a terapia suplementar só teve vantagens, pois o mesmo não queria conversar com ninguém no início, lamentava-se por não manter uma coerência e não se lembrar das pessoas ou dos nomes dos objetos, mantendo-se calado.
Com base nos dados observados, trabalhamos em função de incentivar o paciente a expressar seus medos, suas angústias, para assim voltar a ocupar espaço de locutor num diálogo.
Depois de algumas sessões, o paciente relata:
P2: Eu tenho melhorado muito, entendeu,!? Muito, mas muito mesmo!
Já no paciente (P3) no decorrer do tratamento foi observado uma evolução significativa do mesmo com o procedimento alternativo adotado pela sua família (vogal/consoante), ressaltando também a linguagem oral.
Em contra partida, o paciente (P1) entusiasmou-se ao receber o sistema PCS acolhendo-o “como um companheiro indispensável”.
A partir da utilização do sistema recomendado o paciente demonstrou evoluções significativas.
O paciente apresentou perda parcial das habilidades de articulação das palavras, alteração na compreensão, leitura e escrita. O paciente não assume papel de locutor no diálogo e para se comunicar faz uso do olhar, gestos, mímica facial e de estereotipias.
Já o paciente 2 apresentou perturbação das capacidades de nomeação e de repetição. O discurso é fluente e constituído, na maioria das vezes, por parafasias.
O paciente 3 apresentou perda das habilidades de articulação e demonstrou insegurança quando lhe foi solicitado para que pronunciasse alguns fonemas. O mesmo se comunica através de gestos simbólicos, onde utiliza a mão direita, que desliza sobre o braço da cadeira de rodas, de forma rotatória, com o polegar apoiado na porção inferior do braço da cadeira, representando positivo e negativo. Quando ele quer falar os familiares, estes lhe solicitam que indique se a palavra inicia por vogal ou consoante e o mesmo vai gesticulando até que possam formar a palavra. Este mecanismo já é considerado uma forma de comunicação alternativa, pois é um mecanismo sistemático, o paciente utiliza-o sempre. As únicas palavras que o paciente emite com clareza são os seguintes vocábulos: é/ não/ maga (apelido da esposa).
Para P1 foi utilizado um sistema alternativo para a comunicação (PCS). Foram usadas onze cartelas, agrupadas em um chaveiro.
T: Veja o que trouxemos hoje! ((a terapeuta entrega o chaveiro com o sistema PCS, pois até então ele estava vendo as figuras soltas))
P1: ((demonstra grande alegria com o PCS)).
No P2 dois de acordo com o que observamos, não havia necessidade desse paciente usar um sistema de comunicação alternativa, mas sim suplementar, uma vez que a linguagem oral, ainda que alterada, era suficiente, podendo ser facilitada, complementada.
Sendo uma terapia suplementar, concentrou-se primordialmente nas falhas de compreensão, memória e nomeação. Diante disso, foram empregadas diversas atividades. O conteúdo do material verbalmente trabalhado referia-se as atividades da vida diária do paciente (sua casa, familiares, seu trabalho...) Outras vezes, o paciente teria que descrever uma situação ou acontecimento.
P3, foi observado que o mesmo já fazia uso de comunicação alternativa, a partir do momento em que usa somente sua mão direita para expressar-se, fazendo sinal de positivo somente quando corresponder à letra dita pelo interlocutor, a qual constará na palavra que ele está querendo dizer e assim sucessivamente, a fim de formar a palavra pretendida pelo paciente.
Esta técnica pretende ser aceita de forma provisória para melhorar o nível de interação, porém realizamos um trabalho voltado à comunicação oral que a fala acompanhe o que pretende dizer ao utilizar mãos, a fim de facilitar a compreensão do interlocutor não familiarizado com o sistema.
O objetivo é, que assim que ele for conseguindo emitir as palavras com maior clareza, o mesmo vá deixando de utilizar a mão direita.
Nosso foco, nesta pesquisa, se deteve no desenvolvimento de uma forma de comunicação global que fosse eficaz para cada paciente, tentando ajudá-los a conseguir sua própria forma de comunicação, a responder ao desafio das deficiências e carências de comunicação para viver sua vida com autonomia e dignidade.
As vantagens do uso CSA foi, em primeiro lugar, proporcionar aos sujeitos meios facilitadores para desenvolverem uma comunicação mais eficaz. Trabalhamos com três sujeitos, cada um com suas peculiaridades, suas habilidades e deficiências, o que promoveu uma riqueza maior em nosso estudo.
Percebemos que tanto o trabalho com a Comunicação Suplementar ou com a Comunicação Alternativa através de sistemas promoveram a estes sujeitos uma autonomia significativa na comunicação, em seu discurso.
Como desvantagens tivemos o difícil acesso aos sistemas, pelo fato de serem caros, e não estarem tão disponíveis para a venda; entretanto, a CSA é um instrumento que pode e deve ser adaptado para cada paciente, uma vez que em nossa pesquisa confeccionamos o próprio sistema nos padrões adequados.
Buscou-se assim enfatizar nesta intervenção a contribuição sócio-interacionista proporcionada pela CSA, tornando o sujeito capaz de usar as habilidades comunicativas em diferentes situações da vida diária. Sendo a utilização da CSA não só para satisfação das necessidades básicas mas também expressar seus pensamentos, sentimentos e desejos. |
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ALMIRALL,C.B; ET AL.. Sistemas de Sinais e Ajudas técnicas para a comunicação alternativa e a escrita. Princípios Teóricos e Aplicações. Ed. Santos, 2003.
BERTONI, B.;Stoffel, A.M.; Werniger, D. Commnicating with pictograms: a graphic approach to the improvement of communicative interactions. Aphasiology, v. 5, n. 4/5. 1991.
Capovilla, Marcelo Duduchi, Maria de jesus Gonçalves. O uso de sistemas alternativos e facilitadores de comunicação para o tratamento e a melhoria da qualidade de vida de afásicos.São Paulo, v.20, n.10, p. 337-342, nov/dez. 1996.
CAPOVILLA, F; ET AL. O uso de sistemas alternativos e facilitadores de comunicação nas afasias: In: Distúrbios da Comunicação, v.9, 2, São Paulo,1998
MURDOCH, B.E. Desenvolvimento da fala e distúrbios da linguagem.Rio de Janeiro: Revinter,1997.
OLIVEIRA, S. et al. O falar da linguagem. São Paulo: Lovise,1996.
LURIA, A. R. Fundamentos de neurolingüística. Barcelona: Toray Maasson, s.a. 1980. |
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Contato: josian_medeiros@katatudo.com.br |
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