Código: PID0966
ESTUDO DAS MUDANÇAS NA ALIMENTAÇÃO DE IDOSOS COM DISFAGIA |
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Autores: Thaís Maria Dos Reis, Tereza Loffredo Bilton, Vera Regina Vitagliano Teixeira |
Instituição: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO- PUC-SP |
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O envelhecimento, é um acontecimento natural não só orgânico e biológico, mas também afetivo, social e cultural. Neste processo acontecem alterações na funcionalidade de órgãos e estruturas corporais que afetam a alimentação, atividade prazerosa e importante para o convívio sócio-cultural. Comer é algo que freqüentemente, procuramos fazer em companhia, e esse é um traço distintivo dos humanos. Os momentos das refeições, de acordo com nossa cultura, costumam (ou pelo menos costumavam) ser realizados com a família sentada em torno da mesa. Repartir a comida é um ritual fundamental de vinculação social em que se afirmam as identidades comuns como membros de famílias ou grupos. O alimento tem uma forte representação, que vai além da satisfação das necessidades humanas, de modo que em diversas situações da vida, como em comemorações, reuniões, em geral, há presença de alimento. A alimentação e a maneira como são realizadas as refeições estão presentes na vida de qualquer pessoa, independentes da idade.
Com o avançar da idade, a propensão para doenças crônicas aumentam e também a possibilidade do sintoma disfagia. A disfagia é uma alteração da deglutição que pode trazer riscos para o estado nutricional do idoso. As neurogênicas, causadas por doença ou trauma neurológico, costumam apresentar-se em nível oral e/ou faríngeo. Existe uma classificação quanto a gravidade que varia de leve a moderada, de moderada a severa, de acordo com os sintomas apresentados pelo paciente. A disfagia por si só, altera o ciclo de alimentação, pois o sujeito ao comer costuma ter sensações e/ou reações desagradáveis como: regurgitações, engasgos, tosses, sensação de alimento parado na garganta, dor no peito, dentre outras queixas; e, por este motivo, passa a ingerir alimento em menor quantidade, ou usar recursos que facilitem minimamente a deglutição, como deixar o alimento mais umidecido (através de molhos e caldos) e até mesmo amassar os alimentos antes de colocá-lo na boca.
Para tratar são necessárias intervenções terapêuticas e mudanças na alimentação, que variam desde a consistência dos alimentos, até o modo como será ingerida, dependendo da gravidade da disfagia. Modificações em hábitos alimentares são difíceis de serem aceitas e realizadas. Há, portanto, necessidade de um espaço terapêutico visando não só a objetividade no tratamento da deglutição, mas também da subjetividade, ou seja, possibilidade de compreender o sujeito e elaborar procedimentos particulares de adaptação.
Sendo assim, o objetivo desse trabalho é identificar opiniões sobre mudanças alimentares de idosos que adquiriram doenças que tenha como sintoma a disfagia.
Material e método: Para concretização de tal estudo foi realizado uma entrevista de característica semi-dirigida direcionada aos aspectos alimentares de idosos que estão ou estiveram em tratamento fonoaudiológico e sofreram mudanças na alimentação. Foram entrevistados oito idosos com idade média de 76 anos, cinco do sexo masculino e três do sexo feminino. Todos os entrevistados apresentavam condições de saúde que lhes permitiram relatar suas histórias de alimentação e as situações alimentares pelas quais vinham passando, assim como todos já haviam passado por atendimento fonoaudiológico para terapia de deglutição, sendo que seis permanecem em atendimento, um teve alta e seguia orientações terapêuticas e um abandonou a terapia. Em todas as entrevistas, as fonoaudiólogas responsáveis pelos atendimentos estavam cientes e concordaram em ceder dados quanto á saúde e as mudanças de alimentação dos pacientes. Tais dados foram solicitados no intuito de conhecer o quadro clínico, a evolução ou piora que influenciaram nas mudanças alimentares dos entrevistados. As entrevistas foram realizadas no Ambulatório de especilidades de um hospital público e em Home-Care. As entrevistas foram gravadas em áudio, de acordo com o consentimento dos entrevistados, e transcritas para a análise. Nesta, estabeleceu-se cinco categorias com base no conteúdo das entrevistas, são elas: Regularidades nas refeições: referentes a locais e horários de realização dessas; Reuniões familiares: direcionado a companhia no momento da refeição e preparo do alimento, como também à festas, encontros e outros eventos que houvesse alimentos; Prazer na alimentação: dirigido ao gostar de comer e a situações de alimentação da juventude; .Adaptação as mudanças: no que diz respeito a alimentação atual, sentimentos negativos referentes a atual alimentação e como era a alimentação antigamente; Reconhecimento da Intervenção Terapêutica: o valor dado a terapia fonoaudiológica.
Discussão: De acordo com as duas primeiras categorias de análise, referentes às regularidades nas refeições e as reuniões familiares, os achados foram ao encontro com a literatura, ou seja, os idosos costumam ter rituais para a realização das refeições e depositam extrema importância nesta tarefa diária ou de convívio social. As refeições costumam ocorrer à mesa, em horários estabelecidos culturalmente. A categoria de prazer na alimentação demonstrou que a maioria gosta de comer e recordam com entusiasmo os momentos de alimentação na juventude. Na categoria de adaptação às mudanças alimentares grande parte apresentou boa relação com a alimentação atual. Porém, para alguns, a adaptação demorou a se efetivar. A última das categorias configurou a importância dada a terapia fonoaudiológica. Metade dos entrevistados referiu melhora no quadro disfágico, sendo assim o processo terapêutico foi entendido como auxílio fundamental para recuperação da função alimentar, e o apoio constante do profissional fortaleceu novamente a segurança nessa difícil situação.
Conclusão: Por aderir a novas possibilidades, muitos idosos aceitam bem as mudanças ocorridas com o chegar da idade e se adaptam a elas, outros compensam o que perderam com recursos diversificados para se manterem bem. A explicação ao enfrentamento das mais difíceis situações vividas é o medo da morte e, portanto, o apego à vida. Um indivíduo ao deparar-se com um grave problema de saúde, após o impacto da notícia, passa a agir diferente, isso porque a doença muda a sintonia do corpo com o ambiente. O atendimento terapêutico auxilia o paciente a encontrar novos significados para a existência ao se deparar com as dificuldades, a ponto de adquirir mais sabedoria e conseguir manter sua autonomia. Os entrevistados realizaram adaptações ou compensações, encontrando um modo particular de lidar com mudanças alimentares e mostram-se satisfeitos atualmente, mas, precisaram de tempo para digerir tais mudanças e enfrentá-las internamente.
O estudo foi aprovado pelo comitê de ética da instituição de ensino responsável pela pesquisa. |
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