Código: PTM1832
A INFLUENCIA DO SORRISO GENGIVAL NO VEDAMENTO LABIAL |
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Autores: Giselle Gasparino Dos Santos, Delane Maria Rêgo |
Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE |
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Durante a situação de repouso, o indivíduo, idealmente, deve permanecer com os lábios ocluídos, isto estimula a respiração nasal, auxilia na estabilidade da posição dentária, devido à força muscular aplicada externamente pelos músculos orbicular da boca e bucinador e internamente pela ação expansora da língua. A articulação deste complexo contribui para o equilíbrio neuromuscular e realização das funções estomatognáticas. Nos casos em que, por algum impedimento estrutural ou funcional, os lábios não se tocam espontaneamente, há a necessidade de compensação com esforço excessivo de outros músculos para realizar a função; este quadro é caracterizado por incompetência labial. Nesta condição, ocorre uma diminuição de impulsos sensoriais e motores tornando o lábio superior hipotrófico e o inferior flácido; havendo a necessidade de intervenção fonoaudiológica na tentativa de alongar o lábio superior e fortalecer o inferior, além de relaxar o músculo mentual, obtendo-se assim o vedamento labial. Algumas estratégias de tratamento são utilizadas pela Odontologia, especialmente pela Ortodontia e Cirurgia Ortognática, nos casos de desproporções ósseo-dentárias que impedem o contato dos lábios. Normalmente estas terapias, após a remoção do fator estrutural causal, necessitam da complementação através da Fonoaudiologia, para o reequilíbrio do tônus e função muscular, uma vez que a memória neuromuscular mantém o padrão de contração muscular anterior. Essas intervenções são suficientes para a reabilitação do indivíduo, porém, em alguns casos, mesmo com esta abordagem multidisciplinar, a ausência de vedamento labial permanece. Tal fato implica numa limitação para o tratamento fonoaudiológico e ortodôntico, uma vez que dificilmente as estruturas osséo-dentárias irão remodelar-se sem uma pressão intra-oral. Uma manifestação observada na clínica é a dificuldade de vedamento labial em indivíduos com exposição excessiva de gengiva. Freqüentemente, estes pacientes mantêm seus lábios entreabertos em situação de repouso e, durante o vedamento labial, apresentam as mesmas características da incompetência labial, mesmo em condições dento-esqueléticas para realizar o contato dos lábios. Na clínica fonoaudiológica, este fato parece ser mais visível e a busca por uma resposta plausível, baseando-se na observação da presença de volume horizontal na região vestibular anterior, levou-nos a associar a implicação do sorriso gengival no vedamento labial. Portanto este trabalho teve por objetivo verificar a existência ou não de relação existente entre a condição de sorriso gengival de etiologia periodontal e vedamento labial, pela avaliação eletromiográfica do esforço exercido pelo músculo mentual em repouso e durante o ato do vedamento labial, antes e após correção cirúrgica periodontal. Fizeram parte deste estudo de intervenção 18 indivíduos, com idade entre 19 e 37 anos, de ambos os sexos, portadores de sorriso gengival e com dificuldade de vedamento labial. Para a realização do estudo, todos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido para os procedimentos e divulgação das imagens. O projeto foi submetido à análise do Comitê de Ética da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Foram excluídos, a partir da aplicação de um questionário, indivíduos portadores de prótese dentária, doenças sistêmicas, usuários de aparelho ortodôntico e pessoas alérgicas a anestésicos. Os indivíduos selecionados foram submetidos à avaliação miofuncional orofacial e odontológica, tendo como critério de exclusão: encurtamento do lábio superior, doença periodontal severa, obstrução nasal e deformidades ósseo-esqueléticas que comprometessem o vedamento labial, verificadas por meio da análise cefalométrica. Como critério de inclusão, os indivíduos deveriam apresentar boa saúde geral, a contração excessiva no músculo mentual para a realização do vedamento labial e sorriso gengival. Realizou-se a mensuração dos índices gengivais, caracterizando como sorriso gengival a exposição superior a 3,5mm durante o sorriso. Para a mensuração do sorriso foi utilizada a sonda periodontal PCP 11 Hu FriedyR e tomou-se como ponto de referência fixo o zênite gengival de um incisivo lateral superior e a borda inferior do lábio superior. A avaliação da condição de vedamento labial se deu clinicamente, por meio de avaliação miofuncional orofacial, sendo considerado normal quando não havia necessidade de esforço muscular compensatório. Os indivíduos deveriam permanecer com os lábios em posição de repouso para a mensuração da altura do lábio superior, sendo considerado normal quando este apresentava altura medindo entre 20 a 22 mm para as mulheres e 22 a 24 mm para os homens, medição da exposição dentária dos incisivos superiores tomando como referência 3,5 mm nas mulheres e 2 mm a menos para os homens, além da distância interlabial. O registro da face dos indivíduos se deu por meio da câmera fotográfica YASHIKA DENTAL EYE II e as fotografias foram padronizadas nas seguintes situações: repouso labial, tentativa de vedamento labial e sorriso. Para a avaliação da atividade do músculo mentual, foi realizada a eletromiografia de superfície por não ser invasiva e de resultados fidedignos. Foi utilizado o aparelho de Biofeedback Eletromiográfico portátil da marca EMG System do Brasil. Os procedimentos para coleta obedeceram às normas preconizadas pelo SENIAM (Surface Electromyograph for Non Invasive Assessment of Muscles). Os indivíduos foram instruídos a permanecerem com os lábios em repouso por 10 segundos e com os lábios vedados pelo mesmo tempo, para que os registros fossem realizados; este procedimento foi repetido 3 vezes, a fim de proporcionar fidedignidade aos resultados. Para a análise dos resultados eletromiográficos, considerou-se a média da atividade do músculo mentual, nas situações de repouso e durante o vedamento labial, nas condições pré e pós-cirúrgica. Para se obter o valor do esforço muscular realizado pelo músculo mentual para o vedamento labial, foi calculada a diferença entre a atividade eletromiográfica deste músculo durante o repouso e o vedamento labial, obtendo-se o valor de esforço para cada situação (pré e pós-cirúrgica). Após a coleta dos sinais mioelétricos brutos, estes tiveram sua amplitude avaliada pelos valores de RMS, pela contração máxima. Após as avaliações descritas, os indivíduos foram submetidos à cirurgia periodontal para remoção do excesso de tecido gengival, na arcada superior com a extensão de canino a canino, conforme descrição apresentada em publicação. Como os dados não apresentam distribuição normal , foi utilizado um teste não paramétrico, o Wilcoxon, usando como índice de significância p>0,05. Apenas os dados referentes às medidas de lábio superior e exposição dentária apresentaram uma distribuição normal, podendo aplicar-se o teste paramétrico T de Student. Clinicamente foi possível verificar mudança na condição de vedamento labial, onde o lábio superior apresentou-se em posição mais inferior e o músculo mentual com menor hiperatividade, observada pela diminuição do aspecto de tensão na região do mento. Ao serem analisados os resultados da eletromiografia, no ato do vedamento labial, o músculo mentual apresentou a média de 27,64 RMS para auxiliar no vedamento labial na condição pré-cirúrgica, e após a correção cirúrgica a média amplitude dos potenciais de ação diminuiu significativamente (p<0,05) para 6,46 RMS, indicando que houve diminuição da atividade do músculo mentual como compensação para realizar a função de vedamento labial. A tensão do músculo mentual, apesar de ter diminuído, não foi totalmente eliminada, pois nenhuma intervenção fonoaudiológica foi realizada. Pode ser concluído que o vedamento labial é influenciado também pelo volume gengival e a terapia cirúrgica periodontal para o sorriso gengival, além de benefícios estéticos apresenta implicações funcionais pela sua influência no padrão de vedamento labial. Isto implica numa mudança dos paradigmas nos planejamentos terapêuticos odontológicos e fonoaudiológicos. Como seqüência deste trabalho, será realizada a intervenção fonoaudiológica em um grupo de pacientes após a correção cirúrgica, a fim de se verificar a eficácia de tal atuação nestes casos. |
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