VOZ NA TV - AVALIAÇÃO VOCAL DO PROFISSIONAL DO TELEJORNALISMO
Adriana Campos Balieiro Panico
Comentador(a) de Caso
Instituição: CENTRO UNIVERSITÁRIO BARÃO DE MAUÁ
 
Introdução: A avaliação vocal do profissional do telejornalismo, ora chamado telejornalista, é uma das constituintes do processo de avaliação fonoaudiológi-ca. No caso de assessoria ou trabalho de habilitação e aperfeiçoamento, a ava-liação embora contemple todos os aspectos básicos de nossa avaliação, al-guns aspectos particulares devem ser observados. Uma questão importante é observar as emissões nas diferentes tarefas a que o telejornalista está exposto: “links” (transmissão ao vivo, feita fora do estúdio, podendo acontecer em locais abertos ou fechados, com ou sem presença de entrevistados), passagens (gra-vação feita no local do acontecimento, com imagem do telejornalista dando as informações), “offs” (gravação de texto feita pelo telejornalista, onde posterior-mente serão inseridas imagens relativas àquela reportagem) e sonoras (fala captada durante a entrevista). Ainda temos as situações de estúdio: a apresen-tação de telejornais, as entrevistas em bancadas, ou “sessões”, que são partes do telejornal destinadas a assuntos específicos, como por exemplo, economia ou entretenimento. Em cada uma delas a comunicação encontra diferentes formas de mediação entre falante (telejornalista) e ouvinte (telespectador), que podem responder por diferenças comumente encontradas. Além da performan-ce profissional, ainda se avalia a emissão espontânea, para que se tenha uma dimensão dos ajustes feitos durante a emissão profissional. Parte-se da anam-nese onde se investiga a presença de hábitos inadequados e a expectativa de produção vocal, tanto para o telejornalista como para a empresa em que presta serviço. A avaliação otorrinolaringológica é sempre uma grande aliada e ne-cessária, uma vez que mesmo na ausência de lesões, é comum a presença de quadros alérgico-irritativos. A avaliação fonoaudiológica deve ser feita por meio de registro de voz, contemplando a análise perceptivo-auditiva e, se possível, a análise acústica. Também é feita a análise da produção in locu (durante a atu-ação) e por meio de fitas VHS de diversas produções. Os parâmetros analisa-dos são os mesmos da avaliação tradicional da voz: tipo de voz, sistema de ressonância, freqüência, intensidade, medidas fonatórias, coordenação pneu-mofonoarticulatória e psicodinâmica vocal. Além desse processo amplamente conhecido por especialistas da voz, é de fundamental importância a avaliação dos recursos vocais utilizados pelo telejornalista, se há domínio e consciência de seu uso. Podem-se enumerar esses recursos em: ênfases, pausas, curva melódica ou entonação, ritmo e variações de loudness, pitch e velocidade. Ain-da bastante discutidos inclusive quanto à nomenclatura, são importantíssimos para que se decida o plano de atuação. Por representarem uma importante di-ferença em relação à avaliação tradicional da voz, essa exposição se ocupará da demonstração e observação desses recursos em processo avaliativo, assim como propostas de atuação fonoaudiológica. Objetivo: Demonstrar por meio de estudo de caso, os fatores constituintes de uma avaliação fonoaudiológica dirigida a telejornalistas, especificamente no que concerne à avaliação vocal. Partindo da anamnese, construir uma obser-vação criteriosa e que responda a “queixa” ou “desejo” e necessidade do clien-te, que pode ser representado por pessoa física (o próprio telejornalista) ou ju-rídica (a empresa para a qual trabalha). A partir dos dados levantados na avali-ação, propor atuação fonoaudiológica indicada para adequar ou melhorar a performance do telejornalista. Método: Por meio de estudo de caso, apresentado em fita VHS, será feita a observação de telejornalistas nas diferentes situações de atuação: link, passa-gem, off, sonoras e apresentação. As análises serão feitas por meio de análise perceptivo-auditiva, assim como por análise acústica dos trechos de fala apre-sentados. O protocolo a ser utilizado será o seguinte: Qualidade vocal: Tipo: neutra, não-neutra, desviada, alterada. Ressonância: equilibrada, com predomínio de um foco ressonantal. Pitch: grave, médio, agudo. Loudness: forte, médio, fraco. Articulação: precisa, imprecisa, indiferenciada, travada, exagerada, distorcida. Velocidade de Fala: média, lenta, acelerada. Coordenação pneumofonoarticulatória: presente, ausente Ataque vocal: brusco, isocrônico, aspirado. Recursos Vocais: Ênfase, pausas, curva melódica (ascendente ou descendente), ritmo (repetiti-vo, monótono), variações (loudness, pitch e velocidade). Como apresentado anteriormente, enfocaremos os recursos vocais, somente comentando a primeira parte sobre a qualidade vocal. A avaliação do corpo, assim como seu protocolo, serão discutidos por outro componente da mesa. Os dados levantados na avaliação serão comentados e à luz das necessidades trazidas pelo cliente, serão sugeridas formas de atuação fonoaudiológica. Conclusões: A avaliação bem como a atuação fonoaudiológica com telejorna-listas deve considerar as particularidades impostas pela mídia utilizada, que é a televisão. Embora normalmente o trabalho seja de habilitação ou aperfeiçoa-mento, deve-se sempre garantir ao profissional um padrão de emissão saudá-vel e confortável. Afinal, a utilização daquela voz deverá percorrer, com quali-dade, toda a vida profissional do indivíduo. Uma constante na vida do telejorna-lista é a presença de situações, onde a grande cobrança, ou mesmo, o imedia-tismo, a impossibilidade de “refazer” quando se está “ao vivo” gera um alto grau de stress. O controle desse stress, ou sua canalização para uma melhor performance deve ser trabalhado. Essa atuação pode envolver outros profis-sionais, que não só o telejornalista, também responsáveis diretos pela trans-missão da notícia. Conhecer bem todo o processo e relacionar-se bem com to-dos os envolvidos pode ser a chave para o sucesso do trabalho fonoaudiológi-co. É necessário que se demonstre ao telejornalista, as diferenças entre leitura e fala, e que o texto do telejornal é construído para ser falado, portanto deverá carregar características da linguagem oral. O hábito da leitura é um aliado que deve ser sempre estimulado. Interpretação de textos literários como poemas, crônicas pode ajudar na conscientização dos diversos recursos vocais. As ex-pectativas em relação à produção vocal do telejornalista não são estanques e se modificam na medida em que a evolução cultural e comunicativa as trans-forma. O que as mais recentes pesquisas apontam é que a narração do tele-jornalista deve apresentar variação de freqüência e intensidade, com ênfases adequadas e sem repetição de modulação. Ainda é desejável precisão articula-tória em todas as emissões. Os aspectos psicológicos associados à transmis-são da notícia, além da confiabilidade, são a agradabilidade e a naturalidade com que a comunicação é feita. Os recursos selecionados deverão estar sem-pre aliados ao sentido do texto, promovendo dessa forma uma maior expressi-vidade durante o ato comunicativo, o que garante uma melhor compreensão por parte do telespectador. Referências bibliográficas: Behlau, M. (2001). Voz – O Livro do Especialista, volume I. Editora Revinter, Rio de Janeiro. Behlau, M. (2005). Voz – O Livro do Especialista, volume II. Editora Revinter, Rio de Janeiro. Kyrillos, L. C. R. (2004). Voz na Mídia, Televisão e Rádio. In: Ferreira, L. P.; Befi-Lopes, D. M. & Limongi, S. O. C. (organizadoras). Tratado de Fonoau diologia – Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. Capítulo 13, Editora Ro ca, São Paulo. Paternostro, V. I. (1999). O texto na TV – Manual de Telejornalismo. Editora Campus, Rio de Janeiro.
 
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