A PERSPECTIVA BAKHTINIANA NA CLÍNICA DA LINGUAGEM
Maria Lucia Hage Masini
Palestrante
Instituição: PUC-SP
 
A assunção de uma perspectiva dialógica de cunho bakhtiniano na clínica da linguagem implica a adoção de objeto da fonoaudiologia como sendo o sujeito que estabelece uma relação conflituosa com a linguagem, considerando-se esse conflito de natureza social. Não há como determinar o que venha a ser patológico na linguagem de alguém sem considerarmos suas condições de produção: a(s) esfera(s) de atividade humana em que se encontra, a hierarquia dos interlocutores, suas apreciações de valor, os recursos lingüísticos e discursivos de que o sujeito dispõe. No diálogo construído no decorrer do processo terapêutico, destaca-se a existência de uma preocupação com a palavra do outro: enunciados do paciente não são (re)tomados como orações constituintes da língua, mas como elos da cadeia de comunicação verbal. Foram produzidos em função de outros que o precederam e merecem resposta. A adoção de uma atitude de responsividade por parte do terapeuta tende a levar os pacientes a fazerem o mesmo, isto é, tornarem-se interlocutores responsáveis por seus enunciados, sentindo-se capazes – dentro de suas possibilidades – de reelaborá-los de modo a dar-lhes o acabamento necessário para incitar no outro o movimento de resposta. A atitude terapêutica de tomar o enunciado do paciente com o objetivo de respondê-los, seja pela concordância, dúvida, argumentação ou complementação, faz toda a diferença: ao reconhecer no enunciado alheio suas próprias palavras acolhidas, o paciente sente-se pleno de palavras interiores e essa nos parece ser uma condição fundamental para a ressignificação da linguagem em sua vida.
 
Contato: lumasini@uol.com.br
 

Imprimir Palestra