PESQUISA NEUROPSICOLÓGICA EM LINGUAGEM |
Dionísia Aparecida C. Lamônica
Palestrante |
Instituição: DEPARTAMENTO DE FONOAUDIOLOGIA DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BAURU DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO |
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A Neuropsicologia é o campo da ciência que estuda as relações entre cognição, comportamento, aspectos psíquicos e emocionais e a atividade do sistema nervoso em condições normais e patológicas. Fundamenta-se nas ciências biológicas com seu substrato neural do comportamento humano1. Tem por objetivo o estabelecimento das correlações entre cérebro e comportamento nas relações com processos cognitivos, investigando o papel desempenhado por sistemas cerebrais individuais em formas complexas de atividade mental, em condições normais e patológicas2. Neste aspecto, seu interesse ocupa-se pelos processos de aquisição, desenvolvimento, maturação e situações nas quais ocorrem processos lesionais e degenerativos, fazendo interfaces com inúmeros corpos de conhecimento de outras ciências, valorizando a multidisciplinaridade, a interatividade e a interferência destas áreas.
A neuropsicologia, estudando os distúrbios das funções superiores produzidos por lesões cerebrais, investiga, especificamente os distúrbios de comportamentos adquiridos, por meio dos quais cada homem mantém relações adaptadas com seu ambiente sócio cultural.
Para Gill1 , a utilização de princípios da neuropsicológicos convida a lançar um outro olhar sobre o doente para complementar o procedimento etiológico, mas a análise detalhada do distúrbio da linguagem é que permitirá melhor compreensão da desordem e, assim, a sensibilização para a reeducação.
A história da neuropsicologia teve início com estudos sobre a linguagem, priorizando o desenvolvimento neurológico e a identificação de alterações de linguagem localizadas em áreas específicas 3.
Vendrell4 descreveu a evolução histórica da ciência Neuropsicológica desde a antiguidade clássica até a década de 90, considerada a década do cérebro, na qual foram obtidos avanços científicos extraordinários com o desenvolvimento de tecnologias e informática a serviço deste corpo de conhecimento.
Os exames por imagens, progressos da área da genética molecular, fármacos e a somatória dos conhecimentos da neurologia, lingüística, genética, psicologia e fonoaudiologia, vêm contribuído não somente para o conhecimento dos processos de normalidade e das doenças, mas também, para o desenvolvimento de novas tecnologias em todas as áreas de atenção à saúde voltadas a prevenção, habilitação e reabilitação. Poderemos testemunhar novas perspectivas também com o desenvolvimento de pesquisas com células-tronco, na busca de tratamentos para muitas doenças que afetam milhões de pessoas. Provavelmente nova era no tratamento de doenças neurológicas está por vir, e a fonoaudiologia também deve assegurar seu lugar no estudo dos padrões de normalidade e distúrbios da comunicação. Assim, espera-se que o fonoaudiólogo coopere para a elaboração e revisão de modelos teóricos existentes, contribua na construção, validação e adaptação de instrumentos de avaliação e procedimentos de prevenção, habilitação e reabilitação, participando como membro ativo em equipes multidisciplinares, colaborando para o crescimento da ciência.
Considerando que a linguagem refere-se a um complexo dinâmico de sistemas de símbolos convencionais que é utilizado de vários modos para o pensamento e a comunicação, seu uso efetivo requer largo entendimento da interação humana5. Este sistema criado na base de um desenvolvimento social longo e complexo, associado à diferenciação da evolução biológica do cérebro, os processos de decodificação e codificação são de extrema importância, quando se aborda esta trajetória. A pertinência deste corpo de conhecimento contribuindo no desenvolvimento humano é impar, pois quando retrata seus níveis, retrata a própria história da humanidade.
Pensando no processo de desenvolvimento, a aquisição da linguagem envolve inúmeros fatores, os quais devem ser analisados para que se compreenda melhor o processo de aquisição de cada indivíduo. Em linhas gerais, estes fatores dizem respeito à integridade do sistema nervoso central, ao processo maturacional, à integridade sensorial, a habilidades cognitivas e capacidade intelectual, ao processamento das informações ou aspectos perceptivos, a fatores emocionais e a influência do ambiente. A preocupação com o desenvolvimento global da criança passa necessariamente pela compreensão de suas necessidades de integração e, sob essa perspectiva, o processo deve ser revisado6 .
Desta forma, é fundamental que sejam observados todos os níveis de análise lingüística, fonológico, semântico-lexical, morfossintático e pragmático, para a compreensão do desenvolvimento e dos processos nos quais os eventos patológicos ocorrem.
Quando se pensa no processos alterados, sabe-se que o sistema nervoso central (SNC) pode ser acometido direta ou indiretamente por várias doenças, sejam elas primárias, intrínsecas do próprio SNC ou secundárias, doenças sistêmicas com comprometimento neurológico. O mecanismo da lesão é tão importante quanto a origem da doença, pois é responsável pela intensidade e duração do quadro clínico. É a partir deste conhecimento que se deve pensar sobre intervenções que visem a melhoria da qualidade de vida destes pacientes, na tentativa de minimizar os efeitos das seqüelas, otimizando o potencial de cada indivíduo 7.
Os métodos neuropsicológicos, visando o conhecimento da estrutura interna dos processos neuropsicológicos e da conexão interna que os une, no qual a linguagem é parte essencial, tendem a realizar análise detalhada das alterações que surgem, em casos de lesões cerebrais e a desvendar a maneira pela qual os complexos sistemas de processos são perturbados por disfunções. Além de revelar o substrato neurológico ao qual se vincula uma atividade particular, revela também o processo de funcionamento da atividade em questão, naquele indivíduo em particular e no grupo de indivíduos com as mesmas características comuns em estudo. Destes, abrem-se vias de análise pela qual o corpo de conhecimento é desenvolvido. Nesta perspectiva, destaca-se a necessidade da busca pelo fortalecimento de suporte teórico e o desenvolvimento de estratégias terapêuticas em termos de eficiência e efetividade.
Ressalta-se a importância da escolha de instrumentos de avaliação que possa realizar medidas subjetivas e objetivas, com tratamento estatístico que comprove significância destes dados. Tais instrumentos de avaliação referem-se não somente a observação do comportamento comunicativo, mas há a necessidade da utilização de procedimentos validados e padronizados, considerando particularidades sócio-culturais, adaptados para à realidade em questão. Considerando a importância dos instrumentos de coleta de dados cabe também discutir tais instrumentos, sua eficácia e fidedignidade na análise que se propõe, bem como as interfaces destes achados clínicos.
O enfoque desta apresentação será nos avanços das pesquisas realizadas na interface da fonoaudiologia, especificamente na área da linguagem e a neuropsicologia, abordando linhas de pesquisa, instrumentos de avaliação e avanços da pesquisa nesta área.
Apesar da importância deste tema, nesta conferencia não se pretende abordar todos os aspectos de forma aprofundada, que envolvem pesquisas neuropsicológicas em linguagem, mas pretende-se realizar uma reflexão sobre destaques considerados fundamentais para a observação cuidadosa e profunda da construção de conhecimento na área de linguagem visando o crescimento deste corpo de conhecimento, objetivando melhorias nas áreas de diagnóstico, prevenção, habilitação e reabilitação dos distúrbios da linguagem.
Referências Bibliográficas:
1.GILL,R. Elementos de uma propedêutica de neuropsicologia. In: GILL,R. Neuropsicologia Editora Santos, São Paulo, 1-20, 2002
2.NEUMANN, N.; KOTCHOUBEY, B. Assessment of cognitive function in severely paralysed and brain damaged patients: Neuropsychological and electrophysiológical methods. Brain Research Protocols.14(1)25-36, 2004
3. BENTON, A. Neuropsychology: Past, present and future, In Boller, F..; Graffman, J. Handbook of Neuropsychology, vol1 Elsevier, New York, 1998
4. VENDRELL,J Evolução da Ciência Neuropsicológica e sua importância no mundo atual. In: tecnologia em (Re)Habilitação Cognitiva: Uma perspectiva mutidisciplinar. EDUNISC, São Paulo19-26, 1998.
5.ASHA Committe on Language. Definition of Language. ASHA, 25:44, 1993.
6. LAMÔNICA, D. A. C. Linguagem na Paralisia cerebral. In FERREIRA, L. P.; BEFFI-LOPES, D.; LIMONGI, S. C.O. Tratado de Fonoaudiologia Roca, São Paulo. 77(967-976, 2004
7. FUGELSSANG, J.; ROSER, M.E.; CORBALLIS, P. M. GAZZANIGA, M. S.; DUMBAR, K. N. Brain mechanisms underlyng perceptual causality. Cognitive Brain Research 24(1):41-47, 2005.
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