Voltar

Notícias

NOTÍCIAS

 

SOBRE COMUNICAÇÃO, IDENTIDADE, DIVERSIDADE E INCLUSÃO

Queridos colegas fonoaudiólogos,

Quando definimos a visão da gestão da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia para os próximos três anos, e incluímos nela as palavras “convergência, excelência e referência”, tínhamos uma certeza e a intuição de que elas norteariam a construção de uma Fonoaudiologia nova, para um novo tempo. Não porque o presente - agora já passado - não era bom ou tivesse falhas, mas desejávamos profundamente avançar e construir um futuro real, preparando um terreno fértil onde a Fonoaudiologia do futuro pudesse crescer exponencialmente e onde cada fonoaudiólogo, ou indivíduo com necessidades relacionadas à comunicação ou às funções orofaciais, pudesse encontrar um lugar privilegiado de acolhimento, desenvolvimento e inspiração.

Logo após  a nossa posse, o mundo foi assolado por uma pandemia que, além dos impactos avassaladores na saúde da população, colocou em evidência realidades aparentemente escondidas sob um véu. Entramos em um momento histórico, em que as palavras comunicação, identidade, diversidade e inclusão parecem situar as pessoas em pólos ou talvez em um contínuo que vai de um posicionamento rígido ao preconceito velado e ao racismo estrutural e institucional. De modo especial nas últimas semanas, a dura realidade histórica vivenciada pelos negros tornou-se, mais uma vez, foco dos debates. Não somente enquanto item de pauta, mas na forma de ações desoladoras sobre seres humanos.

Dessa vez, enquanto dirigentes de uma Sociedade Científica, fizemos o exercício de olhar para o entorno e tomarmos para nós a responsabilidade de atuarmos como agentes de mudança enquanto profissionais que tocam em um elemento sagrado na condição de “ser humano”: a comunicação.

A nossa profissão é totalmente associada à conexão, ao reconhecimento e desenvolvimento da comunicação como uma via essencial de manifestação de pertença, participação e autodeterminação. Nesse contexto, a cultura transcende todos os aspectos da comunicação e, por esse motivo, promover a nossa competência cultural (ou multicultural) e a segurança cultural dos nossos clientes/usuários é uma prioridade. Essa competência envolve a nossa capacidade de identificar e desafiar os pressupostos culturais, valores e crenças, e desenvolver empatia por essas realidades. Mais que isso, exige de nós um pensamento reflexivo para ajustar nossos pensamentos, nossas ações e o nosso discurso para assegurar que o cliente sinta que os seus valores sociais e individuais são respeitados. Indivíduos de diferentes raças, etnias, gêneros, classes sociais, localizações regionais e grupos minoritários, todos, absolutamente todos, devem ter o direito pleno a comunicar sua individualidade e não ser tolhido quanto à possibilidade de desenvolvimento, participação e pertença em uma comunidade.

Enquanto Sociedade Científica que tem como um dos principais objetos a comunicação humana, não podemos ficar calados. Precisamos fazer ecoar a nossa voz interna e externamente à nossa profissão em todos os cenários que ocupamos como profissionais e cidadãos. Gostaria de convocar cada colega para olhar além de si mesmo, para responder  à diversidade na comunidade e construir diversidade na profissão. A SBFa renova o seu posicionamento de advogar de modo forte, inspirador e corajoso a favor da otimização da função, participação e qualidade de vida relacionada à comunicação.

Precisamos romper com todo o tipo de ação racista, de modo especial o racismo estrutural e institucional na nossa profissão. Onde estão os fonoaudiólogos negros? Onde estão os fonoaudiólogos indígenas? Onde estão os fonoaudiólogos que representam as classes minoritárias? O quanto as vozes das minorias ecoam dentro da nossa profissão?

Nesse sentido, enquanto presidente da SBFa, gostaria de dar voz a esses colegas e aos alunos negros que estão na nossa profissão. A SBFa apóia todas as manifestações de cultura e identidade na comunicação, assim como acolhe cada pessoa que necessita do nosso fazer profissional para que a sua comunicação se torne um instrumento de expressão autêntica da sua identidade e uma via de desenvolvimento e participação na sociedade. Por outro lado, nós repudiamos todo ato discriminatório, seja ele explícito ou velado, que fira a pluralidade da nossa expressão enquanto ser humano.

Uma profissão só alcança a sua plenitude quando se torna constituída por diversidade, por diferentes olhares que, em diferentes culturas e histórias, agregam uma compreensão que transcendente acerca dos dilemas, desafios e soluções do ser e do fazer fonoaudiologia em cada recanto deste país. O sonho da “Fonoaudiologia para todos” só se faz em uma “Fonoaudiologia com todos”, onde todos são bem-vindos e, mais que isso, onde todos têm acesso amplo à participação em qualquer ponto da estrutura organizacional e de carreira na profissão. Nesse contexto, enquanto diretoria da SBFa, queremos convocá-los à ação, construindo um movimento em favor da diversidade e contra o racismo estrutural e institucional na nossa profissão - e em todos os cenários onde estamos inseridos.

Inicialmente, convidamos todos os colegas e estudantes de fonoaudiologia negros a nos enviarem um e-mail (socfono@sbfa.org.br) compartilhando seus desafios, suas histórias, suas batalhas e suas conquistas. Queremos fomentar uma série de discussões sobre comunicação, diversidade, identidade e inclusão, e gostaríamos de dar o protagonismo a quem realmente pode nos ensinar acerca desse tema.

Além disso, decidimos pela criação de uma Comissão de Comunicação e Diversidade, que terá por objetivo estruturar pesquisas, ações e soluções voltadas à compreensão, promoção e suporte à diversidade na nossa profissão e em todos os espaços onde estamos inseridos. Essa comissão será constituída por fonoaudiólogos que representem os diferentes grupos minoritários, sejam eles raciais, étnicos, de gênero, classe social ou localização regional.

A palavra “convergência” não está por acaso na definição da nossa visão para essa gestão. Ao contrário, ela diz da nossa disponibilidade e do exercício diário de acolher e promover a diversidade, dando-lhe a condição que lhes é devida. Esse é o nosso convite: retornar ao nosso interesse comum, fazer uma “Fonoaudiologia para todos e com todos”, onde a comunicação, a tecnologia e a humanização convergem para desenvolver melhores cidadãos para esse mundo.

Leonardo Lopes
Em nome da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia.

  • notícias