Código: PPD1701
COMPLICAÇÕES PULMONARES E CONDUTAS DE ALIMENTAÇÃO RELACIONADAS À PRESENÇA DE ASPIRAÇÃO, APÓS TRATAMENTO DO CÂNCER DE CABEÇA E PESCOÇO
 
Autores: Monica Caiafa Bretas, Daniele Cannataro De Figueiredo, Elma Heitmann Mares Azevedo, Maria Gabriela Ache Torres, Simone Aparecida Claudino Da Silva, Inês Nobuko Nishimoto, Daniel Deheinzelin, Luiz Paulo Kowalski, Elisabete Carrara De Angelis
Instituição: HOSPITAL DO CÂNCER A. C. CAMARGO
 
Introdução: A disfagia, uma das possíveis seqüelas do câncer de cabeça e pescoço e/ou seu tratamento, pode afetar a rotina e a vida diária dos indivíduos. Algumas de suas complicações são desnutrição, necessidade de sonda para alimentação e alterações pulmonares que podem evoluir para pneumonias por aspiração crônica de alimentos. O estudo videofluoroscópico da deglutição é uma valiosa ferramenta não só para detectar a aspiração, como para orientar a conduta dos pacientes com risco de desenvolver pneumonia aspirativa. A dieta pode ser modificada, ou, se necessário, a alimentação por via oral ser suspensa. As alterações de deglutição, ao serem prontamente diagnosticadas, permitem a reabilitação mais rápida e efetiva, diminuindo as possibilidades de complicações decorrentes das aspirações laríngeas (Pikus 2003). Feinberg et al., (1997) realizaram um estudo correlacionando a freqüência de pneumonia com a aspiração após ingestão de líquidos e as condições de alimentação em 152 pacientes idosos. Como resultado indicaram não existir uma relação simples e óbvia entre a aspiração de alimentos líquido e a pneumonia e que, as vias alternativas de alimentação não pareceram ser uma solução satisfatória para prevenção de pneumonias nos indivíduos estudados com aspiração após alimentação. Em um estudo realizado com 26 indivíduos portadores de câncer de cabeça e pescoço submetidos à videofluoroscopia, Eisbruch et al., (2002) sustentam que pacientes que apresentam aspiração, especialmente aqueles com comprometimento pulmonar podem beneficiar-se deste exame como uma medida preventiva para reduzir o risco de ocorrência deste evento. Davis e Staton (2004) afirmam que há diferenças em relação às orientações quanto à dieta quando fonoaudiólogos e médicos baseiam-se apenas na avaliação clínica e quando há uma avaliação videofluoroscópica. Não há critérios bem estabelecidos quanto à liberação da alimentação por via oral e/ou a indicação de vias alternativas de alimentação ou estudos que avaliem a evolução do quadro pulmonar de indivíduos tratados do câncer de cabeça e pescoço. Objetivo: Analisar a ocorrência de complicações pulmonares em pacientes com câncer de cabeça e pescoço ou submetidos a seu tratamento e os critérios de seleção de condutas de alimentação, relacionando-os à presença de aspiração. Métodos: Trata-se de um estudo retrospectivo, no qual foram incluídos pacientes de ambos os sexos, sem restrição de idade, tratados do câncer de cabeça e pescoço e submetidos à avaliação videofluoroscópica da deglutição no período de janeiro de 1998 a dezembro de 2003. Foram excluídos do estudo pacientes externos que não tinham prontuário na instituição ou que apresentavam outros tumores associados. Foram realizados levantamentos dos prontuários no Serviço de Arquivo Médico (SAME) e dos registros das avaliações videofluoroscópicas do Setor de Fonoaudiologia, destacadas a evolução clínica do quadro pulmonar até seis meses após o exame e as condutas de introdução de alimentação determinadas pela equipe multidisciplinar. As avaliações videofluoroscópicas da deglutição foram realizadas de acordo com a rotina e o protocolo dos exames realizados pelos Departamentos de Fonoaudiologia e de Diagnóstico por Imagem, por um médico radiologista e por um fonoaudiólogo. Todas as avaliações foram gravadas em fita VHS para posterior análise por fonoaudiólogas com experiência na área. Os achados foram classificados em alterações da fase preparatória, oral e faríngea. As conclusões das avaliações videofluoroscópicas foram feitas de acordo com as escalas de Severidade da Disfagia (O. Neil et al. 1999) e de Penetração e Aspiração (Rosenbek et al. 1996). Concluída a análise da avaliação videofluoroscópica, fez-se um levantamento do perfil clínico do paciente com o objetivo de verificar dados como sexo, idade, tabagismo, etilismo, tipo e local do tumor, tipo de tratamento realizado e a presença ou não de queixa de deglutição; seguido da análise dos parâmetros quanto à presença ou não de pneumonia /BCP, antibióticoterapia, aumento de tosse, aumento de secreção, ocorrência de internação, dispnéia e óbito, até seis meses após a avaliação videofluoroscópica. Resultados: Foram analisados 524 indivíduos, dos quais 366 (69,85) do sexo masculino e 158 (30,15%) do sexo feminino, com média de idade de 57,75 ± 15,25 (7 meses a 94 anos). 341 pacientes (65,07%) eram fumantes e 263 (50,19) alcoolistas. 100% dos indivíduos participantes do estudo foram submetidos a alguma modalidade cirúrgica e 363 (69,3%) à radioterapia. 128 (24,28%) pacientes apresentaram deglutição funcional, 382 (73,04%) disfagia mecânica e 14 (2,68) disfagia neurogênica associada. Quanto às complicações pulmonares, 11,1% apresentaram pneumonia, 15,9% aumento de secreção, 15,5 % tosse persistente e 11,9% antibioticoterapia. Dos pacientes que tiveram pneumonia, 80 % tiveram aspiração laríngea (p=0,001). As complicações pulmonares foram associadas ao diagnóstico de aspiração na videofluoroscopia: pneumonia 80% versus 20% (p = 0,001), uso de antibióticos 78% versus 22% (p=0,001), aumento de tosse 72,7% versus 27,3% e aumento de secreções 78,5% versus 21,5% (p<0,001) ao comparar presença e ausência de aspiração respectivamente. Dos pacientes que apresentaram algum tipo de alteração do quadro pulmonar 1 (9,10%) apresentou, de acordo com a escala de severidade da disfagia de O’Neil et al (1999), deglutição normal em todas as consistências; 4 (36,37%) deglutição dentro dos limites funcionais; 3 (27,28%) disfagia discreta; 1 (9,10%) disfagia discreta / moderada e 2 (18,19%) disfagia moderada. Dos pacientes analisados que apresentaram broncopneumonia aspirativa 6 (6,90%) apresentaram penetração laríngea, 27(19,57%) aspiração e 28 (22,4%) aspiração silente. Quando correlacionado a ocorrência de broncopneumonia aspirativa com a Escala de Penetração e Aspiração (Rosenbek et al, 1996) 14 (9,40%) pacientes estavam entre o nível de 1 a 4 (penetração), 6 (17,65%) entre o nível de 5 a 7 (aspiração) e 25 (22,94%) estavam no nível 8 (aspiração silente). 296 pacientes (56,5%) tiveram a alimentação por via oral liberada; 139 (26,5%) via oral assistida e 77 (14,7%) via oral suspensa. Pacientes com via oral liberada apresentaram estatisticamente maior ocorrência de penetrações (71%), quando comparados àqueles com via oral assistida (22,6%) e via oral suspensa (2,15%). A conduta de via oral assistida foi mais freqüente em pacientes que apresentavam aspirações (42,25%) e aspirações silentes (39,1%) quando comparados aos demais grupos. Conclusão: As complicações pulmonares pós-tratamento do câncer de cabeça e pescoço são relativamente freqüentes e estão fortemente associadas com o diagnóstico videofluoroscópico de aspiração. Entretanto, a análise retrospectiva demonstrou que as ocorrências de penetrações e aspirações laríngeas não foram fatores preditores para a suspensão da via oral.
 
CARRARA-DE-ANGELIS, E., FURIA, C.L.B., MOURAO, L.F., MIGUEL, R.E., AUGUSTO, M.C.- Videofluoroscopic evaluation of glossectomized patients. In International Simposium: Care of Professional Voice and Phonomicrosurgery. Athenas, 25 a 27 setembro de 1997.

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Contato: monica@caiafa.org
 

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