Código: PTL0159
AVALIAÇÃO DE ESTRATÉGIAS PARA DESENVOLVER HABILIDADES COMUNICATIVAS VERBAIS EM INDIVÍDUOS COM AUTISMO DE ALTO FUNCIONAMENTO E SÍNDROME DE ASPERGER
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Autores: Simone Aparecida Lopes- Herrera, Maria Amélia Almeida |
Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCAR) |
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O autismo de alto funcionamento (AAF) e a síndrome de Asperger (SA) são transtornos globais do desenvolvimento que, entre outros sintomas, apresentam – em maior ou menor grau – alterações das habilidades comunicativas e sociais. Partindo da descrição das habilidades comunicativas verbais nestes dois quadros (AAF e SA) realizadas por Lopes (2000), este trabalho foi desenvolvido em duas partes, tendo elas os seguintes objetivos: para a parte 1, o objetivo foi realizar um levantamento das estratégias/atividades e situações (contextos comunicativos) que favorecessem o uso de um maior número de habilidades comunicativas verbais (HCV) e, consequentemente, uma maior extensão média dos enunciados (EME), complexidade de fala (CF) ou maior uso de habilidade narrativo-discursivas (HND) pelos indivíduos com AAF e SA em suas interações verbais com o adulto-interlocutor. Para a parte 2, o objetivo foi a aplicação das estratégias levantadas na parte 1 do estudo, de forma original ou adaptada, em três indivíduos do sexo masculino com 12 anos de idade, sendo um com diagnóstico de SA e dois com diagnóstico de AAF, para promover o aumento da EME, utilizando-se as HCV. Na parte 2, também foi verificado se o aumento da EME beneficiaria o uso de HND. Cabe aqui a definição dos termos citados: a EME (extensão média dos enunciados) seria, segundo Mayrink (1975) e Brandão (1985), a média (definida minuto a minuto) de palavras sobre o total de enunciados produzidos por um indivíduo: a CF (complexidade de fala) seria obtida através da média por minuto do número de verbos por enunciado (Brandão, 1985) e a PV (produção verbal) seria o número de enunciados produzidos por minuto (Brandão, 1985). O material para a parte 1 foi constituído das gravações em vídeo já realizadas por Lopes (2000) em sua dissertação de Mestrado. Tal material havia sido coletado em sessões de interação de cada um dos participantes da pesquisa, separadamente, com a pesquisadora (cada gravação tinha duração de trinta minutos). Para a parte 1 deste estudo foram avaliadas 5 sessões realizadas com cada um dos participantes, num total de 450 minutos de gravação para análise. Os resultados da parte 1 do estudo demonstraram que há uma reciprocidade comunicativa entre adulto e participantes e que os perfis comunicativos destes são semelhantes, já que os valores de EME, CF e PV demonstrados pelo adulto foram maiores, mas apresentaram a mesma variação, isto é, quando o adulto apresenta um valor de EME maior em determinada situação com um dos participantes, é exatamente este participante que demonstrará o maior valor de EME naquela situação com o adulto, quando comparado aos outros dois participantes. Sendo assim, a parte 1 realmente possibilitou o levantamento das atividades/estratégias/situações facilitadoras e, conseqüentemente, a organização das estratégias aplicadas na parte 2 do estudo. O material para a parte 2 foi coletado com os mesmos indivíduos do estudo de Lopes (2000), por meio de gravações em vídeo de sessões estruturadas de interação verbal entre cada participante e a pesquisadora, separadamente, durante oito meses. Para verificar os efeitos da aplicação das estratégias, foi utilizado um delineamento experimental de linha de base múltipla cruzando com os participantes, que constou de duas fases: a linha de base e a intervenção. Na linha de base, ocorreram situações espontâneas (não-planejadas) entre o adulto e cada participante separadamente, sendo que os participantes não foram submetidos a nenhum tipo de intervenção. Após a estabilidade da linha de base, iniciou-se a primeira fase da intervenção (sessões com freqüência de duas vezes por semana) com o primeiro participante (enquanto os demais eram mantidos me linha de base) e só se passou para a fase 2 da intervenção (sessões semanais) após o indivíduo alcançar o objetivo final da fase 1 (aumento de 100% na média da extensão média dos enunciados alcançada na linha de base). Quando o participante 1 já apresentava uma curva de desempenho ascendente, a intervenção foi iniciada com o participante 2, enquanto o participante 3 era ainda mantido em linha de base. Apenas quando o participante 2 apresentou curva de desempenho ascendente é que a intervenção com o participante 3 foi iniciada. Houve a diminuição gradativa do número de sessões (depois de passarem a ser semanais, passavam a quinzenais e mensais, posteriormente), para que não houvesse queda no desempenho alcançado pelos participantes, sendo que o número de sessões variou para cada um deles. As estratégias aplicadas foram divididas em blocos: no primeiro bloco, foram privilegiadas situações de conversa espontânea; no segundo bloco, foram realizadas atividades que envolviam dificuldades específicas da linguagem dos indivíduos com AAF e SA (como a fala pedante e a atribuição de duplos sentidos); o terceiro bloco eram composto de jogos de regras que promovessem uma maior clareza na exposição dos fatos e maior capacidade de argumentação; o quarto bloco foi composto de solicitações de relatos de histórias ou acontecimentos e o quinto e último bloco foi composto de atividades metalingüísticas. As sessões de interação eram transcritas literalmente e, depois, analisadas por meio de protocolos elaborados pela pesquisadora, nos quais constavam dados quantitativos e qualitativos sobre a EME, a CF, a PV, as HCV e as HND. Os resultados da parte 2 deste estudo mostraram que as estratégias propostas alcançaram, com os três participantes, o objetivo de aumentar a EME e, em conseqüência disto, promover um aumento no uso de HND. As dificuldades envolvidas neste tipo de coleta e análise de dados costumam ser a dependência contextual das produções, o tempo gasto na coleta de dados, na codificação e análise destes. Porém, entre as vantagens, tem-se que tal tipo de situação permite efetuar comparações intra-sujeito, uma abordagem mais real à linguagem do indivíduo analisado e, por fim, uma grande variedade de análises, sejam elas fonológicas, sintáticas, semânticas, narrativas e pragmáticas – diminuindo o risco de interpretações subjetivas ou de perdas de informações. Ficam sugestões para que outras pesquisas sejam desenvolvidas de forma a investigar a manutenção dos resultados obtidos em outros locais ou ambientes (que não o de terapia fonoaudiológica) e com variados interlocutores (que não sejam interlocutores habituais apenas). Trabalhos que abordem a intervenção com outros aspectos formais e funcionais na atuação com a linguagem destes indivíduos também de fazem necessários, ficando aqui a sugestão para replicação do delineamento realizado nesta pesquisa apenas em indivíduos autistas de alto funcionamento ou apenas em indivíduos com síndrome de Asperger. Outras sugestões seriam a realização de pesquisas com esta mesma população, com delineamentos de pesquisa variados, como o de linha de base múltipla cruzando com comportamentos e situações. |
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANDÃO, S.A. O ambiente lingüístico de crianças normais e deficientes mentais: uma análise funcional descritiva. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), 1985.
LOPES, S.A. Habilidades comunicativas verbais em autismo de alto funcionamento e síndrome de Asperger. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), 2000.
MAYRINK, M.L.T. Um estudo do período inicial da aquisição do Português. Dissertação de Mestrado. Departamento de Lingüística. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), 1975. |
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Contato: lopesimone@hotmail.com |
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