Código: PIS0986
ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NA PROMOÇÃO E PREVENÇÃO EM UNIDADES DE ATENÇÃO PRIMARIA À SAÚDE.
 
Autores: Gabriela Dos Santos Buccini, Luciana Tavares Sebastião, Cibele Prado Rezende, Tatiane Eisencraft, Vivian Bonafonte
Instituição: DEPARTAMENTO DE FONOAUDIOLOGIA – FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS – UNESP – CÂMPUS DE MARÍLIA.
 
A atuação fonoaudiológica em unidades de atenção primária à saúde deve privilegiar ações de promoção e prevenção em Fonoaudiologia. As ações em tais unidades de saúde podem envolver pessoas de diferentes faixas etárias. Entretanto, o presente estudo privilegiou ações envolvendo crianças pequenas, uma vez que o período entre o nascimento e os três anos de idade corresponde a uma etapa da vida em que ocorrem rápidas e importantes aquisições, tanto no que se refere à audição quanto à linguagem oral. Qualquer problema auditivo ou de linguagem que ocorra nesta faixa etária, se precocemente identificado, permitirá a adoção das condutas necessárias para a realização do diagnóstico e tratamento do problema, evitando, assim, maiores prejuízos para o desenvolvimento global da criança. Mas, muitas vezes, o diagnóstico de um problema auditivo ou de linguagem é tardio devido à falta de conhecimentos dos pais ou responsáveis pela criança sobre os processos de aquisição e desenvolvimento nessas áreas. Nesse sentido, a realização de ações fonoaudiológicas tanto de promoção como de prevenção envolvendo tais aspectos do desenvolvimento infantil permitirá a construção de conhecimentos que possibilitarão aos pais acompanhar e contribuir para o desenvolvimento de seus filhos. Permitirá, também, a identificação de possíveis problemas e a realização dos encaminhamentos necessários. O presente trabalho vem sendo desenvolvido, desde 2001, em unidades básicas de saúde e unidades de saúde da família do município de Marília e tem os seguintes objetivos: 1) Investigar conhecimentos prévios de pais ou responsáveis por crianças entre 0 e 36 meses relacionados ao desenvolvimento da audição e aquisição da linguagem oral, bem como à importância fonoaudiológica do aleitamento materno; 2) Realizar ações educativas envolvendo tais temas; 3) Por meio de investigação com as mães e de observação do comportamento das crianças, obter informações que permitam a identificação de possíveis problemas na audição e na linguagem oral, bem como a realização dos encaminhamentos necessários. Nas ações educativas foram discutidos os seguintes temas: 1) Importância do aleitamento materno para o crescimento e desenvolvimento das estruturas e funções do sistema estomatognático e para a prevenção de otite média; 2) Desenvolvimento da audição e aquisição da linguagem oral; 3) Atitudes e atividades que contribuem para a promoção do desenvolvimento infantil nessas áreas. Participaram do trabalho, até o momento, 314 mães ou responsáveis por 327 crianças na faixa etária entre 0 e 36 meses. A investigação inicial mostrou que, em relação à importância do aleitamento materno, 249 (79,3%) participantes relataram ter recebido orientações sobre este tema. Quanto aos temas abordados nessas orientações, 77 (30,9%) respondentes relataram ter recebido orientações sobre como amamentar; 87 (34,9%), tempo de amamentação; 47 (18,9%), prevenção de doenças; 34 (13,6%), crescimento e o desenvolvimento do bebê; 30 (12%), superioridade do leite materno; 26 (10,4%), cuidados com as mamas e 33 (13,2%) informantes relataram ter recebido outras informações, tais como, necessidade de insistir na prática do aleitamento, doação de leite e alimentação das mães. Do total de entrevistados, 33 (13,2%) participantes não souberam referir quais foram as informações dadas e 30 (12%), disseram que o aleitamento materno traz benefícios para o bebê, mas não souberam precisar quais seriam esses benefícios. Questionados sobre os benefícios que o aleitamento materno poderia trazer para a criança, 59 (18,8%) respondentes apontaram sua importância para a “saúde do bebê”, sem, no entanto, especificarem quais aspectos da saúde infantil seriam beneficiados; 153 (48,7%), para prevenção de doenças; 35 (11,1%), para o crescimento e desenvolvimento da criança e 37 (11,8%) informantes indicaram outros benefícios, como relação mãe-bebê, fonte de vitaminas, entre outros. Do total de entrevistados, 54 (17,2%) informantes não apontaram nenhum benefício do aleitamento materno para a criança e apenas 2 (0,6%) relacionaram, espontaneamente, esta prática a benefícios para o sistema estomatognático. Quando perguntado aos participantes se eles acreditavam que o aleitamento materno poderia trazer algum benefício para a fala e audição da criança, 233 (74,2%) informantes responderam afirmativamente a esta questão. Dentre esses, quando feito o questionamento sobre quais seriam estes benefícios, 39 (16,7%) apontaram a importância da amamentação para o sistema estomatognático e um (0,4%) indicou a prevenção de problemas otológicos. Três (1,3%) informantes apresentaram respostas não relacionadas ao sistema estomatognático ou à audição. Um (0,4%) respondente disse haver diferenças entre a sucção no aleitamento natural e artificial, entretanto, não soube precisar quais seriam tais diferenças. Ainda dentre os informantes que disseram acreditar que o aleitamento materno poderia trazer algum benefício para a fala e audição da criança, 210 (90,1%) não souberam relatar quais seriam esses benefícios.
Em relação à audição, questionados sobre como é possível saber se a criança escuta bem, dentre o total de entrevistados, 132 (42%) disseram observar se a criança procura a fonte sonora na presença de sons; 75 (23,9%), que a criança com boa audição responde às solicitações verbais; 45 (14,3%), observavam que a criança fica atenta tanto a sons ambientais como verbais e 28 (8,9%) participantes relataram perceber que a criança ouve por meio do “olhar”. Dezenove (6%) informantes apresentaram outras respostas frente a este questionamento, tais como, a criança sorrir ou se assustar e a necessidade da realização de avaliações audiológicas. Dezesseis (5,1%) responsáveis disseram não saber responder a esta questão. Em relação à conduta que deve ser adotada pelos pais ao suspeitar que a criança tenha algum problema auditivo, 251 (79,9%) participantes disseram que levariam a criança ao médico; 6 (1,9%), à unidade de atenção primária à saúde; 8 (2,5%), ao fonoaudiólogo e 33 (10,5%) respondentes disseram que procurariam por outros serviços ou profissionais, como APAE e “especialistas”. Onze (3,5%) informantes indicaram a necessidade do uso de medicamentos e 5 (1,5%) disseram não saber responder. Questionados sobre quais respostas aos sons podem ser observadas no decorrer do desenvolvimento do bebê, os participantes disseram notar mudanças no comportamento de seus filhos quando expostos a estímulos sonoros, como olhar para a fonte sonora (n=62; f=19,7%); acalmar-se com a voz da mãe (n=18; f=5,7%); sorrir (n=13; f=4,1%); prestar atenção ao som (n=9; f=2,8%); assustar-se (n=6; f=1,9%); falar e cantar (n=5; f=1,5%), além de outras respostas como dançar, correr, mexer a boca e resmungar. Entretanto, quando questionados sobre as idades em que observavam estes comportamentos, nenhum dos informantes soube precisá-las. Dentre os participantes, 165 (52,5%) não souberam responder a este questionamento. Frente à investigação sobre a relação entre problemas otológicos e alterações auditivas, 298 (94,9%) disseram acreditar que há relação entre esses dois problemas. Entretanto, 79 (26,5%) não souberam caracterizar a natureza desta relação; 150 (50,3%) disseram que o tratamento inadequado dos problemas otológicos poderia levar a uma perda auditiva; 21 (7%), que somente alguns tipos de problemas otológicos podem levar a problemas auditivos; 16 (5,4%), que tais problemas podem afetar estruturas do sistema auditivo e 30 (10%) informantes relataram outras respostas, como usar cotonete como fator determinante de perdas auditivas e que toda prevenção é importante, dentre outras respostas.
Em relação à investigação sobre a aquisição da linguagem oral pela criança, 129 (41%) respondentes relataram não ter informações a respeito do assunto e 6 (2%) apontaram a importância do papel dos pais neste processo. Os demais, 179 (57%) participantes relataram comportamentos relacionados à aquisição da linguagem, entretanto, não souberam precisar as idades em que passavam a observá-los. Foram relatados comportamentos como balbucio, primeiras palavras e frases. Questionados sobre como os pais poderiam contribuir com a aquisição da linguagem oral de seus filhos, 194 (61,8%) informantes relataram ser importante conversar com a criança; 53 (16,9%), ensinar a criança a falar corretamente; 25 (8%), destacaram a importância dos pais serem um bom modelo de fala para a criança; 24 (7,6%), a importância dos pais brincarem com seus filhos; 24 (7,6%), ser necessário solicitar a repetição correta de palavras e 42 (13,4%) respondentes relataram outros tipos de atitudes que, adotadas pelos pais, poderiam contribuir para a aquisição da linguagem oral, dentre elas, cantar, nomear, ter paciência. Vinte e dois (7%) informantes relataram não saber como poderiam contribuir para aquisição da linguagem por seus filhos.
A investigação sobre os comportamentos relacionados à linguagem e audição, bem como a observação dos 327 bebês mostrou a necessidade de encaminhamento de 22 (6,7%) crianças para avaliações especializadas nas áreas da Fonoaudiologia, Otorrinolaringologia e Enfermagem.
Os dados obtidos nas investigações sobre os conhecimentos dos pais ou responsáveis a respeito dos aspectos relacionados à audição e linguagem oral, bem como sobre a importância fonoaudiológica do aleitamento materno mostraram a escassez de informações sobre esses temas. Mostraram também a importância da atuação fonoaudiológica em unidades de atenção primária à saúde tanto na elaboração e desenvolvimento de ações educativas visando à construção de conhecimentos sobre esses aspectos do desenvolvimento infantil, quanto para a identificação precoce de possíveis alterações nesses aspectos, possibilitando o encaminhamento para as avaliações especializadas necessárias, permitindo assim o diagnóstico e o tratamento desses problemas. Este trabalho evidenciou a importância das ações de promoção e prevenção em Fonoaudiologia em unidades de atenção primária à saúde, mesmo que este seja um caminho difícil de trilhar, visto que não temos, ainda, em nosso país, uma cultura que valorize ações dessa natureza.
 
AIMARD, P. O surgimento da linguagem na criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

BARBOSA, T.C.; SCHNONBERGER, M.B. Importância do aleitamento materno no desenvolvimento.In: Marchesan, I.Q. et al (org.) Tópicos em Fonoaudiologia. São Paulo: Lovise, 1996 (CEFAC, volume III).

CARVALHO, M. R.; TAMEZ, R. N. Amamentação: bases científicas para a prática profissional. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

CONSELHO REGIONAL DE FONOAUDIOLOGIA. Documento aborda inserção da Fonoaudiologia no Programa de Saúde da Família. Revista da Fonoaudiologia – 2ª região, São Paulo, n. 47, set./out., 2002.

DOWNS, M.P.; NORTHEN, J.L. Audição em Crianças. São Paulo: Editora Manole,1989. 421p.

EISENCRAFT, T. ; REZENDE, C. P. ; SEBASTIÃO, L. T. Trabalho de prevenção primária e secundária na unidade de saúde da família CDHU. In: In: GIACHETI, Célia Maria. Coletânea de Comunicações Científicas da VIII Jornada de Fonoaudiologia da Unesp de Marília. Marília: UNESP, 2002. p.18-25.

EISENCRAFT, T. ; REZENDE, C. P. ; SEBASTIÃO, L. T. Conhecimentos, experiências anteriores e condutas de mães em relação aos problemas otológicos em crianças. In: GIACHETI, Célia Maria Coletânea de Comunicações Científicas da VIII Jornada de Fonoaudiologia da Unesp de Marília. Marília: UNESP, 2002. p. 37-44.


FREIRE, R. A linguagem como processo terapêutico. São Paulo: Plexus, 1993.

GOMES, C. F. Aleitamento materno. Barueri, SP: Pró-Fono, 2003.

KUDO, A.M. et al. Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional em Pediatria. São Paulo: Sarvier, 1990. (Monografias Médicas. Série Pediatria, nº 22).

MISQUIATTI, A. R.N. et al Aquisição e desenvolvimento normal da fala e da linguagem. In: JORNADA DE FONOAUDIOLOGIA, 8, 2002, Marília. Resumos... Marília: UNESP, 2002. p. 50.

PENTEADO, R. Z.; SERVILHA, E. A. M. Fonoaudiologia em saúde pública / coletiva: compreendendo prevenção e o paradigma da promoção da saúde. Distúrbios da Comunicação, São Paulo, n.16, v.1, p.107-116, abril, 2004.
 
Contato: gabibuccini@yahoo.com.br
 

Imprimir Trabalho

Imprimir Certificado Colorido

Imprimir Certificado em Preto e Branco