Código: PIP0841
ESTUDO DA MATURAÇÃO DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO E SISTEMA AUDITIVO EM UM GRUPO DE RECÉM-NASCIDOS PRÉ-TERMO COM DISPLASIA BRONCOPULMONAR |
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Autores: Vera Cristina Alexandre De Souza, Regiane B. Pires, Marisa Frasson De Azevedo, Alice Penna De Azevedo Bernardi |
Instituição: CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA |
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Introdução
O avanço tecnológico e científico é responsável pelas maiores taxas de sobrevida de recém-nascidos cada vez mais imaturos e de menores pesos de nascimento.
A melhoria dos cuidados básicos, os avanços na nutrição neonatal, o uso de corticosteróides ante e pós-natal, a introdução de surfactante exógeno e as novas modalidades ventilatórias fazem parte deste avanço.
O campo da atuação fonoaudiológica encontra-se inserido na melhoria dos cuidados e avanços da nutrição neonatal. A partir da intervenção fonoaudiológica conseguimos adequar as funções de sucção, deglutição e respiração propiciando a transição para via oral de maneira mais rápida, eficaz e segura.
Os efeitos dos progressos da tecnologia e das melhores qualidades dos serviços oferecidos aos recém-nascidos de risco são inquestionáveis, as estatísticas revelam o aumento na sobrevivência de neonatos de alto risco, porém o número que sobrevive com seqüelas em seu desenvolvimento também é considerável e requer o atendimento diferenciado o mais precocemente possível.
Portanto o interesse desta pesquisa brotou da intenção de conhecer mais especificamente a evolução do recém-nascido pré-termo com displasia broncopulmonar no que diz respeito à maturação do sistema estomatognático e sistema auditivo já que seu dia a dia está atrelado a inúmeras intercorrências e intervenções clínicas que se fazem necessárias para garantir sua sobrevida.
A atenção voltada ao desenvolvimento do sistema estomatognático e sistema auditivo corresponde ao fato de serem áreas de atuação da fonoaudiologia hospitalar neonatal.
A importância de estudos na área reside no fato de que recém-nascidos pré-termos com displasia broncopulmonar costumam apresentar um dos quadros clínicos em que se exige do profissional fonoaudiólogo atenção redobrada durante o transicionamento da alimentação enteral a via oral, pois fizeram uso prolongado de oxigênio e possuem maior dependência do mesmo interferindo diretamente no tempo de transição alimentar e conseqüentemente na maturação do sistema estomatognático.
Displasia broncopulmonar(DBP): foi descrita em 1967 por Northway e col., em prematuros com síndrome de desconforto respiratório, tratados com ventilação mecânica e que evoluíram no primeiro mês de vida com persistência dos sintomas respiratórios, necessidade de oxigênio e com alterações radiológicas e histológicas progressivas, cultimando com a ocorrência de cistos, áreas atelec-tásicas e fibrose, que caracterizam o estágio de maior gravidade da doença.
Nesta situação clínica é utilizada medicação ototóxica como os diuréticos, antibióticos e surfactantes tornado-se importante e relevante a investigação do sistema auditivo.
Enfim, na atuação de duas áreas da fonoaudiologia neonatal, presentifíca-se o objetivo desta pesquisa, que trata da descrição pormenorizada dos dados significativos e intercorrências de um grupo de vinte recém-nascidos pré-termos com displasia bronco-pulmonar, por meio da intervenção fonoaudiológica diária na transição alimentar e realização dos exames audiológicos.
Método
Para a concretização desta proposta necessitar-se-á do acompanhamento fonoaudiológico diário dos recém-nascidos pré-termos em unidade de terapia intensiva e demais setores do hospital, bem como após a alta hospitalar, a realização trimestral dos exames auditivos selecionados e adequados à faixa etária.
Serão avaliados vinte(20) récem-nascidos pré-termos de risco portadores de displasia broncopulmonar nascidos na Santa Casa de Misericórdia de Passos/M.G. no período de agosto de 2004 a junho de 2005.
O acompanhamento da maturação do sistema estomatognático será feito durante a intervenção fonoaudiológica diária que se inicia a partir da solicitação médica, ou seja, quando o neonato de risco apresenta-se mais estável e em condições de receber o trabalho sensório-motor-oral. Esta atuação iniciará na unidade de terapia intensiva(UTI) e quando o recém-nascido receber alta, continuará em demais setores do hospital, tais como o alojamento conjunto, intermediário ou ala particular até receber alta fonoaudiológica que não necessariamente coincidirá com a alta hospitalar.
Para esta intervenção o profissional utilizará como método de avaliação e estimulação a técnica da “sucção digital”. A transição da dieta enteral para via oral vai acontecendo gradativamente de acordo com a evolução e maturação do sistema estomatognático e estado clínico geral do recém-nascido. O acompanhamento fonoaudiológico passa pela fase da estimulação da sucção não nutritiva digital concomitante a passagem da dieta via sonda e pela estimulação da sucção nutritiva já com a dieta em via oral.
Durante a intervenção fonoaudiológica que serão observados e relatados os dados relevantes e intercorrências para o objetivo deste trabalho, levando-se em conta especialmente a evolução do recém-nascido com quadro de displasia bronco-pulmonar.
Quanto a coleta de dados a respeito da evolução do sistema auditivo iniciará com a triagem auditiva dos recém-nascidos com idade mínima de trinta sete semanas e se repetirá a cada três meses até aproximadamente um ano de idade.
A triagem auditiva contará com a avaliação comportamental da audição, com o exame emissões otoacústicas transitórias da audição e a audiometria de tronco encefálico. Estes testes serão efetuados no próprio hospital no setor de audiologia mesmo após a alta hospitalar. Os exames serão analisados e associados ao protocolo de evolução do sistema estomatognático e dados da evolução geral do recém-nascido assim com toda a medicação administrada a cada recém-nascido para posterior análise, estudo, relação e conclusão.
Todos os dados serão colhidos paulatinamente de acordo com os acompanhamentos realizados tendo como prazo máximo para a concentração de vinte casos o término do mês de junho do ano de 2005, ou seja, os últimos seis meses para o término do curso serão destinados a discussão e conclusão dos dados coletados.
Na Avaliação Comportamental Auditiva serão utilizados estímulos sonoros produzidos por alguns instrumentos musicais, como o agogô, o guizo, o reco-reco e o prato. Os estímulos serão apresentados em ordem crescente de intensidade com duração de 2 segundos e intervalo de 30 segundos entre os estímulos.
Nas Emissões Otoacústicas Evocadas Transitórias é colocada uma pequena sonda na orelha da criança que emite sinais de cliques que são captados por um microfone, localizado na própria sonda. O exame deve ser realizado nas duas orelhas, tendo duração máxima de 1 minuto.
Na Avaliação Eletrofisiológica da Audição são colocados três pequenos eletrodos (um atrás de cada orelha e um no centro alto da testa) que se fixam à pele através de uma pasta condutiva, após higienização dos locais com pasta abrasiva. Depois de colocados eletrodos, é colocado um fone, na orelha a ser testada, que dará o estímulo sonoro para que sejam captados pelo eletrodo. O registro das respostas é feito em equipamento próprio para realização do exame. Este deverá ser realizado nas duas orelhas, preferencialmente no momento após a mamada, no qual a criança se encontra mais calma e relaxada, facilitando a realização do mesmo.
As emissões otoacústicas ( Trasientes OAEs) e a avaliação eletrofisiológica da audição ( ABRs) serão realizadas no aparelho de marca “Smart Notes”, Intelligent Hearring Systems. Maimi. USA.
A Avaliação do Sistema Estomatognático compreende:
A avaliação da Sucção não Nutritiva: O recém-nascido será avaliado, de preferência, em estado de alerta e faminto. A fonoaudióloga introduzirá o dedo enluvado na boca do recém-nascido e observará como ele realiza a sucção. Durante essa mesma avaliação também são avaliadas a respiração, a deglutição e as estruturas intra-orais do recém-nascido.
A Avaliação da Sucção Nutritiva (na transição da alimentação via sonda naso ou oro gástrica para a alimentação via oral): Neste momento o recém-nascido recebe o alimento por via oral através de sonda uretral-4 ou uretral-6 acoplada ao dedo mínimo, a fonoaudióloga introduzirá o dedo enluvado na boca do recém-nascido estimulando sua sucção para que posteriormente possa alimentar-se exclusivamente por via oral.
Resultado
No grupo de recém-nascidos com displasia bronco-pulmonar foi observado que a adequação do sistema estomatognático fica comprometida em relação ao padrão respiratório e dependência prolongada do suporte de oxigênio.
Este grupo mostrou em sua evolução uma maior permanência no período da transição alimentar, na passagem da alimentação em via enteral para via oral exclusiva, devido a episódios de desconforto respiratório, dispnéia e cianose, independente da classificação do quadro de displasia bronco-pulmonar.
Na maior parte dos casos acompanhados verificou-se padrão de sucção inicialmente hipoativo, vedamento labial incompleto, língua em posição mais posteriorizada, pausas freqüentes entre os grupos de sucção.
A incidência é bastante expressiva em recém-nascidos pré-termo extremo e ou com muito baixo peso.
Quanto ao desenvolvimento auditivo pode-se constatar até o presente momento que o grupo apresentou na sua maior parte respostas satisfatórias e condizentes com a faixa etária que se encontram, revelando que apesar das inúmeras intercorrências e intervenções demonstraram grande capacidade de adaptação, regeneração e resistência a demanda que lhes foi imposta.
Conclusão
A realização de pesquisas tem contribuído indiscutivelmente para o crescimento e aprofundamento do conhecimento relativo aos diferentes processos, fisiológicos e patológicos, peculiares a esse período.
Todas essas mudanças refletiram em maiores taxas de sobrevida de recém-nascidos cada vez mais imaturos e de menores pesos de nascimento, desta forma cresce também as ações que possuem como objetivo proporcionar melhor qualidade de vida a esta fase da vida tão primordial ao desenvolvimento saudável do ser humano.
Esta pesquisa descreve o processo evolutivo da transição alimentar e do sistema auditivo de um grupo que apresenta em seu quadro clínico a displasia bronco-pulmonar revelando que a atenção especializada e a utilização dos recursos avançados disponíveis podem suprir barreiras e comprovar a capacidade de adaptação do ser na busca pela vida. |
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REFERÊNCIAS
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